13

31 1 0
                                    

Sinto-me como se estivesse ao lado de um desconhecido, mas afinal, o que é Calum? Será ele um completo conhecido ou um tremendo desconhecido?
Não é o momento certo para estas reflexões.
Quando olho para o lado, lá está ele. Como da última vez. Concentrado na sua condução, com a testa franzida e os lábios húmidos de saliva.
O shopping já estava no alcance da nossa visão e os meus joelhos tremiam de nervosismo e felicidade simultaneamente.
Quero tanto voltar a sentir o abraço de Daisy e ouvi-la sussurrar ao meu ouvido que me ama, quero sentir Mary e ouvi-la dizer que tem orgulho em mim. E quero sentir Clarke que por muito que não fale a meio dos abraços, o seu aconchego do tudo.

- Ansiosa para ver as tuas amigas? - Perguntou-me.

- Muito. Deus. Estou com tantas saudades delas. Elas são o meu porto de abrigo.

- Eu tentei sê-lo e não consegui. - Baixou o rosto. A melancolia foi instalada no seu olhar, nas suas expressões. - Mas falamos disso mais logo. - Encarou-me com uma ligeira frieza. - Fica sabendo que tenho planos para nós!

- Não cries planos para "nós", Calum. Primeiro de tudo, e se é isso que estas a querer fazer, recupera os teus amigos primeiro. Aqueles que já estavam cá antes. Depois, concentra-te nos estudos. Eu venho por acréscimo um dia qualquer. - Brinquei.

O telemóvel toca. Penso que é o meu, mas logo Calum mete a mão ao bolso e identifica que é o seu que está a tocar.

- Tracy. - Ele diz com um sorriso. Um sorriso que eu notei ser falso. Ainda ele diz que está feliz. - Olá amor. Estou bem e tu? Ainda bem. Esta noite? Hum... Acho que não posso. - Respondi-lhe duvidoso, olhando para mim como se estivesse a pedir clemência. - Não, amor! Não. Eu não te estou a trair! - O tom de voz dele elevou-se, usando uma expressão e um tremor de voz preocupado. - Sim, estou a ir para casa.

Como sempre, Abanei a cabeça em género de negação, reprovando esta atitude. Ele está feito maluco a desculpar-se por coisas sem ter culpa. Ele está a levar com a estupida ideia de Tracy de que ele a trai.

- Vou sair. - Disse em linguagem labial. Calum estendeu o braço em sinal de proibição, para que eu esperasse.

- Ok. Ok. Cinco minutos e vou ter contigo. - Respondeu-lhe dando fim ao telefonema. - Desculpa, era a...

- Tracy. - Revirei os olhos. - Eu ouvi. Vai ter com ela. A rainha chama. Mas bem, eu tenho de ir. O dia pode estar bonito agora, mas o céu puxa para uma bela tempestade e eu quero estar em casa quando a trovoada se apoderar do céu. - Voltei a revirar os olhos. Podia parecer ironica, mas estava a ser verdadeira, pois o meu medo da trovoada é agudo. - Medos são medos, não é? Cada um tem o seu, Calum. Talvez um dia me expliques os teus.

De nada me servia dizer mais alguma coisa quando tudo aquilo que eu disse até agora se evaporou rapidamente na mente dele. Tudo o que eu disse para ele serviu de zero. De nada. E isso só me faz desiludir ainda mais e pensar que eu fui tão burra ao achar que ele podia ser diferente de que qualquer um que algum dia apareceu à minha frente.

É-me impossível explicitar aquilo que me percorre por dentro e me arde no coração. É algo forte. Muito forte, isso eu sei. Mas o que será em concreto? Como posso explicar? É como... É como se eu o odiasse tanto, mas ao mesmo tempo não o conseguisse fazer por completo porque... Porque é o Calum e ele transmitiu-me confiança desde o princípio.

Saí do carro sem mais justificações. Estava em frente ao shopping preparando-me para ir ter com as minhas amigas. Era isso que importava agora. Mais nada.

- FAITH! - Um empurrão trouxe-me de volta para a realidade, acompanhado por um grito. Distingui que eram três vozes distintas. Daisy, Mary e Clarke.

PAPER SOULS • CALUM HOODOnde histórias criam vida. Descubra agora