Corro em círculos, numa volta vinda de mim para mim. Paro. Reflito. É difícil. É o Tyler. Quero-me mexer, sair da cama, mas tudo o que faço é deixar os meus joelhos tremer. Ele ainda me afeta.
Tento buscar alguma resposta para ele, mas o que poderei dizer? Que estou morta de saudades dele e que contínuo perdidamente apaixonada por ele, mesmo que ele continue com outra?
Oh, Faith, Faith, tens dezassete anos. Não devias estar a estragar a tua vida. A voz de Daisy invade a minha cabeça. Já não falo com ela há algum tempo e o meu coração aperta. O que ela faria na minha situação? Provavelmente não responderia. Essa é a minha maior vontade agora. Deixar o assunto pendente, não responder, apenas deixar passar. Doi-me demasiado a barriga para estar aqui a pensar na morte da bezerra. Ou na mensagem de Tyler. Ele lembrou-se de mim.
Ainda fico euforia apenas por pensar que ele se lembrou de mim. Ele ainda sabe que eu existo. Aqueles olhos castanhos mel ainda permanecem na minha cabeça, tanto quanto os meus verdes esperança permanecem na dele. Oh, que ilusão.- Faith, queria. - A minha mãe entra no quarto de repente. Tive tempo de pousar o computador no chão. Não me apetecia nada estar lá, depois disto. - Estás bem?
- Sim. - Encolho os ombros. - Dentro do possível.
- Está aqui uma pessoa que te quer ver! - Bela disse exaltada e com um sorriso. Ariel. - Se quiseres alguma coisa, tens tudo na cozinha amor. Vou sair. - Completa, quase abandonando o quarto.
- Mãe! - Grito. Ela volta para trás. - outra vez? - Pestanejo os olhos, mostrando a minha expressão melancólica.
A mulher, morena e de estatura pequena, abandonou por fim o lugar. Olhou-me, antes, como quem diz: "Não tens nada que te meter na minha vida." Suspiro brevemente, triste com o rumo que ela está a tomar.
Baixo o rosto e espero que Ariel entre. Iria ser a coisa mais próxima de consolo que iria ter agora.- Ei... Hum... Então, Faith. - Ouço uma voz masculina. Ouço a sua voz.
- Ca... Calum? - Engulo em seco surpreendida. - A minha... A minha mãe deixou-te entrar? - Questiono perplexa, pestanejando pouco os olhos. Oh, ele está aqui.
Este vai e vem de coisas continua a dar cabe de mim. É agora, é depois. É ele que está bem comigo e mal com a namorada, ou bem com a namorada e mal comigo.
Nas aulas não me dirigiu a palavra, e agora está aqui. O quê?- Alguns dizem que é esse o meu nome, sim. - Sorri para mim e eu juro que congelei um pouco. - Como estás? - Ele pergunta, olhando-me com pena.
- Bem, dentro dos possíveis. - Repito a famosa resposta que dei à minha mãe.
Ele deitasse ao meu lado, sem mais nem porquê. Tira as sapatilhas e aconchegasse com os lençóis, mantendo um contacto mental comigo que dizia: "Espero que não te importes." Gostava que ele me ouvisse a dizer: "Claro que não."
- Sobre ontem... - Calum dá início a um possível discurso.
- Ah! - Gemo de dor e agonia, irónica, esperneando-me na cama. - Deixo-me morrer em paz. ninguém me deixa morrer em paz. - Fez os olhos e logo os abro, com um sorriso na cara. - Sobre ontem... Desculpa.
A minha mão, pousada sobre o colchão, foi tomada por Calum, entrelaçando ele os seus dedos nos meus. O meu coração disparou. Ele queria sair pela boca fora.
Ninguém sabe o quão "precioso" o meu "desculpa" pode ser. Ninguém sabe as poucas vezes de que eu Pedi desculpa. Ninguém sabe que eu nunca o faço, a menos que seja num extremo qualquer. Este é o meu extremo. Não o quero perder.- Está tudo bem. Só acho que não devias ficar chateada por eu estar bem. - Ele engole em seco. Novamente andamos em círculos. Novamente ele volta a dar a entender que é feliz. Ele não é.
- Tens razão. - Fui na conversa dele. Não havia volta a dar. - Desculpa. - Digo baralhada. Para uma pessoa que não costuma pedir desculpas, é bem difícil fazê-lo agora.
[...]
A tarde parecia correr. Com ele aqui até as minhas dores pareciam inexistentes. O meu computador foi "sequestrado" por ele, para jogar FIFA.
- Merda, merda. Estou a perder. - Diz por entre dentes. O seu telefone começa a tocar. Previsível. Tracy. - Merda. - Grita mais alto. Assim vou perder! Ahhhhh! Porra! - Ele diz quando o outro jogador marca o golo da sua vitória, logo a derrota de Calum.
Impossível era não rir das suas expressões.
Então, ele pousa o computador sobre o meu colo e atende o telemóvel, revirando os olhos. Ainda diz ele que é feliz.
Admiro-o de perfil. O seu rosto possuía os mais belos traços que podiam ter sido feitos. Parecia completamente esculpido. O nariz é desproporcional ao rosto, mas se assim não o fosse que encanto teria esta cara de bebe? Provavelmente todo o encanto menos este.As suas expressões iam mudando. Do bom para o mau, do normal para o choque. Ele parecia estar à toa, sem uma única palavra a ser pronunciada por aquela boca.
- Sim, sou eu. - Ele diz aterrorizado, por fim. - Ok, obrigado. Eu vou já para aí. - Acaba assim, desligando a chamada. - Tenho de ir. - Sussurra ao mesmo tempo que se senta no canto da cama a calçar as sapatilhas.
- Que se passa? - Franzo uma sobrancelha, achando totalmente surreal este acontecimento. Do nada.
- Nada. Depois falamos. - Arqueia-se assim, sobre a cama, sobre mim, aproximando-se. - Ficas bem?
- Sou capaz de ficar. - Pouso a mão em cima da barriga, tentando com isto aliviar as dores.
- Mais gelado? - Questiona com um pequeno sorriso. O que não fora bastante para apagar a sua preocupação.
- Quem me dera. - Gargalhei, mas logo parei. Porra, nem rir posso.
- Os treinos de futebol começam logo à noite, por isso antes do treino eu passo por aqui e trago-te umas coisas. - Beija-me a testa, calmamente, e acaricia-me e o cabelo com cuidado. - Descansa.
A maneira como ele abandonou a minha casa deixou-me instável. Capaz de não pregar olho, ainda que estivesse com a maior moca de sono de sempre. A preocupação no seu olhar, o tremor nas suas mãos, o frio na saliva do seu beijo plantado, deram-me a entender que algo mais se passava do que uma simples chamada da Tracy.
Deixo-me cair num sono tranquilo após a saída dele. A noite passada, ultrapassada com insónias e pesadelos, deixou-me cansada e a desejar o quente dos lençóis novamente. A minha instabilidade mental, derivada da discussão com o Calum, não me permitiu ficar bem. Dormir, descansar bem.Luto contra o sono imenso. A verdade é que perco esta batalha. O meu corpo pedia por descanso e eu resolvi dar-lho. Não almocei, não lanchei, apenas me deixei dormir por umas longas horas, até acordar com um sobressalto causado pelo barulho estridente de uma chamada telefonica. Nada melhor para me acordar e deixar de mau humor.
- Faith! Não vais acreditar! - Gritava Ariel do outro lado da linha, deixando logo que eu a reconhecesse sem ter de olhar para o nome no visor. - A Tracy está no hospital!
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PAPER SOULS • CALUM HOOD
FanficFaith e Calum. Adolescentes com passados com arestas para limar. "Ele só queria ser meu amigo, mas eu escolhi amá-lo." Plágio é crime Copyright © 2015 All Rights Reserved by Joana Nunes