- Faith, tu não tens de chorar, sabes? - Calum aperta-me contra o seu corpo num abraço aconchegante. - Eu sei... eu sei que é um tormento para ti, meu amor, mas tu vais conseguir ter filhos. Tu vais ter uma família linda.
- E se... não der? - Pergunto por entre soluços de choro, agoniantes, estridentes, sufocantes. - E se eu for discriminada ou ficar sozinha por nenhum homem me querer porque eu não posso ter filhos?
Calum suspirou longamente. Não sei se ele estava farto de me ouvir ou não sabia o que dizer. Apenas me encarou por uns breves momentos. Sentou-se ao meu lado, na cama, tomou o meu rosto nas suas mãos e olhando-me bem nos olhos, Sorriu.
- Vou ser honesto contigo. - Profere. - Tal como o teu sonho, o meu é ser pai. Ter uma família grande, ser feliz, ser amado. Mas Faith, se tu não conseguires não importa. Eu posso ser feliz só contigo. Eu posso estar só contigo. Podemos adotar uma criança. E sim, eu estou a fazer estes planos contigo pois é contigo que me vejo daqui a uns anos e com mais ninguém. É contigo que vejo o paraíso, a felicidade. Os nossos corações estão partidos, as nossas almas também. Mas só nos cabe a nós, metade de cada um, de nos recompormos. Eu... Eu estou aqui por ti e para ti, mesmo que não consiga ter filhos. Mesmo que me afastes. Mesmo que não penses no teu futuro comigo. Mas, Faith, eu garanto-te que é comigo que vais ficar.
Neste instante o mundo parou. Eu estava a generalizar a falar de outros homens quando ele se pós no lugar de qualquer um que eu possa ter imaginado. Eu estava a fazer isto porque não tenho a certeza do futuro por muito que as minhas ambições sejam tê-lo. Nós somos novos demais. O que é suposto pensar? Que desde os dezassete anos vou conseguir ficar com alguém até aos meus setenta anos? Não sei, iria ser um achado nos dias de hoje.
- Palavras não podem explicar o quanto te amo, Calum. - Murmuro, recostando a minha cabeça contra o seu pescoço. - Eu mereço isto?
- Tu mereces tudo, Faith.
Sentei-me, frente a frente com ele, sobre os meus pés. Pousei as mãos sobre as coxas. Calum beijou-me lentamente dando-me oportunidade de saborear aquele momento. As pontadas no meu coração são fortes, mas agradáveis porque são de felicidade e bem estar. São aquelas borboletas que sinto na barriga que me fazem entender que é tarde demais para voltar atrás. Talvez tenha sido tarde demais a partir do momento em que vim para Sydney, porque foi aí que tudo aconteceu. Foi em Sydney que me apaixonei.
Para estragar o momento, que não tivera mais do que cinco segundos, a minha mãe entra de rompante no quarto com o telefone na mão. A pequena senhora abrigava um sorriso contagiante. Desde à muito que não me recordo de ver este brilho no olhar dela e esta felicidade transcendente.
- Faith, é o teu pai. - Ela estende o telefone para mim, e enquanto mo entrega cumprimenta Calum por entre sussurros.
- Pai? - Chamo, ainda meia com medo. Já há algum tempo que não falamos e como o temperamento do meu pai não é dos melhores, julgo que será bom ir apalpando o terreno.
- Meu anjo! - Ele felicita. - Desculpa por não te ter ligado nestes dias. Tenho tido muito trabalho.
- Oh... está bem. Não há problema. Eu também tenho andado de lá para cá com adaptações e a escola. No inicio foi difícil. - Confesso-me.
Ao mesmo tempo levanto-me indo até à janela. Enquanto falo por chamada, principalmente com o meu pai, não consigo estar parada. Desde pequena. Não sei o porquê. Deve ser psicológico. Afinal, tudo em nós é psicológico. Não é mesmo? O medo, a dor, o amor. Todos dizem que é psicológico. Não sou apologista dessa ideia. Todos sentimos algo, e não é apenas psicologicamente.
- Fizeste muitos amigos? - Pergunta-me. Ouço-o sorrir.
Uma das coisas que sempre gostei, tanto no meu pai como na minha mãe, foi do sorriso. Da gargalhada. Da boa disposição. Talvez seja por isso que em tempos eu fui o sol dos meus amigos, porque eu iluminava-os nos dias de escuridão com a minha alegria, ainda que estivesse triste com algo. Eu tinha sempre um sorriso no rosto, uma piada qualquer, uma palavra que os levava a sorrir também.
- Sim. Alguns. - Deixo um pequeno sorriso de satisfação fluir.
Falar com o meu pai ainda me acalma como antes, porque me deixa de consciência tranquila. Não sei explicar, mas sempre que não falo com ele fico sempre com a mente pesada.
A figura do senhor, com os seus quarenta e poucos anos, alto, - mas mais baixo que Calum - considerado um barbudo em metade dos dias do ano, e cabelo curto da cor do meu, parecia passar-me em frente aos olhos.
A barba dele é extremamente curiosa e engraçada. Quando eu era pequena punha-me no colo dele a contar quantas cores ele tinha para lá misturadas porque uns pêlos são brancos, outros pretos, alguns loiros e uns tantos ruivos.
Olho para trás, para Calum, que estava a falar alegremente com a minha mãe. Estranhei. Arqueei uma sobrancelha e ergui um sorriso de satisfação por os estar a ver darem-se tão bem. Continuei, no entanto, a conversa com o meu pai que me dissera algo que me deixou entusiasmada.
- Já estive a falar com a tua mãe. Eu vou amanhã aí. Não tens aulas de tarde, pois não?
- Não.
- Otimo! Vais passar a tarde comigo. Eu, os teus avós e os teus tios vamos aí amanhã.
Oh meu Deus! Estou tão feliz por vê-lo finalmente. Independentemente do nosso tipo de relação, não muito próximo, pai é pai e eu amo o meu. Tenho saudades até de quando ele berrava comigo, embora saiba que da primeira vez que ele o fizer eu vou revirar os olhos e ficar chateada e farta.
- E os primos? - Questiono, entusiasmada. Quero muito ver os meus pequenos amores.
- Também vão, claro. Vamos passar por casa da tia Tris, e passamos lá o dia.
A tia Tris é uma senhora, pertencente à minha avó paterna, que é minha tia em segundo grau, porém eu tenho um grande carinho por ela. Falta de tempo, coragem ou localização foram as coisas que me levaram a ainda não a ter ido ver desde que aqui estou. Sei que ela mora aqui, em Sydney, mas de resto nada mais sei.
A pequena senhora, de cabelos completamente brancos, sempre que podia enquanto eu era criança, viajava até Melbourne para me ver. Por vezes acho que ela acompanhou mais o meu crescimento do que quem devia realmente.- Isso é tão bom! Tenho tantas saudades vossas. - Digo, contendo o choro.
- Eu também, Faith. - Ao pronunciar, tão calmamente quanto a brisa lá fora, o meu pai tentava não chorar. Tal como eu.
Era esquisito pensar que ele ia fazer. Em toda a minha vida - que por sinal não é muito longa - só o vi chorar uma única vez. Já o ouvi uma ou duas embora nada seja igual ao ter a percepção do choro. Ao ver as lágrimas escorrerem-lhe pela cara. Deverá tal coisa me afetar tanto? Pois isso afeta.
- Amo-te. - Ele diz.
- Eu também te amo muito, pai. - Um aperto no peito faz-me agarrar a este. Olho para lá para fora, mirando o céu tão azul e bonito, ainda que sem estrelas.
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PAPER SOULS • CALUM HOOD
Fiksi PenggemarFaith e Calum. Adolescentes com passados com arestas para limar. "Ele só queria ser meu amigo, mas eu escolhi amá-lo." Plágio é crime Copyright © 2015 All Rights Reserved by Joana Nunes