É o sétimo dia aqui fechada. As paredes começam a apertar cada vez mais e passo mais horas a dormir do que acordada. Se, até há dois dias atrás, me mantinha ocupada com a escola virtual, essa realidade acabou. O colégio suspendeu todas as atividades e eu começo a dar em doida sem nada para fazer, com o agravante de estar sem o Lewis. Ontem de manhã foi chamado para o primeiro dia com a equipa da Mercedes e não faço ideia quando é que ele vai regressar.
Por um lado, posso sair do quarto que não vou ter problema nenhum em cruzar-me com ele ou com os nossos cães, que ficaram em casa da vizinha da frente – a mãe do Lewis. Ao estar fechada no meu quarto, dei por mim a pensar, inúmeras vezes, nas mudanças que poderia fazer nele, mas que não faço por me fazer sentir ainda mais próxima do Lewis.
Está demasiado silêncio para um dia normal nesta casa e é horrível como me começo a sentir tão sozinha. A música tocava baixinho no meu quarto, sendo a minha companhia neste momento. Mas estou realmente muito farta de aqui estar... levantei-me num ápice, abrindo a porta do meu quarto. Quase me sinto a quebrar uma lei qualquer por estar a fazer isto, mas preciso de ir apanhar ar. Desci rapidamente na direção da sala, surpreendendo-me por estar tudo tão arrumado.
Depois de abrir a porta de correr que dava acesso ao pequeno jardim, saí para o exterior. Está um dia cinzento, mas sair cá para fora já tornou o meu dia melhor. Depois de me sentar num grande puf cinzento, perdi a noção do tempo a sentir o fresco bater-me no rosto.
- Be... - assim que ouvi a voz do Lewis, parecia que o meu coração queria saltar boca fora. Não esperava que ele regressasse tão cedo...
- Não pensei que voltasses já hoje – virei-me de barriga para baixo, vendo-o encostado à janela já fora da casa.
- Estivemos só a ver que melhorias foram feitas ao carro – sentou-se no chão, ficando a olhar-me. Estamos muito afastados um do outro e, na verdade, tinha imensas saudades de estar com ele – não se prevê que a competição comece assim tão cedo.
- Nós vamos morrer de tédio - riu-se.
- Não digas isso... mais uns dias e já podes circular à vontade e eu posso, finalmente, fazer o teu plano de treinos.
- Acho ótimo! – por acaso já lhe tinha pedido imensas vezes para me ajudar a treinar mais – eu não faço nada a não ser comer.
- Preciso da tua ajuda.
- Sabes que eu não me posso aproximar de ti, certo?
- Sim, mas podes ficar à distância.
- Diz-me – apoiei os cotovelos no puf, apoiando o meu queixo nas palmas das mãos.
- Quero mudar o meu capacete... tipo totalmente.
- Caiu um santo do altar, só pode – ele riu-se, deixando-me apenas a contemplá-lo. Tenho a certeza que ir para os seus braços vai ser a primeira coisa que farei assim que sair desta quarentena – o que é que tens em mente?
- Queria assim uma coisa dentro do estilo do meu, mas diferente.
- Então não queres mudar nada... só a cor queres ver?
- Não só... quero manter algo a homenagear o Senna – o seu maior ídolo – estava a pensar na figura do Cristo Redentor na parte de trás com Still I Rise (Ainda assim me ergo) escrito – sorri assim que ele disse o nome do poema da Maya Angelou. Quando, há uns bons anos, me pediu sugestões de leituras, indiquei-lhe este poema por o achar indicado para ele.
- É um bom começo para essa mudança. Só ainda não percebi porque é que precisas da minha ajuda...
- A fazer o esboço do desenho... - mexia com uma mão na outra, percebendo que estava com um certo nervosismo a falar comigo.
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Always, Be
FanfictionBeatrice O universo colocou-nos uma pandemia pela frente e, com 17 crianças à minha responsabilidade, o medo é constante. Poderia sentir-me a pessoa mais aterrorizada no mundo, mas sei que ele está lá para mim. Ele. O meu melhor amigo. A pessoa que...