Always, Be

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LEWIS

- O que é que se passa? – já tinha percebido que a Angela me olhava há algum tempo, sabendo que não iria demorar até me fazer esta pergunta.

- Eles propuseram que renovasse o contrato – tinha acontecido no fim da corrida do fim de semana passado, em Portugal. Três dias se passaram, estamos em Espanha e não consigo parar de pensar no que devo ou não fazer.

- E já tens alguma decisão tomada?

- Não e duvido que a tome nos próximos tempos. Preciso de estar com a Be, falar sobre tudo isto e o que é que isso vai implicar no nosso futuro. Eles querem oferecer-me mais dois anos, e eu sinto-me perfeitamente capaz de o fazer..., mas eu vou ser pai – ainda é surreal pensar nisto, quanto mais dizê-lo em voz alta – eu tenho de pensar na minha família antes de qualquer coisa.

- Tens tempo para pensar, de certeza que eles compreendem a situação.

- Eu sei que pela Be, ela vai dizer para eu continuar e que vai trazer o miúdo a todas as corridas – a Angela riu-se – mas eu não sei se é essa a vida que eu lhes quero dar. As coisas estão a tornar-se muito intensas em cada corrida que passa e tu, melhor do que ninguém, sabes que eu não tinha medo de entrar no carro...

- Agora tens?

- Acho que não é medo, porque acabo por desligar de algumas coisas dentro do carro. Mas penso mais, em cada curva, em cada disputa mais apertada, que tenho duas pessoas para as quais vou querer regressar sempre.

- Eu tenho a certeza de que tens em casa uma mulher que vai fazer, de tudo, para te continuar a ver a correr – sorri, sabendo que é mais do que certo que a Be seja a primeira a empurrar-me para uma secretária para assinar o prolongamento do contrato – e eu, que também te conheço como as palmas das minhas mãos, sei que não é este ano que te vais preparar para acabar carreira.

- Eu sei que posso continuar a correr por mais dois anos, que pelo menos mais um era aquilo que eu mais queria..., mas tenho de garantir que vamos estar todos na mesma página.

- Espera até chegarmos a casa, falas com a rapariga mais incrível deste planeta e tomas a tua decisão. Seja ela qual for, tens-me sempre no teu canto, sabes disso.

- Obrigado, Ange.

Estar um fim de semana longe da Be já era insuportável, agora torna-se angustiante. Para além de que, para esta ronda de corridas em dois fins de semana consecutivos, estivemos uma semana sem ir para o Mónaco. Apenas me tenho de focar que só faltam quatro dias para voltarmos a estar juntos.

O meu telemóvel começou a tocar, sendo a Be a querer fazer uma videochamada.

- Alguém acabou de acordar, de certeza – disse para a Angela, antes de atender a chamada, fazendo com que ela se risse. E claro, assim que a Be apareceu na imagem, não havia margem para dúvidas. Estava deitada na nossa cama, com o cabelo ligeiramente despenteado e, mesmo com os olhos fechados, algo me dava a entender que ela não tivesse passado a melhor das noites – baby mama – esboçou aquele que, provavelmente, poderia ser o seu melhor sorriso neste momento – má noite? – apenas me assentiu que sim com a cabeça, mantendo-se em silêncio – mas estás bem, Be?

- Estou – abriu aqueles seus lindos olhos, com toda a calma do mundo, suspirando – eu só sei que, se isto não passa, eu vou passar mal até a coisinha nascer.

- Ela que beba o chá... - comentou a Angela, fazendo com que a Be se risse.

- Eu acho que já nem o chá faz nada, Angela.

- Tia Angela a entrar em ação – agarrou no meu telemóvel, sentando-se ao meu lado para tomar conta da situação – como pessoa que já teve três gravidezes muito diferentes umas das outras, posso dizer-te que isso ao fim do primeiro trimestre passa por completo. Claro que depois começas a queixar-te das pernas cansadas, dos pés inchados, da dor constante nas costas e daquele pequeno pezinho a enfiar-se nas costelas – a cara de pânico da Be não podia ser mais esclarecedora.