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BEATRICE

Não conseguia imaginar situação mais embaraçosa do que esta. Se, por um lado, me sinto feliz por ter os meus pais na mesma sala do que eu e lhes poder, finalmente, dizer tudo o que se tem passado na minha vida, ao mesmo tempo não sei como o fazer. Porque, de certo modo, não vejo nos olhos deles qualquer sentimento para com a situação.

A minha mãe olha para todos os lados, menos para mim e o meu pai está ao canto da sala em chamada para resolver algum problema que surgiu na vinha.

- Aqui está – o Lewis regressou à sala, vindo da cozinha com um tabuleiro nas mãos que acabou por pousar em cima da mesa de centro – o seu chá, Alice – disse, entregando o chá à minha mãe e olhando para mim – o teu pequeno-almoço – pegou no tabuleiro, colocando-o em cima das minhas pernas – trouxe as frutas todas que consegui – sentou-se ao meu lado, depois de me dar um beijo no topo da cabeça.

- Obrigada – ele é o homem mais incrível que pode existir à face da terra. Perante toda esta situação, ainda se lembrou de que lhe tinha pedido fruta para o pequeno-almoço. Reparei nos olhos da minha mãe, percebendo que, naquele momento, não os conseguia retirar de nós. Comecei a comer, já que realmente estava com demasiada fome.

- Peço desculpa – o meu pai aproximou-se de nós, sentando-se ao lado da minha mãe. Olhou para o Lewis por uns segundos e para mim logo de seguida – como é que vocês estão? – voltou a olhar para o Lewis, surpreendendo-me esta sua pergunta.

- Estamos bem – respondi primeiro, fazendo com que os meus pais me olhassem – quero pedir-lhes desculpas, também, porque devia ter-vos contado tudo o que está a acontecer.

- Estava no seu direito – a dose de surpresa continua a aumentar de cada vez que o meu pai fala – sabemos que não estamos nos melhores termos consigo, que não fomos os melhores pais para si nos últimos tempos..., mas queremos que saiba que, no que precisar, estaremos sempre à distância de um telefonema.

- Queremos que esteja em paz neste momento tão importante da sua vida – olhei para minha mãe, tomada de assalto por uma enorme onda de surpresa – conte connosco para o que precisar, Beatrice.

- Não posso negar que fui completamente apanhada de surpresa... - pelo canto do olho, conseguia perceber que o Lewis estava a olhar-me – mas só vos posso agradecer por, neste momento, terem sido melhores pessoas do que eu – por mais que quisesse permanecer nesta conversa por inteiro, a fome estava a dar cabo de mim e acabei por colocar uma uva na boca – desculpem..., uma coisa que esta criança trouxe foi fome! – eles riram-se os dois e percebi que o Lewis também o fez. Olhei para ele, sorrindo de imediato ao ver o seu sorriso.

- A menina fez tratamentos...? – comi mais um pedaço de fruta, desta vez um bocado de maçã.

- Não – respondi, abanando a cabeça ao mesmo tempo – aconteceu tudo naturalmente – estiquei a minha mão, procurando a do Lewis de forma a entrelaçar os meus dedos com os dele – no meio de tudo, o que aconteceu é o maior milagre que podia pedir.

- Lewis – engoli em seco quando o meu pai o chamou e virou, ligeiramente, o seu corpo na direção do Lew – quero que saiba que, enquanto pai, tenho de lhe agradecer por tudo o que está a fazer e a ser para a Beatrice – olhei para o Lewis, tentando não chorar com aquilo que ouvia – sei que não somos as melhores pessoas do mundo, que parece que vivemos noutro século que não o vosso..., mas espero que, enquanto homem, me entenda. Ou tente entender – senti o Lewis agarrar-me a mão com mais força, ficando com uma enorme vontade de lhe dar um abraço. Mas optei por comer mais fruta e olhar para o meu pai – sei que não vai faltar nada à minha filha, ao nível dos afetos tendo-o ao lado dela, mas naquilo que precisarem, nós queremos ser parte das vossas vidas – lá vai uma lágrima. Ai hormonas, controlem-se por favor!

Always, BeOnde histórias criam vida. Descubra agora