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2020

Quanto mais tempo passa, mais ansiosa fico e, com uma perna engessada, não consigo andar de um lado para o outro enquanto espero. Esperar pelo Lewis é uma coisa boa, sempre, mas hoje está a deixar-me, de certa forma, angustiada. Há uma aflição no meu coração que não pensava poder vir a sentir..., mesmo que eu saiba que ele está bem, tudo isto veio mexer comigo.

E, claro, começo a comparar aquilo que senti em relação ao meu pai, com o que sinto em relação ao Lewis. Torna-se claro quem é que considero ser mais família. Quem é que, neste coração sempre tão disposto a amar, é a prioridade e a peça mais importante. É nele que se concentra todo o meu amor, a minha dedicação e o valor da família. O Lewis é a família que eu preciso.

Voltei a olhar para o telemóvel, percebendo que já passava mais do que uma hora desde que o avião dele tinha aterrado. A Angela já me tinha enviado mensagem a avisar que estavam a caminho, daí estar a estranhar tanta demora.

De: Angela

Ele pediu para pararmos no circuito..., vamos demorar um bocadinho a chegar.

Acabei por me rir, começando uma chamada de voz para ele.

- Caíste da cama? – perguntou assim que atendeu a chamada, lembrando-me de que, no Mónaco, seriam sete da manhã neste momento.

- Parece que sim – não era mentira nenhuma, se bem que cheguei ontem à noite e ainda consegui dormir umas horas mesmo com a diferença horária – o que é que andas a fazer?

- Vim ao circuito, falar com a equipa para ver o desempenho do carro...

- Tu acabaste de ter alta e vais mesmo enfiar-te naquele carro?

- Be... - facto: tínhamos passado as últimas 48h a "discutir" este assunto. Por eu achar que, apesar de ele não ter tido sintomas graves, esteve doente e precisa de recuperar. E, claro, ele acha que está bem descansado e que a melhor forma de acabar a época é dentro do carro.

- Eu já não digo nada, mas, se não for pedir muito, tenta não andar de um lado para o outro – acrescentando mentalmente que eu estou à tua espera!

- Sim, mãezinha. Estou quase a acabar. Quando chegar ao hotel ligo-te, sim?

- Fico à espera!

Desliguei a chamada e acabei por me virar na cama, fechando os olhos. Tinha acordado, realmente, muito cedo com os nervos de o surpreender desta forma e podia aproveitar para descansar um bocado.

- Beatrice, você não pode namorar com ele.

- Mas, pai, eu vou casar com ele!

- Não, não vai – o meu corpo parecia estar a ser arrastado, quando percebi que estava a andar contra a minha vontade. Os braços do meu pai agarravam-me, de forma a levar-me para fora da igreja.

- Be! – conforme tentava lutar contra a força que o meu pai fazia, procurava encontrar o Lewis..., mas a voz dele vem de todos os lados. Como é que eu o poderei encontrar? – não me deixes – queria dizer-lhe alguma coisa, mas parecia que tinha perdido a voz. Sentia os meus lábios mexerem, mas sem qualquer som a sair da minha boca.

Um enorme estrondo fez-me estremecer dos pés à cabeça e cair no chão. Sentia-me leve, finalmente, mas sem forças para me levantar. E foi então que vi a enorme mancha vermelha aparecer no vestido branco, a formar-se na minha barriga.

- Prefiro deixar de ter filha, do que vê-la casar com um preto.

Conforme acordei, percebi que estava a chorar da mesma forma que no sonho. Sinto que tenho o coração acelerado demais e a respiração muito descontrolada. Assim que os meus olhos encontram os do Lewis, só consegui agarrar a mão dele, puxando-o para mim. Que raio de pesadelo, Beatrice.

Always, BeOnde histórias criam vida. Descubra agora