- Promete-me que não fazes piadas durante o jantar – o Lewis riu-se, olhando-me por cima do ombro.
- Tu é que convidaste o teu ex-namorado para jantar connosco – aproximei-me do sofá, colocando as minhas mãos nos ombros dele.
- Isto vai ser engraçado, vai... - dei-lhe um beijo na bochecha, regressando para a zona da cozinha e terminar o jantar – eu preciso de te dizer uma coisa – a coragem de falar sobre este assunto com ele, desaparece a todo o momento que o tento fazer. Porque sei que ele pode ter vários tipos de reações e tenho medo de algumas delas. Medo que ele tente enfrentar os meus pais, medo que ele me tente afastar para que eu resolva a situação com eles..., medo que ele me olhe de outra forma.
- Diz – "acordei" para a realidade, olhando para ele. Já estava virado para mim, percebendo, com certeza, que o assunto era sério – o que é que se passa? – quando as palavras me iam começar a sair pela boca, a campainha toca e olhámos os dois para a porta. Talvez com o mesmo sentimento..., talvez com a mesma vontade de que não existisse este jantar e pudesse, finalmente, falar com ele – não gosto quando me escondes coisas, Be – disse-o, assim que me dirigi à porta, de forma a abrir a do prédio ao Daniel – e eu já percebi que alguma coisa se passa há algum tempo... eu respeito que precises do teu tempo, mas não te feches para mim.
- Tu conheces-me, sabes que há coisas com as quais eu prefiro lidar assim... - fiquei encostada à porta, com os olhos dele postos nos meus – eu não estive em Londres com a Rachel – duas linhas horizontais formaram-se na sua testa e, claro, começou a mexer as mãos mais do que o habitual – eu estive em Manchester com os meus pais – as rugas desvaneceram..., claro que ele acredita que as coisas correram bem – os primeiros dias foram muito bons, mas as coisas não correram nada, mas mesmo nada bem, Lew.
- O que é que queres dizer com nada bem? – ele levantou-se, vindo na minha direção.
- Eles nunca te aceitaram, nem vão aceitar, na minha vida – engoli em seco ao dizer tais palavras em voz alta – eles não querem que eu esteja contigo. Acho que só queriam que eu acabasse por perceber isso por mim mesma, quando me deixasses... e eu regressasse a casa. Eles acham mesmo que isso vai acontecer e dá-me uma raiva tão grande que tu não imaginas – o Lewis ficou parado à minha frente, cruzando os braços em frente do peito – eu acabei por discutir muito, mas mesmo muito, com o meu pai – senti as mãos dele sobre os meus braços, ao mesmo tempo que as lágrimas começavam a escorrer pelas minhas bochechas, ao reviver aquele momento na cabeça – ao ponto de ele me dar uma chapada – um círculo perfeito formou-se na boca do Lewis e só senti as mãos dele perderem a força – e eu acabar por admitir para mim mesma, depois disso, que fiquei sem família naquele momento.
Tal como quando contei o sucedido ao Daniel, o Lewis olha para todo o lado menos para os meus olhos. Eu sei que é difícil de acreditar que tal coisa aconteça em pleno ano de 2021, mas aconteceu comigo e com a minha família.
- Porque é que não me disseste nada antes? – olhou-me, finalmente, e é tão visível uma certa desilusão no seu olhar, que só faz com que o meu coração se aperceba do quanto realmente esta situação é dura.
- Acho que preferia esquecer tudo o que se estava a passar – agarrei as mãos dele, fazendo-as deslizar sobre os meus braços e entrelaçar os meus dedos com os dele – porque eu fiquei bem quando regressei, quando te tenho a ti para cuidar de mim...
- Mas eles são teus pais – abanei que não com a cabeça – Be... - um leve bater na porta sobressaltou-me, relembrando-me de que o Daniel estava a caminho.
Afastei-me da porta, abrindo-a logo de seguida.
- Trouxe vinho – os olhos do Daniel chocaram com os meus e o sorriso que ele tinha, desapareceu por completo ao ver que eu chorava naquele momento – devo calcular que já tiveram a conversa... - só gostava que o Daniel não abrisse tanto a boca e não falasse tão abertamente sobre as coisas em alguns momentos.
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Always, Be
FanfictionBeatrice O universo colocou-nos uma pandemia pela frente e, com 17 crianças à minha responsabilidade, o medo é constante. Poderia sentir-me a pessoa mais aterrorizada no mundo, mas sei que ele está lá para mim. Ele. O meu melhor amigo. A pessoa que...