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BEATRICE

- Lew? – chamei-o assim que entrei em casa. Depressa o Roscoe veio na minha direção, vindo da varanda. Para ele estar lá fora, o Lewis está em casa – onde é que anda o dono? – baixei-me junto ao pequeno doce da minha vida que, de dia para dia, cada vez mais gosta de mim.

Comecei a ouvir a voz dele um pouco mais alta, percebendo que realmente estava na varanda. Alguém lhe dava resposta e, para meu grande espanto, não era a Angela.

- Eu não posso acreditar nisto... - comentei comigo mesma, numa tremenda tentativa de acreditar que estava a sonhar. É a voz da minha mãe. A falar tranquilamente com o Lewis, os dois sentados à pequena mesa no meio da varanda.

- Be – o Lewis foi o primeiro a ver-me, não sabendo bem o que fazer – não te ouvi entrar.

- Eu reparei – assim que falei, a minha mãe virou-se para mim e, depois de sorrir, levantou-se – o que é que está aqui a fazer? – estou demasiado confusa. Será que o meu pai também aqui está? E que, a qualquer momento, aparece aqui na varanda e começa a insultar o Lewis?

- Vou deixar-vos – a minha mãe olhou para o Lewis – fiquem à vontade – antes de sair da varanda, parou à minha frente, piscando-me o olho – não sejas tão durona com ela – disse-o, baixinho.

Sinto, honestamente, que acabei de ser atirada contra uma parede. Sem saber o que é que deva pensar ou o que é que poderei dizer à pessoa na minha frente.

- Sei que sou a última pessoa que esperava ver aqui – ou ela ou o meu pai, mas sim, não é mentira nenhuma – mas, enquanto mulher e, sobretudo, sua mãe, eu não podia deixar passar mais um dia sem aqui vir – só me apetece perguntar-lhe o porquê de só agora o estar a fazer. Ou porque é que não me telefonou se estava assim tão cheia de vontade de cá vir – eu sei que deve ter imensas perguntas na sua cabeça, eu teria se estivesse na sua situação, mas eu vim ter consigo para que me possa desculpar. O que aconteceu foi inadmissível... e eu não fiz nada para remediar a situação.

- Exato – sentia as palavras a quererem fugir-me da boca naquele momento e sei que as tenho de ponderar muito bem – a mãe não fez nada para evitar, sequer, a situação, mas limitou-se a olhar para o que acontecia à sua volta – acabei por retirar o casaco de cabedal, deixando-o em cima da cadeira – aliás – voltei a olhá-la – há muito tempo que a mãe podia ter posto um ponto final na forma de ser do pai – cruzou os braços, mostrando, como sempre, o seu ar altivo.

- Vai continuar sempre a atacar-nos?

- Como é que quer que eu não o faça, depois de tudo o que aconteceu? – cruzei, também, os meus braços, mostrando que não me poderia fazer frente. Estou na "minha" casa, no "meu" território.

- Eu vim aqui, de propósito, para lhe pedir desculpas. Em meu nome e do seu pai.

- Ele não pôde vir por alguma razão em específico?

- Beatrice... - acabei por soltar um pequeno riso, percebendo que ele nunca aqui quis vir.

- Não sei porque é que pede desculpa em nome dele. O pai nunca vai ter coragem de o fazer, nem de vir ter comigo.

- Mas ele está tão arrependido do que fez – aproximou-se de mim, pousando a sua mão no meu antebraço – ele precisa de si.

- Mãe, ele não precisa de mim.

- Eu estive a falar com o seu namorado – ainda gostava de perceber como é que eles se encontraram – já percebi que ele sabe de tudo. Não precisava de ter revelado tudo ao rapaz.

- Eu falo tudo com o Lewis.

- Incluindo o facto de não poder ter filhos? – parece que, com esta sua tão direta pergunta, me acabou de tirar toda a alma do corpo. Surpreendendo-me de como é que ela poderá saber tal coisa – eu vi os seus exames, um dia, quando fui a sua casa – como é que eu não me desiludo com os meus pais se, de mês a mês, me atiram com baldes de água fria em cima?

Always, BeOnde histórias criam vida. Descubra agora