LEWIS
- Honestamente, eu não sei como é que tu consegues estar tão... - fez uma pausa, balançando as mãos no ar – assim! – riu-se – tu vais partir de último lugar... - enrugou a testa, cruzando os braços e sentando-se.
- Finalmente – olhou-me com desdém, fazendo-me rir – estás mais enervada do que devias, acho que devias ter mais confiança no teu piloto preferido.
- Isso eu tenho, o Max de certeza que vai ganhar... - atirei-lhe com uma almofada, fazendo-a rir – eu admiro-te imenso, sabes disso? – sorri, entrelaçando as minhas mãos uma na outra em cima da barriga – surpreende-me a forma como tu consegues lidar com as coisas, todos os dias. E, num dia como o de hoje, estares assim tão calmo..., juro que só gostava de ter um terço dessa tua capacidade.
- Tu também a tens. Só lidas com as coisas de forma diferente e com outro tipo de sentimentos – levantei-me do meu sofá, sentando-me ao lado dela – eu tenho a certeza de que aquele carro vai fazer milagres, hoje – passei a minha mão pela sua barriga, surpreendendo-me com a nossa filha a mexer-se – ela também está nervosa?
- Acho que sim – passou a mão dela para a minha cara, percebendo que me olhava – tem cuidado – olhei-a – não te aproximes muito do Max, por favor.
- Vou ter de o fazer..., caso contrário vou partir atrás dele – suspirou, passando o braço dela por cima dos meus ombros e puxando-me para o seu peito – o sprint são apenas 24 voltas..., vai passar num instante.
- Esse é que é o meu medo – sim, um sprint é, em muito, parecido com uma corrida, mas é bem mais do que isso. Há mais velocidade, mais formas de arriscar e ser ousado. E, com a penalização que tive no dia de ontem, partir em último lugar só me vai permitir ser isso e muito mais – eu conheço-te – olhei-a – tu estás calmo porque sabes que vais entrar naquele carro, com a possibilidade de ultrapassar todos – sorri-lhe, fazendo com que ela abanasse a cabeça – eu podia ter conhecido um veterinário, um pai divorciado de uma criança..., mas não. Tinha de me calhar em sorte alguém que entra num carro e tudo lhe pode acontecer.
- Confia mais em mim.
- Eu não confio é nos outros, Lew – deu-me um beijo, olhando-me logo de seguida – mas parte aquela merda toda.
O ambiente no Brasil, este fim de semana, tem-me feito sentir em casa. É surpreendente o calor humano que estas pessoas me conseguem fazer sentir, mesmo estando longe delas. Estar no fim da grelha de partida é algo que poucas vezes me aconteceu e que, nos últimos anos, não acontecia. É algo novo que estou a viver, mas que me deixa com mais vontade de dar tudo aquilo que tenho de mim.
Tenho o olhar da Be gravado na memória e a gargalhada que soltou, mesmo antes de eu entrar no carro. Era audível o apoio do público e a força que me tentam dar. Eu tenho de fazer o meu melhor. E isso só acontece quando tenho um arranque em condições e, ao fim da segunda curva, percebi que já tinha conseguido passar quatro carros.
Há uma adrenalina a crescer a cada volta que dou, a cada carro que ultrapasso. Há uma sensação nova a crescer em mim e que, neste momento, até me parece difícil de explicar.
- Estamos na volta 17, estás em sétimo – ouvi o Bono, agradecendo estar apenas a receber informações que me dizem respeito. Apenas lhe consigo agradecer, porque só o meu caminho me interessa. Tenho seis carros à minha frente, com sete voltas para terminar esta corrida sprint.
Começa a ficar mais difícil de ultrapassar qualquer um deles, já que estão mais afastados de mim. Com duas voltas pela frente, sinto que ainda consigo ultrapassar mais um carro.
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Always, Be
أدب الهواةBeatrice O universo colocou-nos uma pandemia pela frente e, com 17 crianças à minha responsabilidade, o medo é constante. Poderia sentir-me a pessoa mais aterrorizada no mundo, mas sei que ele está lá para mim. Ele. O meu melhor amigo. A pessoa que...