Dormir ao lado do Lewis é o melhor que eu posso ter na minha vida. Há toda uma paz que se instala em mim, fazendo-me ter sempre os melhores sonhos e acordar com um sorriso dele para me curar o mau humor matinal. Eu era a pessoa que não gostava de partilhar a cama com ninguém, até termos começado a dormir juntos, no final de noites completamente aleatórias ainda como amigos. Dormir sem ele já não faz qualquer sentido.
Só que esta não está a ser uma dessas noites em que tudo é tranquilo; ele já se levantou duas vezes e, mesmo que tente fazer o mínimo de movimentos possíveis, eu sou a pessoa que dá por tudo. Percebo que ele está a andar pela sala, pela segunda vez, voltando para o quarto pouco depois.
- O que é que se passa? - coloquei a minha mão em cima do peito dele, percebendo que o seu coração batia de uma forma tão acelerada que me assustou.
- Nada – virou-se para mim, envolvendo o meu corpo com o seu braço por cima de mim – desculpa, não te queria acordar – disse, depois de me dar um beijo na testa.
- Sabes que não me consegues enganar, não sabes? - o quarto não estava totalmente escuro, mas não percebia se havia alguma luz acesa ou se seria o sol a nascer lá fora – o que se passa, Lew?
- Nem eu sei – mantinha a minha mão no peito dele, fazendo pequenos círculos com o meu dedo indicador sobre a sua pele – estas corridas são tão próximas umas das outras... - a verdade é que, em tempos normais, ele teria cerca de duas a três semanas para recuperar de uma corrida para outra. Portugal foi há uma semana e amanhã já tem a corrida aqui em Ímola (Itália) - a equipa precisa dos pontos e eu sinto que o meu corpo não está a responder da melhor forma – percebo que ele, ultimamente, anda mais ansioso do que o habitual, mas não me tinha apercebido que seria a este nível, também por já não estar fisicamente com ele há tanto tempo.
- Tens tido mais noites como a de hoje? - apenas assentiu que sim com a cabeça, encostando o seu queixo no topo da minha e puxando-me para ele. Suspirou bem fundo, dando-me a certeza de que há muita ansiedade dentro dele neste momento e fazendo-me sentir sem grande capacidade de reação. Porque ele raramente se mostra assim e eu nunca me apercebi que, por detrás daquele sorriso que sempre me presenteia, pode haver um Lewis que está a sofrer com toda a pressão deste atípico ano – eu estou aqui – dei-lhe um beijo no pescoço, sabendo que, se ele quiser, ele vai falar mais sobre isto, mesmo que eu não o pressione – tenta dormir mais qualquer coisa... - voltei a olhá-lo, juntando os meus lábios aos seus por breves segundos, recebendo depois a sua cabeça no meu peito.
Em puro silêncio mantive-o nos meus braços, percebendo que, aos poucos, se ia acalmando enquanto eu passava com o meu dedo pela sua bochecha, sentindo aquela pele tão sedosa dele. Já eu não conseguia voltar a adormecer, talvez por me sentir um pouco culpada de não ter percebido que ele se andava a sentir mais em baixo. Apenas o observei a ele a dormir, nos meus braços e em paz.
***
Depois da noite que tivemos, sinto que não estou totalmente no meu corpo; há uma parte de mim que se desligou. A que tem mais energia, a que tem toda a adrenalina para um dia de corrida. Parece que, neste momento, todos aqueles nervos que me consumiam antes de qualquer corrida, desapareceram.
- Beatrice – estava prestes a entrar na garagem, quando a Angela me chama – que se passa?
- Sou assim tão transparente? - ela apenas encolheu os ombros, quase como me dizendo que analisar pessoas é o que ela faz na vida – foi uma noite longa...
- Então?
- Acho que o Lewis teve uma crise de ansiedade... - não sei se falar com ela sobre isto, ajudará ou não o Lewis. Apenas sei que, se não falar com ninguém, vou continuar nesta bolha que ninguém vai rebentar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Always, Be
FanfictionBeatrice O universo colocou-nos uma pandemia pela frente e, com 17 crianças à minha responsabilidade, o medo é constante. Poderia sentir-me a pessoa mais aterrorizada no mundo, mas sei que ele está lá para mim. Ele. O meu melhor amigo. A pessoa que...