BEATRICE
Se me queixar ao Lewis deste meu cansaço excessivo, acho que me interna numa casa de repouso. O trabalho que venho a ter, não pode ser a única justificação para o que se passa comigo..., eu trabalho muito menos do que alguma vez na minha vida enquanto educadora. Todos os exames que fiz no hospital não revelaram qualquer problema comigo, nem aqueles que o médico do Lewis me obrigou a fazer. Muito menos o teste de gravidez. Que, para todos os médicos, eu só poderia estar grávida, mesmo que lhes mostrasse todo o meu historial clínico com todas as provas de que não conseguiria engravidar.
Comecei a planear as minhas semanas, a ter um horário para cada tarefa relacionada com a fundação e, o mais difícil, perceber que se não fizesse uma coisa num dia, tinha tempo de a fazer no dia seguinte.
- Chegou alguém que te vai animar – surpreendi-me com a entrada do Lewis na varanda, acompanhado pelo Daniel.
- Mas agora queres passar aqui a vida? – perguntei, sentando-me como deve ser, em vez de estar quase deitada.
- Que mau feitio é esse? – o Lewis só se riu e os dois sentaram-se junto a mim.
- É o mau feitio de quem tem os pais a caminho do Mónaco.
- Mas essas pessoas não têm dois dedos de testa? – o Lewis riu-se, provavelmente querendo dizer a mesma coisa.
- Não sei – respondi – mas, honestamente, nem imagino o que é que eles possam querer desta vez.
- Vão oferecer-te um urso de peluche – disse o Lewis, fazendo com que o Daniel se risse – e pedir que voltes para casa, porque já não suportam estar sem ti.
- Claro que sim e eu vou a correr para os braços deles – utilizar a ironia era a única forma de conseguir pensar nesta situação sem me enervar – mais importante – virei-me para o Daniel – o que é que estás aqui a fazer?
- Venho despedir-me – ultimamente temos estado mais tempo juntos. Por ele vir constantemente oferecer jantares, por querer a nossa companhia para um café em casa dele ou só porque acorda e não lhe apetece estar sozinho – vou para Inglaterra, vamos começar os testes e, depois, vamos diretos para o Bahrein – o Lewis daqui por três semanas também tem de lá estar, pois vão começar os testes e, uma semana depois, o campeonato – admitam, vão ter saudades minhas.
- Não – disse-lhe o Lewis muito depressa, fazendo-me rir – mas ela vai – apontou para mim.
- Não vou nada – contrapus – o meu babysitter já precisa de umas férias – os dois riram-se, mantendo-me a olhar para o Daniel – e aposto que vai chatear a cabeça da rapariga do simulador!
- Eu só espero que ela já esteja a trabalhar noutro lado – com o seu típico à vontade, acabou por se deitar de barriga para cima.
- Mas quem é que é essa rapariga? – perguntou o Lewis, apoiando o cotovelo no sofá e esticando-se também.
- Só sei que se chama Camila e é chata. E anda de saltos, como se isto fosse um desporto para se andar assim.
- Claro, a rapariga tinha de andar de botas de biqueira de aço, era? – o Lewis riu-se com a minha pergunta – aposto que ela é linda de morrer, inteligente como tudo e só te enerva porque não caiu redonda aos teus pés.
- Tu também não – virou-se rapidamente para mim – devo ter algum problema, certo? – tanto eu, como o Lewis nos rimos à gargalhada, enquanto ele se sentou – ela é chata, se eu voltar a estar com ela, faço uma gravação secreta para vocês a ouvirem.
- Desde que não assumas que a achas interessante... - comentou o Lewis, recebendo um almofada em cima da cabeça por parte do Daniel.
- Vocês dois juntos, realmente só se estraga uma casa! – o meu telemóvel começou a tocar, mostrando aos dois o ecrã. Mãe. Chegaram.
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Always, Be
أدب الهواةBeatrice O universo colocou-nos uma pandemia pela frente e, com 17 crianças à minha responsabilidade, o medo é constante. Poderia sentir-me a pessoa mais aterrorizada no mundo, mas sei que ele está lá para mim. Ele. O meu melhor amigo. A pessoa que...