Capítulo 90 - Hibisco Noturno

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Desde nova, Li Ming-Yue lutou para sobreviver.

Seu pai se tornou um viciado em bebidas alcoólicas e culpava-a todos os dias pelo final de sua esposa, no caso, a mãe da pequena garota. Porém, Li Ming-Yue sequer entendia direito o motivo pelo qual seu pai achava que as dores iam se afogar junto com o álcool.

Quando o tempo passou, aos 10 anos, Li Ming-Yue entendeu um pouco o que aquelas dores significavam. Ao ter sua primeira menstruação, a garotinha não sabia o que fazer e correu até seu pai, puxando sua manta preta.

"Papá! Papá!"

"O que foi, Li Ming-Yue?", o homem jogou o copo de madeira na mesa com agressividade, já mostrando que estava irritado e não se importando para o que sua filha iria lhe dizer. Assim que viu a criança levantando sua mão direita com uma calcinha nas mãos e mostrando um sangue na mesma, o pai fechou os olhos e suspirou, sentindo o cheiro de álcool entrar em suas narinas. "Que porra, Li Ming-Yue. Quem mandou você menstruar tão cedo? Sua mãe também teve sua primeira menstruação aos 10 ou 11 anos. Até isso você puxou na genética? Eu não aguento mais... Tanta merda..."

O pai levantou da cadeira e empurrou sua filha, a fim de que ela não encostasse aquele pequeno pedaço de tecido em seu corpo. "Vá se lavar. Isso é nojento. Criança imunda."

A pequena garota apenas aceitou as ordens de seu pai e correu ao toalete. Subiu em um banquinho e começou a lavar sua calcinha dentro de uma bacia de madeira de porte médio, no qual era usada para deixar de molho algumas roupas. Ela não compreendia aquele sangue todo e quando ouviu uma palavra diferente sair da boca de seu pai, seu cérebro não conseguiu pensar em alguma explicação.

"O que é menstruação? É algo malvado? Eu vou ficar dodói?", enquanto limpava sua calcinha, Li Ming-Yue mordia os lábios, segurando as lágrimas pelo medo de ser alguma doença.

Não gostava de ficar doente. Na verdade, odiava.

O motivo estava ligado ao seu pai. Ele chamava um médico conhecido, que sempre a tratava com um carinho excessivo e isso a incomodava. Só de pensar na hipótese de vê-lo, já entrou em desespero e suas lágrimas caíram. Porém, decidiu chorar em silêncio, para não atrapalhar seu pai e os problemas que estavam em sua cabeça.

Já, em outro cômodo da casa, o homem bebia ainda mais e xingava baixo, enquanto olhava diretamente para uma segunda cadeira que havia de frente a ele. Ao olhar o lugar vazio, a memória de sua esposa retornou e seu coração ficou ainda mais despedaçado.

"Ela se parece tanto com você, querida... Como os deuses puderam ser tão rudes comigo? Uma filha legítima e tão idêntica a única mulher que tanto amei. Isso... Cansa muito...", as frases do homem sequer saiam de sua boca direito, pois o efeito da bebida estava forte demais.

E, infelizmente isso o fez tomar uma decisão insana.

O homem, aprisionado pela dor da morte de sua falecida esposa, tratou Li Ming-Yue com uma maldade absurda, sem nunca dar muitas atenções e toda vez que ultrapassasse os limites de sua bebida, suas próprias emoções mais perigosas que habitavam o coração apareciam e eram totalmente jogadas em sua fillha, de forma bruta e sem piedade. O pai, agindo dessa maneira, achou que poderia fazer com que a pequena o odiasse e até fugisse de casa. Entretanto, isso nunca aconteceu.

Li Ming-Yue, como sua mãe, não gostava de viver do passado. Ela não entendia direito o motivo de seu pai a tratar daquela forma, mas ainda o amava, como qualquer filha ama o pai, por mais terrível que ele seja. Mas, essa atitude, apenas o enfureceu ainda mais e hoje, já pegando o gancho dela ter menstruado, temeu que a mesma trouxesse mais infortúnios a ele e tomou uma decisão.

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