Capítulo 5 - Hu Long e seus olhos sanguinários III

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A noite estava sendo devastadora, tanto para o físico quanto para o psicológico de Fai Chen. Quase não conseguiu dormir de tantos pensamentos infernais em sua mente, mas que depois de um certo período de tempo se acalmaram. O cultivador tirou a venda dos olhos, se levantando do sofá e indo até a janela mais próxima. Observou o luar e as estrelas e deduziu que nem sequer deveriam ter passado duas horas desde o diálogo barulhento. Soltou um suspiro pesado, olhando de lado para a sacolinha que reunia alguns pertences para sua longa caminhada e depois para o quarto onde estava Hu Long, que, no caso, era o dele.

Por mais que o jovem assassino quisesse acompanhá-lo, Fai Chen se recusava e não gostaria de mais problemas em sua jornada à esperança, que por tanto tempo estava adormecida. Então, tomou uma decisão. Ainda sem a venda em seus olhos, foi até a cozinha e pegou alguns legumes para esquentar. Pelo menos quando Hu Long acordasse, teria algo para comer antes de seguir sua própria vida.

Fai Chen sempre foi um homem extremamente gentil, que sabia perdoar facilmente o que os outros faziam para ele. Mas, graças as feridas dentro de seu coração, nunca mais conseguiu conhecer a verdadeira felicidade, que tantos homens dizem e se orgulham. Para ele, não era tão importante procurar esse meio de sentimento, pois como já estava farto de pensar em sua vida medíocre, sabia que o Imperador de Jade jamais lhe traria essa tal sensação de aconchego e paz.

Já feita a pequena refeição, Fai Chen retornou ao quarto, no qual o garoto ainda estava dormindo. Deixou, em silêncio, o pratinho no móvel de madeira ao lado da cama, olhando calmamente e sem nenhum traço de rancor, para o adormecido. Aos olhos azuis de Fai Chen, Hu Long era um jovem com um semblante belo. Sua pele pálida, por mais que estivesse rodeada de arranhões e curativos, ainda conseguia ter um brilho único, deixando o homem um tanto intrigado.

Enquanto olhava para os detalhes faciais do outro, pensou duas vezes se Hu Long era mesmo um assassino tão destemido e perverso. Tinha certeza que, se alguém o visse dormindo de uma forma tão tranquila e adorável como agora, jamais pensaria que esse mesmo garoto matou 2.000 guerreiros do clã Hong e, ainda por cima, traiu seu próprio Jovem Mestre.

"Realmente, as aparências enganam" pensou Fai Chen, virando de costas para o garoto e saindo do quarto o mais rápido possível.

Retornou para a sala, pegou suas coisas e colocou a venda em seus olhos, saindo de sua própria cabana para o mais longe possível dela, iniciando sua caminhada para o grande Rio Amarelo. O cultivador, no decorrer do caminho pela extensa floresta, estava certo que conseguiria andar e manter a harmonia apenas com os sons da Natureza em seus ouvidos, já calmos depois de tantos sons diferentes.

Mas, era pedir demais que Fai Chen tivesse sequer algum minuto de paz.

"Cegueta, você saiu sem mim?"

Fai Chen parou de andar, virando de costas e sentindo o mesmo aroma de antes, doce e provocativo. O jovem assassino estava por perto e tinha conseguido segui-lo até agora. Em outras palavras, o cultivador falhou explicitamente em fugir do mesmo.

"Fiquei um tanto decepcionado quando você veio até onde estava e nem sequer quis me acordar para ir contigo! Mas, como não sou mal-agradecido, acabei comendo os seus legumes cozidos. Você é um bom cozinheiro, Cegueta. "

Enquanto o garoto falava, mais se aproximava do mais alto, deixando-o um pouco nervoso, possivelmente pelo fato de ter que aguentá-lo pela viagem inteira. Então, Fai Chen decidiu se virar de costas e continuar a andar, escutando em seguida risos baixos de Hu Long.

"Irá continuar a me ignorar? Sabe... Eu sei bem como fazer você abrir a boca", Hu Long mencionou, mas Fai Chen ainda continuou calado, dessa vez não pela irritação e sim por ouvir um barulho completamente diferente da voz do jovem. "Hum? Cegueta, você ouviu isso? "

The Cultivation of the GazeOnde histórias criam vida. Descubra agora