Capítulo 49 - Sentimentos interligados I

1.2K 210 389
                                    

Após alguns minutos, três novas servas entraram no cômodo simples em que estava Fai Chen. Uma das servas, aparentemente a mais nova entre elas, chegou mais perto do cultivador e tocou gentilmente seu ombro.

"Jovem Mestre Wei pediu para atribuirmos o melhor cuidado possível de limpeza a seu corpo. Então pode ir ao toalete no final desse corredor sem medo algum. Aqui estão suas novas vestes de roupas. Não conseguimos achar uma peça parecida com a sua de agora, portanto tivemos que pegar o conjunto de um antigo funcionário. Sinto muito", disse a jovem de cabelos presos com um coque baixo, parecendo cansada de tanto trabalho.

"Obrigado pelas novas vestes. Se me derem licença...", respondeu Fai Chen, em um tom de voz calmo, levantando da cama e saindo do quarto, com ajuda da mesma serva de antes.

Ela o levou ao toalete no final do corredor. Não demorou muito para que Fai Chen tirasse suas roupas manchadas de sangue e ficasse só dentro do novo ambiente, que agora estava gelado. Como era um banheiro para servos, a água da banheira de madeira não era muito quente, o que fez o corpo do cultivador ter um choque de temperatura quando entrou em contato com a água.

Fai Chen começou a lavar-se, tentando estabelecer, a cada gota que passava por seus braços, uma relação de tudo o que havia acontecido naquele curto período de tempo.

A primeira gota que fixou seu olhar escorreu pela sua veia radial. Em geral, as veias têm a função de retornar o sangue dos vários tecidos do corpo para o coração. No caso, o que retornou para o coração de Fai Chen neste momento foi o primeiro momento em que conhecera o Assassino de Olhos Sanguinários, intimamente conhecido como Hu Long. Em sua primeira aparição, o cultivador logo percebeu que o jovem assassino seria difícil de lidar, mas não impossível. Ele tinha uma atitude forte e um caráter diferente dos homens que conhecera. Além disso, tinha uma língua afiada e suas frases eram de uma rapidez que sempre deixou o mais velho admirado. E, na verdade, esse seu jeito de agir diante de algo utilizando sarcasmo, ironia e perversidade era um jeito de se proteger dos mentirosos, que marcaram sua passagem de vida.

A segunda gota percorreu seu nervo mediano. Os nervos apresentam a função de garantir uma comunicação entre o sistema nervoso central e os órgãos de sensibilidade. Assim, quando olhou para aquela pequena gota, lembrou-se das primeiras conversas com Hu Long e como as mesmas atacaram seu sistema nervoso, mudando por completo sua sensibilidade. Por conta dessa mudança, Fai Chen sabia o momento em que começara a perceber seus primeiros sentimentos pelo menor: o dia em que Hu Long o salvou da raposa que liberava feromônios, que o deixou tão necessitado pelo prazer carnal. Naquele dia, o assassino não havia pensado duas vezes e protegeu o cultivador, que conhecia por poucos dias. Isso mostrou, de fato, que não importava o tempo ao seu lado, Hu Long confiava em Fai Chen e queria protegê-lo de todo mal do mundo, tanto natural quanto sobrenatural.

E por fim, a terceira gota que Fai Chen olhou escorrer em seu braço passou diretamente pela artéria ulnar. As artérias apresentam como principal função a condução do sangue do coração para os tecidos do corpo. Por isso, é um dos pontos mais fracos do ser humano; caso uma artéria seja cortada, ele pode falecer pela grande perda de sangue e sua ligação com o coração. Visto isso, a mente de Fai Chen analisou a última cena entre os dois. Hu Long contando a verdade que escondia por tanto tempo de tantas pessoas, por conta da dor que manchou seu coração e como essa verdade, se fosse descoberta por inimigos, poderia machucá-lo de uma maneira que acabaria com sua vida.

Era isso que Fai Chen pensava. Mas, de fato, a única verdade que poderia fazer Hu Long sangrar até a morte era a que o próprio cultivador havia escondido.

Fai Chen compreendia seu erro. Compreendia que agora Hu Long estava magoado e nem mesmo um diálogo entre ambos poderia mudar alguma coisa. Então, a solução seria o tempo, já que às vezes o coração precisava do mesmo para aceitar o que a mente já sabia.

The Cultivation of the GazeOnde histórias criam vida. Descubra agora