Capítulo trinta e nove

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24 dias para a nomeação da nova líder do clã da Lua.

[...]

"Qual o limite entre a abominação e o amor? A dor. Qual o limite entre a dor e o conforto? O discernimento, este que não faz limites com ninguém além de si mesmo, pois quando você sabe, você simplismente sabe —alguém te ensinou, ou você aprendeu. Você crê, ou foi ensinado a crer.

Portanto, quando você possui discernimento, você abomina, sente a dor, e ainda sim, você acredita.

E o limite entre acreditar e não acreditar, é ter discernimento.

—C.C.C; H.H."

[...]

—Papai disse que você não apareceu para tomar o desjejum.

Hanabi desviou os olhos dos papéis em sua mesa para a irmã. Toda vez que via a marca vermelha no rosto dela, perdia seu bom humor, que naquela época já estava escasso. Tentou sorrir, se esquecendo por alguns segundos quem era.

Quando lembrou, soube que não sorriria nem se fosse obrigada.

—Ele pode enfiar o desjejum no rabo dele.

—Hana... —Hinata suspirou, se aproximando em passos leves e passando as mãos pelos ombros dela. —Não fique assim, por favor.

—Ele te bateu.

—Eu sei... —Cuidadosamente afastou os cabelos longos da menor para o lado, encarando por alguns segundos o colar que ela usava. Não era uma jóia; não passava de um cordão simples com uma folha seca presa ao pingente. Decidiu não questionar naquele momento. —E eu não ligo. Vou apanhar muito mais que isso até chegar onde quero. Só que eu não posso abrir mão do cuidado que ele anda dedicando a você.

Hanabi rabiscou a folha mais próxima com certa irritação.

—Ele não vai entender.

—Não —Concordou, num sopro melancólico. —Talvez nunca entenda. Talvez nunca aceite. Mas ele não sabe ainda. Então, eu preciso que aproveite a proteção que ele está te dando por causa dos bebês.

Os rabiscos se tornaram formas circulares.

—Sabe de uma coisa, nee-chan?

—Não, nunca sei o que passa pela sua cabeça.

A mais nova a encarou; ela tinha pérolas escuras e rancorosas, muito distantes das bondosas e determinadas orbes de Hinata.

—Eu não me arrependo de nada que eu fiz até agora. E não vou me forçar a me arrepender. Eu espero que tudo que vier de mim irrite o papai, espero que ele odeie cada passo que eu der, espero que odeie tudo o que eu escrever, tudo o que eu falar e tudo o que nascer de mim —Disse lentamente, a ponta do lápis forçada contra o papel. —Eu espero que meus filhos tenham todas as características que enojem ele, e que eu possa dizer na frente dele o sobrenome que eles vão ter.

Hinata abriu a boca, mas ela não aceitou objeções;

—Você veio para consertar tudo... —Soltou o lápis, e deu um sorriso pequeno. —E eu, vim para anarquizar tudo.

—Anda bem poética. E caótica —Ela lhe lançou um olhar indecifrável, que a fez decidir apenas fazer sua última pergunta; —Seu vestido está pronto. Quer que eu vá provar com você?

—Pode ser. Eu te chamo quando for.

A herdeira ainda ficou ali alguns segundos, entre os ruídos do grafite no papel e as carícias que Hanabi fazia ao próprio ventre; alisou os cabelos dela entre seus dedos, encarou o pingente de folha e os papéis lotados de palavras na caligrafia determinada. Então, se retirou.

HantaiOnde histórias criam vida. Descubra agora