Capítulo quarenta e sete

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27 de dezembro,
Madrugada,
Celebração da nomeação da nova líder do clã da Lua.

[...]

Okurimono era mais manso que um gato doméstico.

Na verdade, Hinata percebeu alguns minutos depois de tê-lo por perto que sua mansidão era muito mais uma soberba; os olhos prateados avaliavam as pessoas a todo momento como se não fossem nada para ele, e nenhuma voz despertava o interesse do felino, a menos que fosse a de Hinata.

O tigre havia ignorado os chamados de Hiashi, eufórico com a situação, as tentivas de carinho de Hanabi, que segurava um pratinho repleto de doces, e havia sido muito ignorante para com o olhar curioso de Neji. Não parecia que nada o abalava de verdade.

Era mais ou menos sobre isso que Hinata refletia enquanto jogava mais um rolinho de canela para o felino, que ronronou em aprovação ao aceitar o quitute.

—Okuri-kun, vamos ter muito trabalho juntos —Sussurrou, avaliando o bicho, antes de sentir alguém parar próximo de si. Uma sensação estranha a atingiu no mesmo instante.

Hinata levantou o olhar lentamente, encarando a moça ali. Estava vestida de maneira discreta, e não havia nada demais nela além dos olhos assustadoramente verde-esmeralda.

—Parece que nossa líder teve muito mais honra dos que vieram antes dela —Um tom controlado, uma voz quase doce com amargura. Uma mulher gentil com raiva.

A líder continuou a encarando. Um silêncio desconfortável pairou, até que enfim respondesse, lentamente;

—Honra é sinônimo de conquista. Não há honra em ganhar algo. Estou no mesmo patamar que qualquer outro líder —Tomou uma postura defensiva conforme falava. A moça continuava a lhe encarar, forçando Hinata a montar cada letra do nome dela em sua mente. Era óbvio.

Os trejeitos, a aparência, a voz, tudo nela. Hinata não precisava do byakugan para desvendar os mistérios de uma expressão nervosa e de tiques irritadiços.

—Parece-me que não está sendo sincera. Ou então, ninguém mais aqui está. Todos que vi até agora repetiram a mesma coisa. Que sua honra foi incomparável.

Hinata fez a menção de responder, mas então, apenas soltou, cordialmente;

—Sakura-san, não seja tão dura comigo.

A expressão da moça foi tão assustada que uma risada quase escapou da Hyuuga. Ela se empertigou, como se fosse possível retomar o controle da situação, e levantou o queixo.

—Boa em desvendar segredos tanto quanto é boa em guardá-los, honrosa líder? —A pompa na voz e a falsa confiança nunca enganariam Hinata. Dessa vez, se permitiu rir.

—Ah... —O tigre se arrastou na direção das pernas de Hinata, pedindo por um carinho, e foi atendido, muito embora os olhos perolados continuassem encarando profundamente Sakura. —Veio para falar de segredos, então? Uma ameaça? Um aviso?

—Não deboche de mim, Hinata —A curandeira pareceu enraivada. Cruzou os braços, levantou o queixo.

Hinata riu de novo.

—Me chamar pelo nome não diminuiu quem eu sou, mas me mostra quem você é. Sabe, na verdade, vejo muitas semelhanças entre nós —Avaliou a aparência dela livremente, enquanto destilava o veneno nas palavras; —Interesses românticos perigosos. Olhos bonitos. Inteligentes. Corajosas, certo?

Sakura continuou calada. Então, a líder prosseguiu, calmamente;

—Vejo diferenças, também. Sabe, as pessoas me julgam como bondosa, mas eu estou longe de ser um poço de gentileza e paciência  —Olhou diretamente nos olhos dela. De igual para igual. Pérolas refletindo esmeraldas. —Eu sou quem eu preciso ser, Sakura.

HantaiOnde histórias criam vida. Descubra agora