Capítulo quatorze

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—Hinata-chan?

A moça abaixou o olhar. Naruto estava com água até os ombros, os cabelos encharcados e os olhos brilhantes a encarando de forma diferente (que, estranhamente, fazia ela sentir-se aérea).

—Sim, Naruto-kun? —Mexeu seus pés debaixo da água. A ponta dos seus dedos se chocou contra o peitoral do loiro, o que a fez rir de forma nervosa. Mas ele não pareceu se incomodar, apenas abrindo mais um sorriso do seu enorme arsenal.

—Como é a neve?

—Você nunca viu neve? —Juntou as sobrancelhas para exibir uma expressão confusa, e o viu concordar.

—Algumas vezes a temperatura chegou a cair bastante, mas eu nunca vi neve —Deu de ombros. —Quando digo que o tempo é quente por aqui, eu não 'tô mentindo.

—Nunca pensei que estivesse. Mas eu sou acostumada a ver neve em todos os invernos, só fiquei surpresa... —Riu-se, acrescentando; —A nevasca que chegou agora é diferente. Até porque é primavera, não deveria estar nevando...

A herdeira deu um suspiro, mas logo voltou a sorrir, levantando suas mãos elegantes para gesticular;

—Acho que posso dizer que a neve é branca e fofinha, como...areia gelada, só que menos áspera...ou, açúcar...não... —Se confundiu nas próprias explicações, encarando o rapaz em seguida e abrindo os olhos de forma travessa. —Naruto-kun...você não quer conhecer?

Ele pareceu levar 5 segundos para tentar entender a pergunta, então, disse;

—Conhecer o que?

—A neve. Posso te levar no clã, quer dizer, na floresta das Glicínias, tem bastante neve lá —Propôs sorridente, observando ele abrir a boca, como se fosse negar;

—Ah... —Disse confuso consigo mesmo, antes de abrir um sorrisinho animado. —Eu não tenho casacos, mas acho que pode ser legal.

—Você pode usar um meu —Por mais que tivesse sido uma proposta sincera, ele duvidava muito que alguma roupa dela pudesse servir em si. Hinata era bem menor, com ombros estreitos, comparado a ela, Naruto era quase um brutamontes.

—Vamos ficar pouco tempo, acho que não vou precisar —Deu a resposta mais educada possível, sorrindo perdido ao que ela se levantou rapidamente, segurando a barra do yukata na altura dos joelhos e sacudindo as pernas para tentar secar a pele. O herdeiro seguiu o exemplo, deixando o lago e se sacudindo como um cachorro, fazendo a moça rir.

A noite quente teve créditos em secar ambos com rapidez, naturalmente. Ainda sim, Hinata insistiu que Naruto colocasse um de seus casacos sob os ombros, antes que entrassem no meio das árvores.

Ela desviava dos arbustos e olhava atentamente tudo. Naruto batia a cabeça em galhos, e tropeçava em algumas raízes. A certo ponto, viu-se curioso;

—Você enxerga tão bem assim? —Riu-se, e ela o olhou por cima do ombro, concordando tímida.

—Sim, e tem como enxergar melhor mas-... —Pausou ao ver que tinha cometido um erro. Olhos acostumados com a escuridão eram comuns no clã da Lua, mas apenas os herdeiros puros possuíam o poder do byakugan, que poderia exceder os limites de qualquer outra visão.

—Mas...? —Naruto desviou de um galho. Hinata acenou, desdenhando.

—Nada. Olha, já estou vendo as glicínias —Apontou para distrair a conversa. A visão das flores lilases-brilhantes estranhamente causou arrepios no Namikaze; assim que a barreira de árvores foi se aproximando, o frio também veio numa grande onda. Naruto torceu a expressão ao sentir sua pele quente entrar em contato com a atmosfera congelante.

—Isso é neve? —Questionou quando adentraram mais fundo na floresta, ao mesmo tempo que pisou em falso na imensidão branca que cobria o chão. De uma vez só, a neve engoliu suas pernas até quase chegar nos joelhos. Hinata riu.

—Sim. Pise mais suave, ou vai ser engolido por ela —Ajudou-o a sair do buraco, soltando risadinhas ao ver a expressão envergonhada dele.

—É bonita —Se referiu a paisagem, pisando com cuidado. A partir daquele ponto, onde estava a maior árvore de Glicínias, tudo estava branco. As árvores estavam cobertas por geada desde o tronco até cada folha e flor, e o ar era tão gelado que sufocava.

—Você acha? É melhor quando a gente se diverte com ela —A moça esfregou as mãos, rindo fraco.

—Se divertir co-... —A frase do loiro foi cortada quando sentiu algo gelado espatifar na sua bochecha. Incrédulo, se virou para a menor, notando a bola de neve em sua mão.

O sorriso dela era incrível, e ele se sentiu meio abalado, quase não sentindo raiva quando a segunda bola atingiu-o bem na testa e ela saiu correndo, se escondendo entre as árvores.

Rapidamente Naruto reuniu neve em suas mãos, descobrindo ser muito fácil fazer uma bola (ainda mais com suas mãos grandes). A risada dela denunciou seu "esconderijo" e, animado, tratou de acertar a moça bem nos cabelos. A neve branca em contraste com seus cabelos escuros parecia uma pintura.

—Você aprende rápido, mas eu ainda sou a melhor em guerra de bola de neve! —Retrucou ao acertar Naruto duas vezes seguidas, rindo e reunindo mais neve enquanto corria pra longe.

De certa forma, ele esperava perder. Ela tinha uma ótima mira e visão, afinal de contas; mas apenas o prazer de ver o sorriso dela fez o Namikaze continuar brincando.

Corriam como duas crianças entre as árvores, e o frio não os incomodava. As risadas ecoavam pela floresta congelada, e suas mãos estavam vermelhas e dormentes pelo contato com a neve.

Mesmo no escuro, ele conseguia enxergar ela perfeitamente. Ainda batia nos galhos, tropeçava e enterrava os pés na neve. Mas a cor dos olhos dela sempre aparecia perfeitamente para si, sempre conseguia enxergar a silhueta dela, o seu sorriso.

Naruto riu. Ele não podia negar, não podia fugir dos seus próprios pensamentos.

Estava apaixonado.

—Naruto-kun! —Ela gritou risonha ao jogar uma bola de neve bem no nariz do loiro, correndo e, pela primeira vez, tropeçando. Seu pé esquerdo afundou na neve e ela caiu de cara no chão, ainda rindo.

—Hinata! —Limpou o rosto gelado pela neve e correu até ela, ajudando-a a sentar e admirando sua risada sem fim. Seus olhos estavam fechados de forma adorável, e ela tentava cobrir a boca. Naruto suspirou, segurando as bochechas dela e observando a risada diminuir até se tornar um sorrisinho tímido.

Os olhos dela ainda estavam fechados. Ela se inclinou, os lábios num bico fofo. E o beijou.

A noite fria e escura pareceu parar por um momento, sem barulhos, sem brisas frias. Os dedos tocaram o pescoço do Namikaze, incrivelmente quente mesmo com a temperatura ambiente.

Ofegou contra os lábios dele. Ele sorriu.

Do meio das árvores, no meio do silêncio, um soldado do clã da Lua apertou os olhos para a cena, sorrindo de lado.

[...]

—Obrigada por hoje —Hinata sussurrou. Estavam parados na barreira de árvores que dividia as terras dos clãs. Agora vestia todos os seus casacos, com os cabelos presos e úmidos pela neve, e as bochechas rosadas.
A sua frente, Naruto exibia um sorriso indecifrável.

—Eu quem deveria agradecer, Hime —Ele olhou para as árvores. Apertou os lábios. —Se cuide. Está escuro, e é bom apagar as pegadas na neve.

Ela assentiu timidamente, olhando para baixo.

—Claro. Então...adeus? —Ainda olhava para seus pés quando a mão dele foi até seu queixo, levando seus olhares a se fixarem mais uma vez.

—Até amanhã —Corrigiu antes de roubar um longo selar da moça.

E mais uma vez, Naruto observou Hinata sumir entre a escuridão das árvores.

O herdeiro enfiou a mão no bolso de sua calça, retirando uma jóia dali.

O colar de Hinata reluziu. O pingente de Lua parecia queimar sua pele.

Voltou a guardar aquilo consigo.

HantaiOnde histórias criam vida. Descubra agora