Capítulo dezenove

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"Na primeira vez que o majestoso Sol nasceu, seu brilho divino cortou o céu de leste a oeste, e mergulhou a escuridão fria da noite no seu poder caloroso. Ele havia nascido assim, do poder e do calor silencioso, sem grandes complexidades. Era ele, o Sol, e seu companheiro, a Lua. E por todo o espaço ao seu redor, estrelas menores salpicavam sua visão. Mas ainda que possuísse o trabalho de iluminar os dias, e ainda que pudesse ver uma face da Lua, o Sol se sentia solitário em sua órbita.

Lua era um companheiro bom, competente, e silencioso. Ele não mostrava sua outra face, não dava muitas palavras, e não fazia nada além do que deveria. Nele não havia graça; nele o Sol não enxergava a alegria e o calor que podia sentir nos humanos, nos animais. Ele não sentia profundo amor, tampouco ódio; não tinha expressões, reações. O que o Sol poderia ter dele, além de silêncio?

Tamanha foi sua solidão e desespero, que durante uma noite de Lua cheia, desceu para a Terra e se misturou entre os humanos. Ele, Deus poderoso, era onisciente, e tudo ao seu redor ele podia ouvir, sentir e compreender. Ele conseguia ler os humanos, célula por célula, conseguia entender a língua dos animais selvagens, e também daqueles que viviam junto dos humanos.

Não havia graça. Não havia emoção em saber tudo; ele queria alguém desconhecido para que pudesse explorar cada pedaço de sua mente, alguém para admirar o silêncio e o mistério.

Foi assim, então, que o Deus Sol encontrou a raposa.

O único animal que ele não podia ler. Os olhos profundos cheios de um brilho travesso, uma perversão infantil, mas não inocente. O pelo belíssimo no tom alaranjado, a cauda majestosa; era o animal mais majestoso e misterioso que o Sol já havia visto.

E, assim pensando, tomou para si a raposa, a qual nomeou Kurama.

E não havia no universo um ser mais apreciado que sua raposa; ao seu lado no seu trono, Kurama tornou-se a raposa imortal de nove caudas, com a pelagem dourada.

Tenko Kitsune, sua preciosa raposa celestial, onisciente e sábia."

Naruto terminou o conto, olhando curioso para Hinata, sentada ao seu lado.

—O que achou?

—Interessante —Soltou um risinho. —O Deus Lua tem o tigre branco. Também é um animal sagrado para nós.

—Ele é um animal todo pomposo, combina com vocês —Zombou risonho, encarando os olhos bonitos dela alguns segundos.

—Me acha pomposa?

—Nobre é uma palavra melhor —Ele deixa o livro de lado, e sorri para ela. —Como uma princesa.

—Vai me deixar mal acostumada com esses elogios.

—Essa é a intenção, hime —Com um gesto carinhoso, deslizou os dedos pelo rosto bonito dela; —E eu ainda não achei uma palavra que expresse o que penso de você.

—Para de falar assim —Começou a rir meio nervosa, desferindo um leve tapa no rapaz. —Me deixa sem graça.

—Não é a intenção —Mentiu. Ela ficava adorável quando estava com vergonha, mas era melhor guardar isso; —Eu só não posso evitar.

—É melhor ficar em silêncio, então.

De primeira, ele não compreendeu o que ela quis dizer. Só entendeu as palavras quando ela juntou seus lábios num beijo lento.

Tudo bem, ele não gostaria de ter aqueles pensamentos, não com ela mas, ter Hinata em seus braços era a perdição certa. Ele não podia evitar; suas mãos sentiam a maciez da pele dela mesmo por cima do quimono. Os lábios doces, a respiração pesada, o jeito como ela passava os braços por seus ombros, como suas unhas curtas deslizavam pela sua nuca.

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