Capítulo doze

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Estava frio no clã da Lua.

Embora fosse primavera, Hinata estava gelada quando entrou em seu quarto na madrugada. Tirou suas sandálias sujas, sentiu a textura do tatami, e uma brisa fria entrou pela janela ainda aberta. Seus dedos trêmulos se apertaram contra o tecido da própria roupa, e então, ela sorriu.

Sorriu com toda sua força, sentindo suas bochechas doerem. Estava gelada por fora, mas estava tão quente por dentro. Sentia seu interior remexer, queimar, ela sequer sabia explicar. Tentou segurar aquilo, seja lá o que fosse, estava transbordando.

Mas por fim, acabou rindo.

—Qual é, tô com medo de você rindo sozinha assim.

Hinata sufucou um grito, se virando rapidamente e vendo que era apenas Hanabi deitada em sua cama com o mesmo sorriso travesso de sempre.

Ara ara... —Ela riu, se sentando no colchão e levantando a sobrancelha. —Estava tão distraída que nem me viu?

A mais velha suspirou desconcertada, concordando.

—Desculpa, imouto. Eu estava com a cabeça n-...

—No loirinho, claro —Sorri convencida ao retrucar, gesticulando de forma maliciosa em seguida. —Ele é o motivo desses sorrisinhos aí, hein?

—Hanabi... —Hinata sussurrou envergonhada, tentando fugir da atenção da irmã enquanto tirava as roupas que usava para colocar um pijama.

—Ah, nada de fugir, eu já senti o clima de vocês. Da pra falar comigo?

Ela jogou um dos travesseiros nas costas nuas da herdeira, que resmungou alfo baixo antes de tirar um pijama de seu armário.

—Não tenho nada pra falar.

—Tem sim.

—Não tenho —Rebateu firmemente, vestindo a roupa escolhida e se virando para a mais nova, que expressava um bico emburrado.

—Nee-chan, eu só tenho você. E você só tem a mim. Será que pode contar as coisas para mim do mesmo jeito que conto pra você? —Aquelas foram as palavras certas. Na verdade Hinata queria contar, e aquela foi a última vez em que resistiu.

Seu sorriso voltou, e ela se deitou ao lado da irmã.

—Nós beijamos, imouto —As palavras saíram num sussurro ansioso, que se perdeu abaixo do gritinho surpreso de Hanabi.

—Não acredito! E como foi? —Ela encarou a irmã com uma expressão curiosa.

—Bom...muito bom...melhor do que deveria... —Respondeu um tanto tímida, encolhendo os ombros insegura. —Imouto...agora, falando em voz alta...parece meio-...

—Shhh! —Hanabi interrompeu, sorrindo em seguida. —Você se importa demais com as coisas ao redor. O assunto principal é o loirinho e a boca dele.

Hinata riu, balançando a cabeça sem acreditar em como sua irmãzinha fazia tudo parecer tão fácil. Ainda que pudesse rebater, Hinata decidiu apenas desatar a contar em detalhes sua noite.

[...]

Amanheceu nevando. Simplismente estava nevando no meio da primavera.

Hinata soube disso não porque olhou pela janela, e sim porque seu pai gritava sem parar sobre uma nevasca daquelas ser um mau agouro. Ela tinha chegado tarde, e demorado a dormir; com sorte tinha tido duas horas de sono antes do amanhecer. Como poderia ter nevado tanto em tão pouco tempo? Talvez fosse disso que seu pai estava falando. Aquilo não era normal.

HantaiOnde histórias criam vida. Descubra agora