Hantai

Capítulo quarenta

23 dias para a nomeação da nova líder do clã da Lua.

[...]

"Há um momento no qual você deixa sua humanidade de lado —deixa seu amor, sua empatia, seus desejos e pensamentos mais profundos. Nesse momento, você pisoteia seus valores e os mistura as suas crenças.

Apiloa até se tornar cataplasma, e então, o usa em suas feridas.

Mas elas não se fecham; prosseguem abertas, sangrando divinamente.

E ainda sim, continuamos a apiloar, tentando encontrar a cura.

—C.C.C; H.H." 

[...]

Deixar Hinata havia sido o mais difícil naquela madrugada.

Eles estavam próximos, e ao mesmo tempo, cada vez mais distantes perante os últimos acontecimentos. Vê-la chorando, tão vulnerável, não havia ajudado Naruto a se afastar dela; seus dedos tremeram, frios como uma nevasca quando a observou se misturar as sombras e sumir.

Todas as despedidas lhe doíam, mas aquela havia sido a pior até então. Como sempre, esperou um tempo ali, em meio às árvores, o ódio pela maldita rivalidade dos clãs fazendo suas vísceras queimarem com ânsia —não àquela relacionada ao vômito, mas àquela que o fazia querer cruzar aquela floresta e buscar sua mulher, sem importar o que lhe custaria.

Ela estava sozinha.

Ele não poderia secar as lágrimas dela, ou fazer piadas e a beijar até ela esquecer tudo o que a magoava. Não podia proteger ela das "desavenças do clã" ou mesmo garantir que ela pudesse comer rolinhos de canela sempre que quisesse.

O coração do líder estava apertado quando ele finalmente se virou, e voltou para casa.

Ainda não havia amanhecido, portanto tratou de ficar em seu quarto e esperar algum tempo até o Sol surgir timidamente no horizonte. Seguiu todos os passos que repetia todas as manhãs até estar pronto para ir até seu escritório, e, para sua sorte, sua mãe estava lá.

Ele acreditava fielmente que ela sabia de tudo apenas com o olhar, mas, ao que parece, talvez nem o olhar fosse necessário. Enrolada em um vestido verde simples e um casaco leve de um tom mais claro, ela parecia saber que deveria estar ali. Seus olhos tempestuosos analisaram o filho adentrar a sala, e ela sorriu com sutileza.

—Bom dia.

—Você conheceu Hiromi Hyuuga? —Naruto deslizou para se sentar em sua cadeira, olhando-a sério. Kushina levantou as sobrancelhas, e afastou uma mecha do cabelo ruivo para trás da orelha, dizendo;

—A muito tempo, sim.

—Nunca me falou sobre isso.

—Você nunca perguntou.

—Mãe... —Levantou um pouco o tom, frustrado com as represálias. —Estou falando sério.

—E eu também —Teimou, se inclinando sobre a mesa e encarando Naruto de uma forma que o fez estremecer. —Eu não tinha motivos para te contar isso. Ou por acaso acha que a senhora do clã do Sol deveria contar historinhas conspiratórias 'pro herdeiro?

—Pode contar agora, já que o herdeiro é o novo líder e ele é a própria conspiração.

Kushina estreitou os olhos.

—Como descobriu?

—Eu não descobri nada —Pausou, deslizando os dedos sobre a mesa e batucando-os sobre uma pilha de papel. —Hinata encontrou um trecho no diário da mãe dela que mencionou você. Disse que o nome dela era uma homenagem a você.