Eu estava obsecado. Já havia demitido e agora estava pronto para dar o meu próximo passo: expulsá-la do apartamento em que morava. Eu o comprei e já estava com os documentos e papéis em mão, aguardava apenas o fim do expediente para poder executar o meu plano. Pode parecer algo infantil, mas eu não deixaria barato todas as vezes que ela me respondeu com grosseria. Quem ela pensava ser? Não passava de uma negra insignificante. Eu a odiava, a odiava com todas as minhas forças. Eu nunca senti esse tipo de sentimento, mas com ela é inevitável. Sua petulância era irritante, a final por que mesmo foi abolida a escravidão? É óbvio que pretos são diferentes de mim, tanto no caráter quanto na educação, sem contar que as mulheres, que são muito mais atraentes e corretas do que negrinhas. Na faculdade até tinha uns colegas que gostavam de se exibir dizendo o quanto elas eram fodas na cama, quentes e atendiam a seus "pedidos", como se isso fosse algo relevante para se gabar. Mas namorar mesmo, somente um desse grupo namorava e muitas das vezes ele parecia se envergonhar, além da família não aceitar. Está aí algo que eu não precisarei temer, nunca me interessei e jamais pretendo tocar em uma. E não é nem pela rigidez do meu pai mas também porque só em ter esse pensamento já me arrepio por inteiro. O asco que eu sinto é como um barulho ensurdecedor.
Olhei o relógio no pulso e ainda não era hora, bufei e me levantei para beber água. Assim que olhei o copo me subiu uma raiva imensa, pois me lembrei dela imediatamente, do dia em que bebeu água sem a minha autorização. Era incrível como ela era sem noção. Deixei a água de lado e voltei a me sentar mas assim que recostei na cadeira, a porta é aberta brutalmente e eu já posso revirar os olhos sabendo quem era e o que viria a seguir._Por que você demitiu a Aline? - Ricardo interroga parando em minha frente me olhando com raiva
_Ela me faltou com respeito. - Respondi bem calmamente
_Você quer mesmo falar de respeito? e todas as vezes que você a humilhou com injúrias e calúnias? - O olhei e ele estava até vermelho
_Falei foi pouco, ela merecia ter ouvido muito mais. E porque está tão fissurado neste assunto? - O olhei curioso, estava a fim de saber sua resposta
_Ela é uma boa moça, fazia muito bem o trabalho dado á ela.
_Pelo visto exercia outro trabalho para você, não é? - Provoquei e ele passou a mão no rosto e se virou
_Nunca tivemos nada! Deixa de ser estúpido. - Se virou para mim novamente
_Pois não é isso que parecia, e outra não tiveram porque provavelmente você não quis. - Me levantei exaltado
_Se não tivemos algo a mais é porque ambos não tiveram vontade, mas saiba que eu adoraria ter uma garota tão linda e inteligente como ela ao meu lado
- Apontou o dedo no meu rosto_Me poupe Ricardo! Acha mesmo que garotas como ela são para apresentar a família e sair como casal? Para você o mínimo é uma noite. - Agora éramos nóis dois com raiva
_Você não a conhece, então pare de julgá-la como se fosse perfeito.
_A única coisa que preciso ver para saber do caráter é a sua cor, e isso eu já vi. - Ele me olhou com os olhos enfurecidos, suas pupilas chegavam a dilatar
_Você é mesmo um merda, não sei como não enxerguei isso antes, ou talvez eu não quisesse enxergar! - Se virou e foi andando
_E você é um idiota que gosta de bancar o bom samaritano, mas se gosta tanto daquela negra suja fique com ela. - Ele parou e eu continuei - Saia daqui! Está demitido! - Esbravejei furioso
_Obrigado por me poupar de pedir demissão! - E saiu batendo a porta
_IDIOTA!!!! - Gritei e derrubei tudo que tinha na minha mesa
Até nisso aquela desgraçada estava enfiada, ela consegiu me tirar o meu único amigo. Mas ela sofreria, e eu não tardaria.
Saí da minha sala e fui até a recepção, eu precisaria de uma nova secretária e alguém para o RH, e rápido.
Passei e todos me olhavam surpresos, talvez pelo meu estado mas dane-se. Saí e entrei no meu carro em direção ao edifício. Assim que cheguei logo vi que era um lugar asqueroso, perfeito para a própria. Sequer havia porteiro ou alguém para atender, o portão ficava aberto e o corredor era nojento. Liguei para o ex dono e soube que pelo menos tinha uma síndica, que não servia para nada já que o prédio era um lugar totalmente aberto e sem segurança. Bati no apartamento dela e ela rapidamente abriu a porta e assim que me viu deu um sorriso de lado. Era uma mulher de aparentemente 50 anos, com roupas de dormir e gorda. A olhei de cima a baixo e ela ficou um pouco sem graça. Então tratei logo de adiantar o assunto._Você é Rosemere, a síndica do edifício? Avise aos moradores que o novo dono almeja falar com todos no pátio do prédio, e que sejam rápidos. - Saí e fui para o pátio esperar
Meu coração estava acelerado, não sei o porquê, e a cada morador que chegava ficava mais e mais. Estava apreensivo e quando ela chegou eu pude sentir o suor em minhas mãos. Seu olhar cruzou o meu e eu me manti impassível, enquanto ela olhava com curiosidade. Vestia roupas simples e sua face transparecia aflição. Mas eu logo transformaria a sua aflição em tristeza. Assim que todos chegaram segundo Rosemere, eu tomei a palavra.
_Caso alguns aqui não saibam, eu comprei este edifício. - Todos se olharam com surpresa, sem entender, até que um morador se aproximou cautelosamente
_E o senhor tem planos para este edifício? - perguntou receoso
_Não, apenas estou os informando. Podem continuar seguindo normalmente suas vidas...- Comemoraram alegres - Exceto uma única pessoa.
O sorriso em seus rostos sumiram e cada um se entre olhou, com excessão dela. Ela sabia que eu me referia à ela. Seu olhar foi tomado por uma lágrima que ela tratou logo se limpar, e em seguida levantou os olhos para mim e estavam inchados. Ela devia ter chorado muito para estar daquela forma. E se dependesse de mim choraria um pouco mais...
_Acredito que a pessoa em si já está ciente! - Me aproximei dela e dei um riso irônico
_Por que você tem prazer em me machucar? - Seu olhar triste era notório
_Isso é só o começo! Como bem sei que você não tem como pagar o aluguel precisarei fazer algumas mudanças por aqui. - Esse sabor da vitória é delicioso
_Eu não tenho nenhum aluguel atrasado, que eu me lembre.
_Mas em breve terá, a final você não tem um emprego, não é? - sorri e ela me olhou cabisbaixa
_Não, não tenho! Mas eu faço bicos, não será nenhum problema para mim. - Sua persistência me irritava
_Se liga! Eu não irei alugar meu apartamento para você transformá-lo em um bordel, sei muito bem os bicos aos quais se refere.
_Eu nunca lhe fiz nenhum mal para me tratar assim. - Suas lágrimas começaram a cair e ela tremia
_Você cruzou o meu caminho e isso já é o suficiente. - Olhei ao redor e as pessoas nos olhavam curiosos
_Eu tenho muita dó do senhor, de verdade. Deve ser péssimo viver nessa carcaça cheia de ódio e furor. - Ela secou as lágrimas e se virou para sair
_Eu quero você fora daqui até amanhã, e virei ver se já esvaziou o apartamento. Não quero nenhuma tralha sua lá e nem aquele gato vira-lata.
_Pode deixar... - Foi andando até se perder pelo corredor
Os moradores me olhavam com caras de interrogação e eu simplesmente suspirei, andando para a saída em seguida. Tudo estava nos conformes e agora faltava pouco para terminar de vez tudo isso e eu poder descansar em paz. Fui dirigindo em direção ao meu apartamento e me veio a cabeça o Ricardo, aquele babaca era a única pessoa que eu tinha, e agora nem ele. Mas eu não me desculparia, não havia feito nada de errado. Peguei meu celular e fui pesquisar no google uma nova informação e assim que a pesquisa foi concluída eu abri um sorriso.
Eu já tinha um próximo passo e colocarei em prática o mais rápido possível. Estou apenas no início...Edit ☘
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O outro lado do amor
FanfictionNenhuma linha se cruza por acaso, certo? Cristopher Magalhães é o homem que encanta a qualquer mulher, aparentemente destemido e egocêntrico, e ao mesmo tempo frágil e intrigante. Aline Dias está fora de qualquer padrão, é sensível mas também dete...