Capítulo 11 🌼

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Após mais uma humilhação, eu estava exausta. Enquanto arrumava as poucas roupas que eu tinha em uma mochila, olhava para o nikki e repensava tudo o que estava acontecendo. O senhor Magalhães deveria me odiar muito mesmo, para se preocupar em desgraçar a minha vida. Acariciei o gatinho em meu colchão enquanto algumas lágrimas rolavam em meu rosto, olhei todo o ambiente ao redor e me entristeci mais ainda. Tudo estava dando errado! Eu não tinha dinheiro para alugar nenhum lugar, por mais barato que fosse, estava em um beco sem saída...
Ouvi batidas na porta, então rapidamente limpei as lágrimas e perguntei quem era, e adivinha?
Abri a porta e ele foi entrando observando o local, em seguida olhou para mim com as minhas coisas.

_Espero que tenha pegado todas as suas tralhas, não quero que fique nenhuma muamba para trás. - Disparou com toda a sua arrogância

_Não se preocupe... - Eu sequer tinha forças para tentar argumentar, e também seria inválido qualquer coisa que eu falasse

Ele me olhou dos pés a cabeça e deu um sorriso sarcástico

_Não pense que acabou! - Sua fala me deu um arrepio, o que mais ele poderia fazer para me desestabilizar?

_Por favor, só me deixe em paz. - Soou como uma súplica mas ele era impassível

_Saia logo, sua estúpida. A sua presença aqui está me irritando. E leve este vira-lata nojento daqui. - Olhei para o nikki e o peguei no colo

Peguei a barraca e com muito sacrifício consegui sair debaixo do olhar soberbo daquele cruel. Quando cheguei na rua bateu uma tristeza, eu não tinha nada, não sabia para onde iria e nem o que faria então apenas olhei para os céus e em seguida para a barraca. Se eu conseguisse vender uma determinada quantidade hoje talvez poderia pagar um lugarzinho. Comecei a andar até o ponto, ainda era cedo então talvez eu teria êxito. Assim que cheguei, começei a montá-la, coloquei o nikki em baixo dela juntamente com a mochila. Aqueci o óleo e comecei a preparar a massa e o recheio. Terminado eu preparei o refresco e fui a luta, tentando atrair o máximo possível de clientes. Minutos depois ouço o toque do meu celular, era o vovô e eu não tinha estruturas para atendê-lo, mas o fiz...

_Oi vô, Bença! - Tentei não transparecer a aflição e o medo

_Oi minha guerreirinha, Deus te abençoe! Eu estava com saudades. Nós estávamos - Anne não perdeu a oportunidade e gritou da outra linha

_Eu também vô, é que eu estava sem tempo sabe? Me desculpe...

_Tudo bem, eu entendo. Está trabalhando muito e não sabe como me deixa orgulhoso. - Um nó se formou em minha garganta

_É sim, me desculpe a indelicadeza mas posso ligar mais tarde? é que eu estou um pouquinho ocupada. - Eu tive que encerrar a conversa, se não eu acabaria contando e o deixando mais preocupado

_Claro filha, desculpe a mim. Eu não deveria te ligar no horário do seu trabalho. Fica bem tá? vovô ama você!

_Eu também amo você vô, amo de mais - Estava sendo mais difícil do que eu imaginei

_Tchau irmãzinha, beijo! - A voz da minha irmã me fez dar um pequeno sorriso, por mais difícil que fosse fazer isso no momento

_Tchau princesa, amo você! - Desliguei e uma lágrima desceu por minha face

Eles precisavam de mim e eu estava sem rumo. Suspirei e fiz o que precisava ser feito: levantei a cabeça e fui a luta
Vendi alguns pastéis e no fim da tarde contei as economias, mas infelizmente não havia o necessário para pagar um lugar. E eu me vi sem saída novamente. Fechei a barraca, peguei tudo e saí andando sem destino. Quando a noite já chegava eu fiquei sem escolha, então parei no parque e aos poucos me adaptei ao local; aquela seria a minha noite mais longa em todos esses anos. Estava vazia mas mesmo assim eu me sentia vigiada. Tratei de tirar aquilo da cabeça e tentar descansar um pouquinho. Peguei uma calça e coloquei como apoio para a cabeça, eu não tinha nenhum lençol ou coberta, então vesti uma blusa de manga para tentar me aquecer naquela noite fria e me deitei no banco da praça. Assim que fechei os olhos, minha mente me colocou a par de tudo o que estava acontecendo, tentei não pensar nisso mas era inevitável, eu já podia sentir os enjôos e a mente a milhão, mas eu não poderia, ali não. Tentei pensar em outras coisas para afastar a crise de ansiedade e por incrível que pareça funcionou. Cochilei um pouquinho mas acordei com um barulho, abri os olhos lentamente e vi um homem na minha frente, estava mexendo nas minhas coisas e ainda não havia percebido que eu já acordara. Fiz menção de me levantar, ele olhou assustado, em seguida pegou a barrca e saiu correndo. Me levantei rapidamente e fui atrás dele correndo e gritando desesperadamente, mas ele era mais rápido. Corri até cansar e foi em vão, ele havia roubado o meu ganha pão. Voltei para a praça desnorteada, cansada e no limite. Sentei no banco e peguei o celular, era 1:00 e eu não tinha nem um pingo de sono. Tudo isso que estava acontecendo era de mais para mim, a minha cabeça parecia que ia explodir a qualquer momento. Suspirei cansada e acariciei o nikki que acordou também. Um vento frio passou e eu me encolhi no banco sentada, o segurando com o coração doído e aos prantos. Aquela noite seria longa...

A luz do dia já se fazia e eu ainda estava na mesma posição. As pessoas já começavam a circular e eu estava ali, sem perspectiva, sem rumo e sem forças.
Olhei ao redor e o tempo estava virado, provavelmente caíria um toró e eu teria que me abrigar em algum lugar, mas como?
Peguei a mochila com o nikki e fui para debaixo de uma guarita, estava vazia, ainda bem. Sentei, encostei e fechei os olhos por um instante, mas esse instante foi crucial. Assim que os abri, nikki caminhava para o meio da rua e próximo a ele já vinha um carro em alta velocidade. Só deu tempo de me levantar e gritar

_Não!!!!!! - O som da batida foi baixo mas eu pude escutar.

Saí correndo em direção a rua e parei na frente do seu corpinho ensanguentado. O motorista sequer parou.

_Nikki, nikki... - O desespero tomava conta de mim. - Não, não, não, não, não. Nikki por favor!

Eu não conseguia assimilar tudo isso que estava acontecendo, tantas desgraças ao mesmo tempo, eu estava péssima.
E o que já estava ruim, ficou pior ainda. A chuva começou a descer e os carros buzinavam irritados ao redor. E eu só queria ficar ali.

_Sai da rua, maluca! - Berrou um homem que estava querendo passagem

Olhei ao redor, tudo parecia flashs e flashs. Com uma tristeza aparente, peguei o corpinho do meu nikki e saí da rua. Seu sangue sujava a minha blusa, as lágrimas se misturavam com a chuva e o meu corpo estava inerte. Peguei a mochila e saí andando sem enxergar nada a minha frente. Ouvia gritos e buzinas mas eu simplesmente ignorava. Eu me sentia fora de mim, meu corpo andava, mas eu não sentia nada, não via nada e sequer sabia para onde estava indo. Ouvi um freado brusco e parei, olhei para cima e o motorista saiu na chuva. Pensei que fosse me xingar ou algo do tipo mas não. Ele me olhou entristecido ao mesmo tempo que assustado. Eu já o havia visto antes, mas minha visão estava muito turva. Ele se aproximou, me segurou pelos braços e me olhou novamente e eu o reconheci. Dei um vislumbre de sorriso ao vê-lo novamente

_Ricardo!

Foi só o que consegui falar antes de tudo ficar preto e instantaneamente cair sendo segurada em seguida por ele.

Edit 🌼

O outro lado do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora