Capítulo 27 🌼

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Que karma era esse que eu estou pagando? Porque para ter sido mandada justamente para a casa do carrasco só podia ser um karma, e dos cruéis.
Cheguei em casa e joguei a bolsa no sofá em seguida sentei, joguei o tênis e suspirei.
Novamente nós estávamos perto, para o azar de ambos, ele precisava de uma empregada e eu de um emprego, então, cá estamos. Subi para o meu quarto e tomei um banho relaxante. Tentei não pensar por agora que ele seria o meu chefe novamente, e sim que eu tinha conseguido um emprego e poderia dar um novo rumo para a minha vida. Saí do banho e deitei de roupão na cama. Fiz uma breve ligação para o meu vô e fui fazer algo para Ricardo comer quando chegasse.
A noite já estava caindo e eu já estava preocupada, já tinha passado da hora do Ricardo chegar e nada dele. Fui para o quarto e me deitei. Depois de algum tempo eu ouvi passos e vi a porta ser aberta. Me levantei da cama assustada e era ele. Corri em sua direção e o abracei.

_Meu Deus Ricardo, o que aconteceu? - Ele retribuiu o abraço e sua respiração estava ofegante

_Me desculpe, é que... - Ele não terminou de falar e começou a chorar

_Ei? Está tudo bem... eu estou aqui, okay?! - O abracei mais forte e ele me apertou ainda mais

Ele parecia uma criança chorando em meus braços, o apoiei até a cama e ele deitou-se em meu colo. Abraçou a minha cintura e chorou ainda mais. Aquela cena estava de cortar o coração. O Ricardo sempre foi tão bom comigo e agora estava aos prantos. Não era nem a sombra daquele homem forte e imponente que me defende com unhas e dentes. Ele era um homem frágil e sensível, não somente pelas lágrimas mas por sua coragem em desabar assim na frente de alguém. A gente se conhecia a pouco tempo por isso essa sua atitude me desestabilizou, eu não pensei que ele se sentisse tão bem assim em minha presença, a final não é para qualquer um que alguém mostra o este lado mais indefeso.
Acariciei os seus cabelos e aos poucos ele foi parando de chorar e fungar. Se levantou e seus olhos ainda traziam resquícios das lágrimas disparadas a alguns minutos atrás. Sua expressão era tão triste que eu só tinha vontade de guardá-lo em um potinho e protegê-lo para ninguém o machucar.

_Você quer conversar sobre o que aconteceu? - Tentei fazê-lo falar

_É uma longa história...

_Eu tenho muito tempo! - Coloquei a minha mão sobre a sua como ele sempre fazia em gesto de apoio

_O meu pai esteve na loja de autopeças hoje, ele ia comprar algo até me ver ali. Assim que seus olhos se recaíram sob mim ele começou a desferir ofensas e me humilhar diante de todos ali presentes. - Contou-me com um olhar tão triste

_Céus! Eu não acredito nisso, como ele pôde? - Me levantei exaltada passando a mão na testa

_Ele disse que eu sou um imprestável, que não me considera mais como filho dele e quer que eu continue mantendo distância dele e de minha mãe. E o resto foi pura humilhação. - Contar aquilo parecia o deixar mais triste, então tratei logo de o amparar

_Você não é nada disso Ricardo, pelo contrário, você é um homem incrível. Na verdade a melhor pessoa que eu já conheci. E se eles não enxergam isso, azar o deles. São eles que perdem por não ter alguém tão especial assim por perto! - Passei a mão por seu rosto e ele esboçou uma reação

_Obrigado por suas palavras. - Colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha - Mas é difícil, sabe?!

_Eu imagino poxa, é a sua própria família. E por mais que você fale, não adiantaria. Não dá para mudar alguém que não vê problema nas próprias atitudes.

_É verdade. Infelizmente é verdade. - De repente ele abaixou o olhar, parecia envergonhado - E depois disso eu fui a praia e bebi um pouco para tentar esquecer esse ocorrido. Me desculpe por te deixar preocupada.

_Está tudo bem. Eu estou aqui com você, tá? - O abracei novamente

_Muito obrigado, de verdade. Você é mesmo uma mulher incrível! - O soltei e me levantei o puxando

_Agora vamos, você precisa comer! - Tentei levantá-lo mas ele nem saiu do lugar

_Não estou com fome!

_Mas vai comer mesmo assim, é para o seu bem. - Ele se levantou e eu fui o arrastando

_Só se tiver sobresesa. - Me chantageou descaradamente

_Pode ser brigadeiro? - Dei idéia, era rápido e prático

_Eu irei adorar! - Fomos para a cozinha e eu esquentei a comida no microondas.

Fiz o brigadeiro enquanto ele comia e deixei esfriar. Ficamos a noite inteira conversando amenidades, tentei destraí-lo para que não pensasse no ocorrido mais cedo e pelo visto funcionou um pouco. Comemos o brigadeiro e ficamos rindo de algumas coisas engraçadas que já aconteceram conosco. Ao fim da noite já estávamos cansados que nos deitamos nos sofás na sala e cochilamos. Porque o dia já amanhecia lá fora e já estava na nossa hora.
Olhei para o sofá que ele estava e fiquei triste, ele não merecia passar por nada daquilo. Fui para o meu quarto me arrumar e saí deixando Ricardo descansando, ele precisava disso.
Peguei o ônibus e parei no ponto, tendo que caminhar até o prédio do carrasco.
Bati na porta e nada. Ué, depois ainda vai reclamar do atraso!
Bati novamente e não obtive resposta. Já ia desistindo e indo embora, até que toquei a fechadura e ela girou, abrindo a porta em seguida. Respirei fundo e entrei, deixei a bolsa na copa e comecei a trabalhar. Pelo visto o idiota já tinha saído. Limpei cantinho por cantinho, deixei o seu quarto por último pois provavelmente não teria tanta coisa para fazer. Peguei o pano, rodo, e produtos de limpeza e subi. A porta estava aberta então entrei e fechei a porta atrás de mim. Quando me virei tomei um susto enorme, com certeza eu estava igual uma panela de pressão.

_Ahhhhhhh! - Gritei apavorada e derrubei o balde d'água no chão

A sua expressão foi inédita, ele também estava surpreso quando me viu, mas seu grito foi abafado pelo meu.
A cena na minha frente seria hilária se não fosse vergonhosa para ambos. Ele estava vermelho e eu, talvez estivesse também, até porque ver o senhor Magalhães de cueca era de longe o que eu esperava encontrar aqui.




Edit 🌼

O outro lado do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora