O outro lado do amor

Capítulo 37 🌼

Acordei sentindo o corpo um pouquinho ruim. A luz entrava pela fresta da cortina e eu me sentia enjoada. Não me recordo da noite anterior, somente que fui a uma boate e conversei com um cara. Sentei na cama sentindo o meu corpo ainda mole, o que aconteceu para mim estar assim? Comecei a me questionar sobre isso, até que noto o lugar em que eu estava. Essa não é a casa de Ricardo e muito menos o meu quarto. Será que...? Não! Eu tinha ficado com um homem e sequer me recordava?! Meu Deus, como eu pude ter sido tão burra assim? O pânico começou a me tomar e em um impulso eu me levantei e caí. As minhas pernas não tinham forças.  A porta foi aberta e rapidamente fui amparada, mas tomei um susto ao ver quem era o homem em minha frente.

_Menina, não se levante, você ainda está muito fraca! - Ele me segurou e me levou até a cama

Eu fiquei paralisada enquanto ele me deitou na cama e colocou o edredom sobre mim. Suspirei e fiquei o encarando. Eu não acredito nisso, eu tinha meu deitado com o carrasco. Meu Deus, que estupidez é essa que eu cometi? Tinha que ser logo ele? E porque eu não me lembrava de nada? Eram tantas perguntas que rondavam a minha cabeça e não encontrava nenhuma resposta em seus olhos, apenas um brilho diferente. Engoli seco e ele ficou me encarando por alguns segundos.

_Está com fome? - Ele se levantou da cama

_Um pouco! - Minha voz saiu baixa e rouca

E eu fiquei mais paranóica ainda! Senhor, porque me desamparaste? A minha cabeça rodava e pude ver ele sair. Respirei e virei a cabeça para o lado. As lágrimas começaram a rolar e eu me senti horrível. Eu tinha me entregado para ele e com certeza agora ele ia me tratar pior do que antes. E eu não me lembro de nada, para piorar. Eu me guardei todo esse tempo para alguém especial, e queria que fosse um momento incrível para ambos e tudo tinha ido ralo abaixo. Eu comecei a ficar aflita e me levantei novamente, forcei as minhas pernas a andar e ele entrou com uma bandeja. Assim que me viu de pé, ele a colocou sobre a mesinha ao lado da cama. E começou a me seguir, enquanto eu me arrastava me segurando pela parede.

_Aonde você vai? Não pode sair! - Ele veio atrás de mim e eu me apoiei no coredor

_Você não manda em mim! - Tentei andar e senti uma tontura

_Pare de ser teimosa, você não consegue sequer se manter em pé! - Protestou e tentou me tocar

_Não me toca! - Alterei a voz um pouco e senti a cabeça girar - Não vou ficar aqui para ser escorraçada por você! - Comecei a chorar novamente

_Eu não vou te fazer mal, só quero que se deite e coma algo. Você está fraca e pode ficar pior. - Ele me segurou e me condiziu até a cama

Me sentei, ele sentou-se também ao meu lado e pegou a bandeja.

_Eu não sei o que você gosta de comer, então comprei variados. - Ele falou colocando a mão na nuca envergonhado

Abaixei a guarda e comecei a comer. Tinha iogurte, pão de queijo, pão de sal e presento. Peguei o pão de queijo, típico da minha terra e comi. Entrou rasgando a minha garganta e eu comecei a tossir. O carrasco deu uns tapinhas nas minhas costas e eu parei. Tomei o iorgute pois me parecia ser a decisão mais sábia no momento. De tomar decisões sábias você está bem longe! Meu subconsciente brigou comigo e eu fechei a cara novamente. Comecei a encará-lo e ele quebrou o silêncio novamente.

_O que foi, não está do seu agrado? Eu posso comprar outras coisas... - Ele se levantou e eu o interrompi

_Não seja sinico, senhor Magalhães! - Ele arqueou a sombrancelha e eu prossegui - O senhor não me engana com esse ar de bom moço.

_Como assim? Eu não estou tentando lhe enganar! - Ele sentou-se novamente e me encarou

_Mentiroso! - Me alterei de novo - Eu sei muito bem das suas intenções, mas não pense que só porque estou assim que o senhor vai fazer o que bem intende.

_Eu não estou entendendo... Do quê você está necessariamente falando? - Ele disse calmamente e isso me irritou

_Da nossa noite! - Gritei em sua face e ele se assustou - Sei muito bem que o que fizemos e acredite, eu me sinto horrível por isso. - Ele se levantou e passou as mãos no cabelo

_Aline, você está... - O interrompi para não ouvir mais nada dele

_Eu estava em uma boate e é a única coisa que me lembro até então. E de alguma forma, eu vim parar aqui na sua casa. Eu sei bem o que fizemos, mas acredite, eu estou me sentindo péssima por isso. De longe você é o cara que eu sonhei para me entregar pela primeira vez, pois para mim isso é algo sério, eu queria que fosse incrível e com uma pessoa que eu amasse. Não com um idiota preconceituoso como você. Mas infelizmente eu sou uma tonta por ter transado com você, logo com você... - Ele se virou de costas e assim ficou

_Nós não... - Me levantei e parei atrás dele

_Mas não se preocupe, eu não vou ficar no seu pé por causa de uma noite. E também não te darei a oportunidade de ser grosseiro comigo! - Já ia saindo mas ele me segurou pelo braço

_Quem deveria estar com raiva aqui sou eu! - Ele disse e eu ri em deboche

_Você deveria é ir... - Ele não me deu tempo de terminar

Me pegou pelo braço sem machucar e eu já fraquinha, fui levada facilmente. Ele me pôs na cama sentada e parou na minha frente.

_Somente pare de falar asneiras! - Ele parecia estar contendo sua raiva

_Então me deixe sair daqui. Eu não quero ficar perto de você!

_Nós não transamos, caralho! - Ele falou até calmo e se virou de costas passando a mão no rosto - Eu nunca faria isso contigo da forma que você estava ontem, mas tem caras que não pensam dessa forma. - Como assim? Então o que aconteceu?

_Eu... - Ele se virou para mim e começou a falar

_Eu estou com muita raiva. Aliás, raiva é pouco. Eu estou puto. Com você, comigo e principalmente com aquele bababa de ontem. - Ele se abaixou e ficou a minha altura - Quer saber o que aconteceu? Eu te falo... Você foi para uma boate ontem e um desgraçado te drogou em algum momento te oferendo um "chiclete" e em seguida te levou para o carro dele atrás do local. Quando eu cheguei ele já estava pronto para abusar de você, pois eu os encontrei semi nus.

Ele deu uma pausa, se levantou ofegante e passou a mão na testa em seguida deu uma bufada. Eu estava estática com todas aquelas informações, ele tinha me salvado e eu estava sendo rude com ele, que me ajudou. Só Deus sabe o que teria acontecido se ele não tivesse chegado a tempo. Então, era por isso que eu não me recordava de nada e meu corpo estava tão ruim. Eu havia sido drogada!

_E o que me deixa mais irritado é, como você pôde ter aceitado algo de um estranho? - Ele se virou me questionando

_Eu não... - Comecei a chorar - Não fazia idéia que isso poderia acontecer, nunca fui a esses lugares.

_Eu imaginei isso mesmo. Mas aquele merda não vai colocar a cara tão cedo, sem contar que a surra que eu dei nele deve me render um processo. - Disse pensativo - Mas valeu a pena!

_Você o bateu? Meu Deus, senhor! - Coloquei as mãos na boca abismado

_Ele mereceu! - Deu de ombros

_E como você sabia que eu estava lá? - Ele deu uma risada de lado e colocou as mãos no bolso da bermuda

_Por coincidência você ligou para mim, só tive o trabalho de rastrear a sua localização. - Seu sorriso agora era timido, e eu fiquei surpresa. Por que eu ligaria logo para ele?

_E... - Dei uma tosse fraca para tomar coragem... - E porque você foi lá me salvar se me odeia tanto?

Perguntei e ele se manteve quieto. Tirou as mãos da bermuda e saiu me deixando ali sem resposta. Voltei para a cama e me cobri. Comecei a sentir muito frio, mas pelo menos agora eu sabia da verdade. Por mais tenebrosa que fosse, era melhor do que me sentir culpada. Eu quase tinha sido violentada e graças ao carrasco eu tinha sido salva. Eu não teria agradecimentos suficientes para ele, apesar dele ter saído antes que eu o pudesse fazer. Felizmente a tragédia foi evitada e logo por alguém tão improvável. Fechei os olhos tentando amenizar a dor de cabeça enquanto uma lágrima escorria. Ele me salvou... Mas por qual motivo ele faria isso? Talvez por pena ou consciência. Mas isso não importava tanto agora neste momento.

_Obrigado carrasco! - Disse baixinho para mim mesma e adormeci

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