Dois coelhos com uma cajadada só. Além de decretar a ruína daquela imunda, eu ainda resolvi o sumiço da minha caneta. A minha família sempre foi muito tradicional e uma das heranças era uma caneta preta com ponta dourada que era passado de geração à geração, desde o meu tataravô pelo que me foi dito. Além do valor, ela tinha um significado simbólico, era coisa de família. Eu sempre a usava em situações mais importantes, a guardava na primeira gaveta da minha mesa no escritório e quando não a encontrei entrei em desespero. Como aquela menina teve a audácia de pegá-la? Sim, porque só poderia ser ela, foi a única suspeita que entrou na minha sala. Não hesitei e fiz uma ocorrência que simultaneamente resultou em sua prisão. Eu sei como funciona as "leis", e se você é negro, com certeza a polícia não duvidará que é culpado e em seguida é cadeia na certa. E foi o que aconteceu, recebi a ligação ontem informando que ela já se encontrava presa, mas não encontraram a caneta. Maldita!
Será que ela vendeu? ou será que está a escondendo?
Me levantei da mesa, deixei o queijo em cima do prato e a empregada que já ia colocar o café na xícara se retraiu. Fiz um gesto para que saísse, peguei o meu celular para ligar para a delegacia mas antes que eu pudesse o meu pai estava a ligar, com muita insatisfação eu atendi. Eu odeio falar no telefone, principalmente com o meu pai._Filho, como vai? - Corta essa, o que ele queria dessa vez?
_Pai, seja objetivo. Não tenho tempo para enrolação.
_Sempre grosso esse meu menino, não há como negar que é meu filho, se parece muito comigo quando eu tinha a sua idade. - Revirei os olhos e peguei um biscoito
_Ai pai...
_Está bem. É sobre a caneta de família, já a encontrou? Tem algum suspeito? - Como ele sabia disso?
_Como o senhor sabe disso? - Eu não havia dito à ninguém em especial
_As notícias correm, meu filho.
_Eu já fiz a ocorrência e prenderam a minha ex secretária, aparentemente foi ela, é a única suspeita. - subi para o meu quarto para me arrumar para sair
_Mas a acharam? - Perguntou curioso
_Ainda não, mas não deve demorar. Eu só espero que ela não tenha vendido, sabe como negros são né? qualquer coisa que veêm já levam para vender.
Meu pai deu um suspiro e um murmuro após a minha fala que até eu me surpreendi.
_NEGRA? como assim tinha uma negra trabalhando no seu escritório? - Sua voz transparecia ira e eu me praguejei por ter esquecido esse detalhe, ele não sabia disso ainda.
_Foi somente uma experiência pai, eu não tinha a intenção de contratá-la.
_Mesmo assim. Você sujeitou os nossos a viver perto de uma negra suja. O que foi? não aprendeu nada do que eu ensinei?
Negros são inferiores e sujos! Não deve em hipótese alguma pensar que somos iguais à eles, porque não somos. - enfatizou como sempre fazia quando eu era criança_Eu sei pai, mas isso é outro assunto. Essa menina nunca mais irá nos incomodar, não sobrará forças para isso. - Falei para mim mesmo
_Acho bom. - Parece ter se acalmado um pouco
_Eu preciso sair pai, tenho um assunto importante para hoje. - Já tinha vestido minha roupa e estava pronto
_Está bem meu filho, até mais tarde. - Desliguei e guardei o celular no meu bolso
Desci as escadas e entrei no meu carro. Fui até a delegacia para averiguar a situação. O delegado foi muito solicito, estava convicto que ela era culpada mas ainda não haviam encontrado a minha caneta.
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O outro lado do amor
FanfictionNenhuma linha se cruza por acaso, certo? Cristopher Magalhães é o homem que encanta a qualquer mulher, aparentemente destemido e egocêntrico, e ao mesmo tempo frágil e intrigante. Aline Dias está fora de qualquer padrão, é sensível mas também dete...