The Change - Beauany

19. Propósito e Cura

Por Any Gabrielly

Perder meu bebê foi como se tivessem arrancado um pedaço de mim, não sei como me apeguei tanto em poucas semanas e nem precisei ver seu rosto pra saber que o amava muito. No começo foi estranho, odiei a ideia e não quis aceitar porque pra mim não era o momento e o pai da criança também não era exatamente alguém digno desse amor, talvez eu tenha depositado um pouco do meu ódio por ele na minha gravidez e por isso a rejeitei a princípio. Mas foi quando conheci Josh e o amor tão puro e genuíno que ele sentia pelo seu filho, foi quando ouvi dele que faria qualquer coisa pelo Ben que eu entendi o real sentido, foi assistindo os dois que eu aprendi sobre a conexão mais maluca e irreal que existe entre pais e filhos.

Ouvir o coraçãozinho da minha sementinha acendeu uma luz em mim, era mágico saber que tinha uma vida crescendo no meu ventre e toda aquela raiva do Max ficou pra trás no instante que me dei conta de que aquela criança era feita de pequenas partes de mim. E ela seria muito mais minha do que dele, eu iria fazer de tudo pra ser a melhor mãe do mundo e mesmo não sabendo lidar com muitas coisas do universo materno, eu faria questão de aprender uma por uma para me entregar a ela. Queria protegê-la de todo mal, queria dar amor por nós dois porque jamais deixaria o babaca se aproveitar dela como fez comigo e não me importaria nem um pouco de fazê-la crescer sem o crápula do pai - mesmo que ele tivesse algum direito, arrumaria todas as provas possíveis de que ele é um perigo para a vida terrestre.

Mas a vida é uma montanha-Russa e de repente tudo mudou, ela se foi e me deixou sozinha com mil porquês sem respostas, a dor em meu peito me rasgava como uma facada profunda que ia me destroçando aos poucos. O vazio me deixou sem sentido nenhum e se não fosse Josh e toda a sua paciência em cuidar de mim, não sei o que faria nesse momento se estivesse em casa sozinha aturando minha mãe enquanto meus pensamentos martelam incansavelmente imaginando mil alternativas de como seria minha vida com o meu bebê e de como será daqui pra frente sem poder cumprir nenhum dos meus planos.

— Shhh, Ben! — Um sussurro bem distante fez meu cérebro recobrar a consciência e devagar fui tentando reconhecer o lugar onde estava. O pesadelo era real, a madrugada turbulenta me rendeu sonhos agitados e sem lembranças, apenas tinha sensação de ter sido atropelada por um caminhão. — Tem que ser com carinho... — Os cochichos aumentaram e antes que pudesse abrir meus olhos, algo molhado tocou minhas bochechas e eu sorri meio inconsciente ouvindo o barulhinho de beijo estalado.

— Acoida, tia princesa Any! — Meus olhos se abriram lentamente, dando de cara com o sorriso sapequinha do Mini Josh que saltitava no colo do pai esbanjando animação. Eles tinham os mesmos olhos azuis e encarar ambos naquela manhã me fez ter uma visão privilegiada do céu. — Codô, papai! Bum dia!!

— Bom dia, Gabrielly! — Ele se aproximou beijando minha testa, apenas assenti ainda assimilando as coisas. — A gente tem uma surpresa pra você...

— É, supesaaa!! —Riu batendo palminhas.

— Surpresa? — Sussurrei esfregando os olhos. — Meu Deus, eu devo estar horrível. Me desculpe pela visão... — Ri me dando conta de que era a primeira vez que Josh me via cara amassada e cheia de olheiras, meu rosto ruborizou na hora quase que me obrigando a tampá-lo com as mãos.

— Não se preocupe, você é linda.  — Disse piorando a situação das minhas bochechas vermelhas. — Enfim, fizemos uma coisa e esperamos que você goste! — Colocou o Benjamin na cama e foi em direção a mesinha de cabeceira, só então percebi a bandeja com um café da manhã cuidadosamente arrumado. — Bom, não tínhamos muita coisa então fiz sanduíche, suco, cereal e aqui tem morangos, a Savannah me falou que era sua fruta preferida!!

— Papai compô molangos!! — Se aproximou apontando.

— Josh! Você gastou dinheiro comigo de novo? — A encarei séria.