20. Quase

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Por Any Gabrielly

Meus últimos dez dias se resumiram em ficar em casa de molho, Nour me visitou algumas vezes e trabalhou de home office comigo lá em casa. Afinal de contas, jamais suportaria trabalhar sozinha naquele silêncio ensurdecedor, depois que minha mãe foi embora o apartamento virou um tremendo vazio e, diferente de antes, eu não tinha companhia nem podia sair pra nenhum lugar. A minha cama foi minha amiga na maioria do tempo, o stream de filmes e séries também, apesar do trabalho intenso que, pasme, a Nour resolveu a maioria por mim com a premissa de me evitar estresse.

Contudo, para a felicidade geral da nação, vulgo empresa, voltei à tona de uma vez assim que o médico disse estar tudo certo. Ele recomendou mais uns cinco dias sem esforço apenas por precaução, porém os exames estavam ótimos e o sangramento já havia cessado. Josh e Nour tiveram que aceitar com todos os meus argumentos, não tinha porquê continuar de cama se posso ser útil aqui dentro. Sempre reclamo, mas sei que esse lugar é uma parte de mim e tem seus pontos positivos.

— Vamos almoçar juntas hoje? — A Nour pergunta animada enquanto checa alguma coisa no celular, seus cílios estão demasiadamente destacados hoje com boas camadas de rímel e piscam ligeiramente como se procurasse uma informação precisa na pequena tela. — Tá rolando promoção no restaurante Japonês, topa? — Ergueu o aparelho com um sorriso travesso, ela ama qualquer coisa que envolva comida e desconto na mesma frase.

— Você é quem manda! — Ri vagando meus olhos pelo notebook, cuja tela demonstrava dezenas de e-mails de um desesperado querendo fechar negócio. Se tem uma coisa que aprendi nesse tempo, é que você pode dizer duzentos "nãos" e ainda assim um infeliz insistente vai te perturbar jurando ter maneiras convincentes de te fazer mudar de ideia nem que seja através de uma chantagem emocional, acontece que não posso fazer caridade sempre, caso contrário minha empresa estará lotada de pessoas sonhadoras e não sobreviverá a tantos gastos.

— O que é que foi? — Disse ao notar minha cara de impaciência. — Oportunista outra vez? — Assenti. — Pode deixar que eu respondo, se não resolver levará um block e nunca mais vai poder mandar mensagem. — Sorriu astuta.

— Valeu! — Bufei bebericando a água que ela me trouxera mais cedo. — Sabe se o Josh vai almoçar sozinho?

— Hum..... Tá preocupadinha é? — Tentou insinuar um clima me fazendo corar. — Ele vai com o meu irmão, os dois estão precisando de um tempinho de "meninos". Então hoje você é minha e nós vamos fofocar, aliás chega de estresse! — Se aproximou fechando meu notebook antes que pudesse esboçar alguma reação de indignação ou raiva.

— Você poderia ser menos bruta, né? Custa ser educada? —A olhei de soslaio enquanto pegava minhas coisas. — Vamos, to com fome! — Lhe dei uma bolsada de propósito na brincadeira e ela estirou a língua antes de me acompanhar.

[.....]

Ocupamos uma mesa mais no canto, o lugar mais silencioso do restaurante e também o mais ventilado. Ela escolheu a comida e nem precisou de muitos minutos com o cardápio para se decidir por nós duas e de certa forma isso poupou nosso tempo. O lugar era simples mas muito bem cuidado, as mesas estava. coberta por toalhas vermelhas e um arranjo de flores brancas, todo o ambiente tinha uma estética oriental e parecia nos teletransportar para algum lugar aconchegante do Japão. Sushi é uma das minhas coisas favoritas no mundo, então com certeza era uma atmosfera reconfortante pra mim.

— No que tanto pensa? — Ela me interrompeu.

— Nada, eu só... Estava observando esse lugar. — Dei de ombros. — Tenho vontade de conhecer o Japão um dia.

— Eu também, Tokyo parece outro mundo. — Comentou encantada e depois voltou-se para mim. — Amiga, você parece tão cansada.... Tem certeza que fez bem em voltar?

The Change - BeauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora