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~ 𝒯𝑜𝓂𝒶́𝓈 ~

Arrependido. É como eu me sinto neste momento.

Imaturo, irresponsável, imbecil... Todas essas são boas palavras para descrever a minha pessoa nestes momentos.

Em minha defesa, eu não faço por mal.

Eu realmente achei que era melhor não acordar a Catarina de manhã já que ela estava a dormir tão bem, o que tem sido raro. Mas é claro que mal ouvi a voz dela irritada ao telefone percebi a asneira que tinha feito.

A verdade é que já não estou habituado a dar satisfações a ninguém. Há um ano que faço o que quero e quando quero. Mas as circunstâncias mudaram no momento em que voltei a dividir a casa com outra pessoa, principalmente tendo em conta a situação alarmante que todos estamos a viver.

Eu tinha a obrigação de falar com ela sobre vir trabalhar e não o fiz. O erro foi todo meu.

Olho à volta e encontro o meu ginásio completamente vazio. Chega a dar agonia saber que todo aquele investimento vai estar parado por tempo indeterminado.

Lembro-me da conversa da Catarina e de ela insinuar que eu estava fora de casa para ter sexo e acabo por rir sozinho. Mal ela sabe que eu acordei duro como uma rocha apenas por dormir com ela abraçada a mim. Mal ela sabe que se me desse a oportunidade de voltar atrás, eu não dormiria com mais ninguém até ao fim da minha vida, ela é tudo o que eu poderia querer. Mas mesmo assim ela tem ciúmes.

Sim, porque ela pode negar o que quiser, mas eu sei que ela sente ciúmes e no fundo gosto disso. Gosto porque sei que ela não tem motivos e porque isso é a prova de que não lhe sou indiferente.

Tento afastar a mente de tudo o que envolva a Catarina e volto a tratar dos assuntos que me trouxeram cá. Quanto mais rápido terminar, mais cedo posso voltar para casa e menos tempo tenho de ficar afastado da minha família.

À noite, enquanto janto, faço chamada com a Melissa e o Jorge, os meus melhores amigos. É quase como estar a jantar com eles, mas separados pelos ecrãs dos nossos telemóveis. Falo com eles sobre trabalho, aproveito para resumir a situação dos ginásios e receber algumas dicas e concelhos deles. Quando chego à sobremesa, o foco da conversa já virou totalmente para os meus filhos. Aqueles dois são os tios mais babados que as crianças poderiam ter e eu não poderia ser-lhes mais grato por isso.

Quanto mais falo sobre os meninos, mais saudades tenho deles e por causa disso, acabo por me despedir e ligar para a Catarina.

Ela não atende à primeira mas envia-me uma mensagem a dizer que vai retornar quando puder. Aproveito isso para arrumar a cozinha e, quando o telemóvel volta a tocar, já estou deitado no sofá, ansioso.

- Olá papá. - É a voz da Beatriz que me recebe e pela imagem percebo também que ela é a única que segura o iPad.

- Olá minha princesa. - Respondo carinhosamente. - Onde está a mãe?

- Está a fasser o bebé domir. - Ela responde enquanto esfrega os olhos e eu percebo que está com sono também.- Ela disse que eu posso falar com o papá antes de domir.

- Claro que podes. Já tens o pijama vestido? - Ela acena com a cabeça em concordância. - Então vai para a tua caminha que o pai fala contigo até a mãe chegar à tua beira.

Gostando da ideia, a Beatriz faz o que lhe peço e com ela já deitada na cama ficamos a conversar até a Catarina entrar no quarto.

Não a vejo no ecrã, mas os olhos da minha filha brilham com a simples entrada da mãe e o meu coração aquece com aquela demonstração tão simples de amor.

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