~ 𝒞𝒶𝓉𝒶𝓇𝒾𝓃𝒶 ~A sessão de maquilhagem acabou por ser interrompida porque o Diogo acordou com cólicas, mas não antes de eu aproveitar para tirar muitas fotos do Tomás para me divertir.
Depois disso, acabei por passar a tarde no escritório, entre mamadas e trabalhos, enquanto ouvia as brincadeiras da Beatriz e do pai pela casa.
Como optei pela alimentação em livre demanda, o Diogo passa muitas horas do dia agarrado ao meu peito. Principalmente nesta fase das cólicas em que ele só parece acalmar enquanto mama, mesmo que grande parte do tempo passasse sem amamentar de verdade.
Para lhe dedicar toda a atenção que ele precisa, acabo por abdicar de certa forma dos meus próprios hábitos, até os mais simples como os horários das refeições. E hoje foi um desses casos.
Quando a Beatriz me veio chamar para o jantar, eu estava a acabar de me sentar na cadeira de amamentação, pelo que lhe disse para jantar apenas com o pai.
No fundo eu esperava que Tomás aparecesse no quarto com os seus comentários ou até mesmo com a comida, pelo que quando o tempo foi passando e ele não apareceu, me senti um pouco desiludida.
É pensando nisso que depois de deitar o Diogo e me despedir da Beatriz, ando até ao quarto do pai deles.
Abro ligeiramente a porta, encontrando no lado de dentro Tomás a gargalhar para o telemóvel, aparentemente em chamada de vídeo com alguém.
Ainda tento fechar a porta e sair como se nada fosse, mas os seus olhos param sobre mim e ele faz sinal para que eu entre.
Caminho calmamente para dentro do quarto e fico no fundo da cama, percebendo pela conversa que Tomás fala com a mãe.
Uma sensação agridoce apodera-se de mim naquele momento. Eu sinto falta da senhora Margarida, de todos os seus conselhos e do carinho que sempre me reservou. Mas desde a separação que não falo com ela. Não sei o que ela sente em relação a mim, o que acha de toda a situação.
- Volto depois. - Sussurro apontando para a porta, mas antes que possa dar o primeiro passo, o Tomás fala para o telemóvel.
- A Catarina está aqui, mãe.
Basta essa frase para eu ouvir o suspiro animado de Margarida.
- Cati, querida. - Ela diz ainda sem me ver, fazendo o meu coração apertar.- Há quanto tempo.
Rodeeio a cama e sento-me ao lado de Tomás, vendo a senhora no ecrã sorrir-me de forma acolhedora.
- Margarida. - Cumprimento inicialmente, antes de constatar o óbvio. - Faz bastante tempo, sim.
- Está tudo bem contigo? Ainda não tive oportunidade de te parabenizar pelo nosso anjinho mais pequeno. - Ela engata um assunto no outro, evidenciando a sua alegria em falar comigo, o que me afeta ainda mais.
- Obrigada. - Respondo sorrindo levemente. - Está tudo bem comigo, sim, espero que com a senhora também.
- Senhora? Quando é que deixamos de nos tratar por tu e voltamos ao senhora? - Ela resmunga fazendo-me rir e encolher os ombros para disfarçar a vergonha. - Mas esses olhinhos não me parecem nada bem. Espero que estejas a cuidar de tudo aí em casa, Tomás, a Cati acabou de ter um filho, precisa de descansar.
- Eu também acabei de ter um filho. - O Tomás queixa-se num tom mimado que faz com que a mãe se prepare para lhe dar um sermão.
- Ele deixou bem claro que não vinha para cá ser escravo, Margarida. - Aproveito para me queixar, apenas para pôr mais lenha naquela fogueira.- Sabe como é, veio só passar umas férias com os filhos, o trabalho continua todo para mim.
- És muito mentirosa. - Tomás sussurra ao mesmo tempo que a sua mãe berra o nome dele, irritada.
- Não foi assim que eu te eduquei, Tomás! Eu que saiba que tu não ajudas a Cati com tudo o que ela precisar e eu mesma vou buscar-te pelas orelhas!
Seguro o riso e tento manter a minha melhor cara séria enquanto o Tomás tenta convencer a mãe de que eu é que estou a mentir.
A discussão acaba por ser interrompida quando Margarida recebe outra chamada e se despede de nós. Quando a chamada termina deixo sair o riso que estava a segurar, sendo de imediato fulminada pelo olhar de Tomás.
- Eu vim passar férias, não é? Claramente não faço nada.
- Tu disseste que não vinhas para ser escravo, eu não menti. - Respondo entre gargalhadas.
- Sabes que ela vai ficar a falar disto durante dias, não é?
Assinto com a cabeça tentando conter o riso, mas fica difícil.
- Tu estás a achar imensa piada, claro que estás. - O Tomás nega com a cabeça e passa as mãos pelo cabelo, deixando os músculos do tronco nu em evidência.
O meu riso acaba por parar enquanto os meus olhos se perdem naquelas tatuagens que eu conheço tão bem.
Tomás acompanha o meu olhar e, durante segundos, ficamos os dois em silêncio.
- Estás a dever-me uma massagem. - Acabo por murmurar segundos depois, quando consigo encontrar a minha voz.
- Estou? - Faz-se de desentendido, fazendo-me rir.
- Estás e tem que ser hoje. - Respondo enquanto junto as almofadas num pequeno monte, encostando-me nelas logo depois.- Podes começar.
- Andas muito mandona, tu. - Ele comenta sorrindo de lado e vai até à mala, voltando com um creme.
- Sempre fui, eu acho. - Comento com um encolher de ombros.
- Pois, mas agora mando eu. Podes tirar a roupa. - Diz sério, captando o meu olhar.- Não vou fazer uma massagem por cima da roupa, não é?
- A ideia era essa. - Respondo ainda presa pelo seu olhar.
- Mas não é isso que vai acontecer. Tiras tu ou tiro eu?
Engulo em seco percebendo o que ele está a fazer, mas sem ter a certeza se quero acabar com aquilo.
- Se fores tu a tirar, tu vais amar. Se for eu a tirar, tu vais amar também. - Murmuro enquanto me ajoelho na cama, mais próxima dele.- Agora resta saber qual das opções te agrada mais.
O Tomás continua atento a mim, sem dizer nada.
Levo os polegares ao elástico das leggins e começo a despi-las calmamente, convicta de que as cuecas de ursinhos que tinha vestidas cortarão qualquer clima assim que forem vistas.
Mas não é isso que acontece. O Tomás humedece os lábios e acompanha com os olhos todo o percurso das minhas leggins até que elas param no chão.
- Esta foi uma boa opção. - Murmura segundos depois, vendo-me voltar a deitar, de barriga para cima, com os pés no seu colo.
- Concentra-te na massagem e esquece tudo o resto que esteja a passar na tua cabeça neste momento. - Murmuro enquanto pego no telemóvel.
- Um pouco impossível isso acontecer. - Ele diz tranquilo enquanto esfrega o óleo nas mãos.
É, realmente vai ser difícil de ignorar.
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De Volta A Casa
RomanceCom dois filhos pequenos, Tomás e Catarina estão separados e a viver vidas independentes há um ano, quando uma pandemia se instala no mundo e muda a realidade de todos. Focando no bem estar dos filhos e deixando de lado todos os ressentimentos, o e...