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~ 𝒞𝒶𝓉𝒶𝓇𝒾𝓃𝒶 ~

- Eu não quelo mais ficar na casa da bobó. - A Beatriz diz pela terceira vez desde que chegou e eu sinto os meus olhos arderem.

- São só mais quatro dias amor, está quase. - Tento fazê-la entender, mas os olhinhos cheios de lágrimas mostram-me que ela não concorda.

- Quelo ficar aqui!

Parte-me o coração vê-la tão triste e não poder fazer nada, principalmente estando sozinha em casa com o Diogo que também chora no meu colo.

- A mãe está doente, Beatriz. - A Margarida tenta ajudar-me. - Vais poder voltar assim que ela fique melhor.

- Agola! O mano está com a mamã. - Ela começa a chorar, frustrada, e recusa o colo que a avó lhe oferece. - Eu quelo estar também.

- O mano está doente também. - Minto. - Mas tu estás boas e se estiveres com a mãe vais ficar doente também.

- Eu quelo ficar doente também.

Olho a Margarida, em busca de auxílio e encontro uma expressão de pesar que em nada me acalma.

- São só uns dias Beatriz, a mãe vai buscar-te assim que o médico deixar. Até lá tens de ficar com a avó e com o avô.

- Onde está o papá? - Ela pergunta em meio ao choro e começa a olhar à volta, procurando-o pelo jardim. - Quelo ir para a casa dele.

- O pai foi ao médico, está doente também, não podes ir para casa dele. - Explico.

- Poque eu não tô doente também, bobó? - Ela pergunta sentida e finalmente aceita o colo da Margarida, escondendo o rosto no pescoço dela.

- Porque és uma menina muito forte. - A avó responde enquanto se levanta e eu faço o mesmo dentro da sala, aliviada por conseguir embalar o Diogo e fazê-lo parar de chorar. - E como não estás doente podes brincar, ir ao parque, comer comidas boas...

- Eu quelo bolo de cocolate. - A Beatriz diz enquanto limpa o rosto com a mão.

- Vamos fazer um quando chegarmos a casa então, pode ser? - A Margarida pergunta e recebe um aceno de cabeça como resposta. - Despede-te da mãe e do mano, querida.

- Adeus mamã. - Ela diz sem muito ânimo. - Xau mano feio.

Sinto a respiração parar com a constatação do que ela disse mas logo recupero, não querendo piorar a situação.

- Não podes chamar coisas feias ao mano, Beatriz, mesmo que estejas chateada. - Explico calma, mesmo sabendo que estando separada dela por um vidro não vai ter grande efeito. Ela não me responde, então viro a minha atenção para a Margarida. - Até amanhã Margarida, obrigada por tudo.

- De nada, Cati. - Ela diz e num só sorriso trocamos todas as outras palavras não ditas. - Até amanhã.

Vejo-as afastarem-se em direção à entrada da casa e dedico a minha atenção ao Diogo que choraminga até adormecer.

Sinto-me tão cansada que quando o deito no berço penso em deitar-me e dormir também, mas decido tratar das roupas em vez disso.

O Tomás tem tratado de quase todas as questões domésticas desde que voltou, já que eu passo a maior parte do tempo a dormir ou na cama, mas na medida em que eu gosto disso, não me sinto bem em sobrecarregá-lo com as tarefas da minha casa, mesmo que ele esteja a morar cá, principalmente por ele ter a mão partida.

Olho o relógio mais uma vez enquanto passo a ferro e suspiro. São quase nove da noite e o Tomás ainda não voltou. Faz horas que ele saiu para ir refazer o teste do Covid e ainda não regressou.

De Volta A CasaOnde histórias criam vida. Descubra agora