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~ 𝒞𝒶𝓉𝒶𝓇𝒾𝓃𝒶 ~

Engolindo o pouco que resta do meu orgulho, pego no saco que contém as coisas do Tomás e sigo à frente dele para fora do quarto.

Não vou mais implorar para que fique. Nem devia ter pedido uma única vez, mas é mais forte do que eu. De cada vez que alguém se afasta ou decide sair da minha vida, eu volto a ser a adolescente abandonada pela mãe. A criança que implorou para que ela ficasse e mesmo assim foi deixada.

Tudo isso fica mais intenso quando se trata do Tomás. As sensações são muito piores e por isso eu acabo por me humilhar para que ele fique. Mas ele não vai ficar.

- Vou despedir-me do Diogo. - Ouço-o dizer quando chegamos à sala e paro de andar.

- Usa máscara, por favor. - É tudo o que digo, sem olhá-lo e sigo para a entrada da casa, encontrando a Beatriz sentada nos degraus, como lhe pedi, a falar com a avó que continua no lado de fora.

- Mamã, a bobó disse que bai facer bolo de cocolate para mim! - Ela conta animada e eu sorrio, antes de colocar a máscara para me poder aproximar da Margarida.

- A avó disse ou tu pediste? - Pergunto já conhecendo a peça e ela gargalha. 

- Ela pediu, mas a avó faz todo o gosto em trazer cá o bolo amanhã. 

Olho a D. Margarida e sinto o meu peito apertar. 

- Obrigada por ser uma avó tão boa. - Digo sincera e no fundo ela sabe que não lhe agradeço apenas pelo seu papel de avó.

- Ora essa, é isso que as avós fazem!

Sinto os meus olhos arderem e peço para que o dia acabe logo, ou não vou aguentar. 

Não é isso que as avós fazem, é isso que elas deviam fazer. A minha mãe nem se importou em saber que os netos tinham nascido. 

- Cati, meu amor, eu dava tudo para poder ir abraçar-te agora. - Ela diz com um sorriso solidário e eu deixo as lágrimas caírem, cansada de fingir para uma das poucas pessoas que realmente se importa comigo.

- Estou tão cansada. - Admito sem vergonha enquanto pouso o saco no muro, para que depois o Tomás possa levá-lo. - Também queria um abraço seu.

- Vai ficar tudo bem. - Ela diz convicta e eu gostava de conseguir acreditar nela. - Mas promete-me que não vou perder-te outra vez por causa do casmurro do meu filho. 

Rio da forma como ela fala do Tomás e assinto.

- Pode continuar a ser minha sogra, não tenciono arranjar outra. - Brinco com o assunto, mas a verdade é que não tenho psicológico suficiente para lidar com homens atualmente.

- Por ela serias filha e eu estaria longe já. - Ouço a voz do Tomás nas minhas costas e imediatamente a pouca diversão que me acalmava desaparece.

Fico rígida, sem saber como agir e odeio-me por isso.

Vejo-o aproximar-se e apercebo-me que a Beatriz já não está connosco, o que me alarma. 

- Fui deitá-la também. - Ele explica antes da mãe falar.

- Pelo menos não me daria tantas desilusões como tu tens dado ultimamente. - A Margarida diz para me defender e eu engulo em seco, não gostando de ser um fator de discussão entre mãe e filho.

- Já sei que sou um péssimo filho, mãe, não precisas de repetir. - Embora o Tomás ironize a situação, sei que não lhe agrada ouvir essas coisas vindas da mãe.

- Não és um péssimo filho, pelo contrário, és ótimo. - Ela esclarece. - Mas não te eduquei para tratares assim a minha nora. 

- Margarida... - Tento interceder mas a voz do Tomás sobrepõe-se à minha.

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