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~ 𝒯𝑜𝓂𝒶́𝓈 ~

- Podes explicar-me exatamente porque é que eu devia preparar um quarto em minha casa? - É a primeira coisa que a minha mãe diz enquanto entro no carro dela, no hospital, com a mão ligada ao peito. - E porque é que a minha nora estava quase a chorar quando me pediu isso?

- Olá mãe, estou melhor, obrigada por perguntares. - Digo sarcástico e tento pela terceira vez encaixar o cinto. - Só parti três dedos, realmente é melhor do que ter partido a mão toda. Ah, e fui obrigado a fazer um teste estranho para descobrir que não tenho Covid, é uma boa notícia também.

Evito propositalmente olhar para ela e concentro a minha atenção no movimento das pessoas na saída do hospital.

- A Catarina está preocupada contigo. - Ela diz, como se eu não tivesse dito uma palavra. - Já a avisaste que já saíste do hospital?

- Mãe! - Exclamo irritado. - Podes parar? A minha paciência já está no limite, já é noite e eu ainda nem almocei, preciso de tomar um banho, as dores já estão a voltar porque o efeito do analgésico está a passar... Então, por favor, só para.

O único som ouvido é o do carro a arrancar e eu agradeço pelo silêncio da minha mãe. Se me tivese lembrado que ela ia começar com todo o drama teria ido para o meu apartamento, mesmo que isso significasse que nem um banho eu conseguiria tomar direito por estar sozinho.

- Partiste os dedos da mão à porrada com um saco de boxe. - Ela comenta pensativa e eu controlo-me para não bufar. - Pensei que essa fase tinha acabado quando saíste da escola.

- Eu estava a treinar, não estava a andar à porrada. - Respondo cansado da conversa e fecho os olhos, numa tentativa de descansar um pouco. - Deixa os sermões para amanhã, não quero ser rude contigo mas eu realmente não tenho paciência agora.

Ela não responde e durante minutos conduz em silêncio, deixando-me com os meus próprios pensamentos.

- Vai lá buscar as coisas. - Ela diz quando o carro para e eu volto a abrir os olhos.

Também não me lembrei do pormenor de que já não tenho nada em casa dos meus pais, mas no máximo esperava que ela me levasse ao meu apartamento. Ainda assim não posso dizer que estou surpreso por ela me trazer a casa da Catarina.

- Vou dizer à Catarina para trazer os meninos cá fora, para que possas vê-los. - Digo enquanto tiro o cinto e abro a prota. - Mas se saíres do carro não te podes esquecer da máscara.

- Tudo bem, traz os meus netinhos e a minha menina que eu estou cheia de saudades deles.

Ignoro a referência à Catarina e saio do carro. Não toco à campainha, prefiro ligar para ela.

- Tomás? Está tudo bem? - Só o simples facto de ouvi-la tão preocupada depois de eu ter sido um imbecil acaba comigo.

- Sim, podes abrir a porta?

Percebo a surpresa dela enquanto me responde e logo vejo a porta da frente ser aberta. O portão, automático, começa a abrir também e eu passo para dentro enquanto a vejo aparecer na porta a amamentar o Diogo.

Ela não diz nada, só olha atenta a minha mão toda ligada. Demora uns segundos para o foco mudar e ela ver a minha mãe atrás de mim, mas nesse momento o rosto dela ilumina-se de uma forma que eu nem consigo descrever.

Vejo a Catarina entrar em casa e segundos depois ela volta, com uma máscara no rosto e a Beatriz sai de casa também, a correr, em direção ao portão, nem reparando em mim.

- Bobó!! - Ela exclama entusiasmada. - Abe o potão mamã, deixa a bobó entar!

- A avó não pode entrar amor. - A minha mãe diz, sem gostar nada da situação.

De Volta A CasaOnde histórias criam vida. Descubra agora