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~ 𝒯𝑜𝓂𝒶́𝓈 ~

- Hoje vamos comer no sofá. - Digo enquanto pouso os três tabuleiros no sofá.

A Beatriz fica logo animada.

- É dia de fiume? - Pergunta sorridente.

No meu apartamento tinhamos o dia do filme. Todos os meses escolhíamos um dos dias em que ela lá estava e jantavamos no sofá enquanto assistiamos ao filme que ela quisesse.

- Não, podemos fazer o dia do filme depois. Hoje vamos almoçar aqui porque eu quero que a mãe veja umas coisas na televisão.

- Posso bê também? - Ela pergunta curiosa, o que me faz rir.

- Podes, vamos só esperar que a mãe e o mano voltem.

Quando terminou de amamentar, a Catarina pediu-me para ir trocar a fralda do Diogo e adormecê-lo, mas usei a desculpa de que não podia sair da cozinha para fazê-la ir sozinha.

Estou a acabar de montar os tabuleiros e distribuir os pratos de carbonara, talheres, copos e guardanapos quando ela chega.

- Vamos comer no sofá? - Pergunta.

- Sim! - A Beatriz responde.

Sento-a no sofá e coloco o tabuleiro sobre ela, formando uma pequena mesa.

- Babie! - Ela diz animada ao ver que escolhi a garrafa da Barbie para esta refeição e logo pega nela para beber água.

Deixo o lugar ao lado da Beatriz livre para a Catarina e sento-me na outra ponta, pegando no comando da televisão enquanto ela se senta entre nós.

- O que vamos ver? - A Catarina pergunta.

- Provas de que as pessoas estão erradas. - Murmuro enquanto procuro o canal de youtube dela e não demoro muito a encontrar o vídeo do dia do nascimento da Beatriz, já que para além de ela não publicar muito no canal, aquele é um dos vídeos com mais visualizações.

- Eu não quero chorar enquanto como. - Ela diz. - Não sei se é uma boa ideia.

- Claro que é. - Digo convicto. - Não tens que chorar, tens que sorrir. Foi um dos dias mais felizes das nossas vidas, já o vimos várias vezes.

Eu, pelo menos, já praticamente sei o vídeo de cor.

- Agora é mais difícil. - Ela sussurra, com o olhar fixo na televisão.

- A mamã! O papá! - A Bia grita quando o anúncio termina e nós aparecemos no ecrã, fazendo-me sorrir.

- A baliga da mamã. - Ela diz admirada, colocando as mãos à frente da boca. - É o mano?

- Não, bebé. És tu. - A Catarina esclarece antes de começar a comer.

Olho a tela enquanto como em silêncio.

No vídeo, estamos no carro e eu conduzo enquanto a Catarina conta que as contrações começaram e por isso estamos a ir para casa para pegar em tudo e poder ir para a maternidade.

Lembro-me que quando as contrações começaram estavamos em casa dos meus pais. Tínhamos ido lá jantar e a Catarina estava no sofá a receber caufoné da minha mãe enquanto viam um filme e eu e o meu pai estavamos na mesa de jantar, a conversar.

A minha mãe e a Catarina ficaram amigas no dia em que se conheceram e sempre se deram muito bem. Acho que de certa forma ambas preencheram um espaço vazio na vida da outra.

A minha mãe porque viu nela a filha que nunca teve e a Catarina porque pôde recuperar com a minha mãe um pouco do amor materno que lhe falta desde que a sua mãe se divorciou e se mudou para outro país com a sua nova família, praticamente esquecendo que ela e as irmãs existiam.

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