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~ 𝒯𝑜𝓂𝒶́𝓈 ~

Observo a Catarina à minha frente, com expressão de quem está claramente a mentir e não seguro a risada.

- Qual é a piada? - Ela pergunta chateada e eu sorrio.

- Tu nunca soubeste mentir. - Explico. - Então eu sei que não vais jantar com ele. Mas parabéns, porque se eu tivesse acreditado isso realmente iria incomodar-me, tal como tu querias.

- Eu não vou jantar com ele porque não posso sair de casa. - Ela diz com os braços cruzados e ergue a cabeça de forma altiva. - Senão eu iria.

- Tu não vais jantar com ele porque não é com ele que queres jantar. - Digo antes de afastar os braços dela para uma posição mais descontraída.

- Também não quero jantar contigo.

- Justo. - Digo calmo e assinto com a cabeça. - Vou estar no quarto se precisares de mim.

- Não precisas de ir para dentro, janta primeiro pelo menos. - A Catarina diz mas eu não tenho tempo de responder porque o meu telemóvel toca e quando vejo que é a minha mãe atendo logo.

- Boa noite, mãe. - Digo no instante em que atendo.

- Fala com o papá, amor. - Ouço-a dizer à Beatriz mas em resposta só tenho o choro da minha filha. No mesmo segundo sinto o meu peito apertar, agoniado com todas as possibilidades e olho a Catarina.

- O que é que se passa? Aconteceu alguma coisa? - Ela pergunta aflita, aproximando-se de mim.

- Mãe? - Tento novamente e recebo um suspiro cansado em resposta.

- Ela não para de chorar porque quer a Catarina, pensei que falar contigo pudesse ajudar, mas não resultou.

Passo a mão pelo cabelo, aliviado por ela não ter caído ou se magoado mas preocupado pelo motivo que a faz chorar tão aflita.

- Vocês não vieram cá hoje? - Pergunto e vejo a Catarina assentir enquanto a minha mãe confirma também.

- Ela já estava assim quando fomos a casa da Catarina, pensei que ia acabar por distrair-se, mas agora as minhas esperanças estão todas em ela adormecer e amanhã acordar melhor...

- Coloca em altifalante para eu tentar falar com ela. - Peço e assim que ela o faz começo a falar. - Olá Beatriz, é o papá. Ouço o choro ainda mais alto e suspiro. - Não queres falar com o pai? - Pergunto sem deixar transparecer o quanto isso me incomoda. - O pai não te vê desde ontem, tem saudades tuas...

Ficamos uns segundos em silêncio, até que ela decide falar.

- Papá? - Ela diz finalmente, fazendo-me suspirar de alívio. - Estás com a mamã?

Não consigo evitar e olho para a Catarina novamente, o que, mais uma vez, parece deixá-la assustada.

- Sim, eu estou com a mãe. - Decido ser sincero.

- Deixa-me ouvi-la. - A Catarina pede e eu não hesito em colocar a chamada em alta voz.

- Deixa eu falar com a mamã. - A Beatriz pede do outro lado e eu não intervenho quando a Catarina começa a falar.

- A mãe está a ouvir-te, Beatriz. - Ela diz e embora a sua voz pareça neutra, os seus olhos estão cheios de lágrimas.

- Mamã. - É tudo o que a Beatriz diz e no mesmo segundo as duas começam a chorar copiosamente.

Passo o telemóvel para a Catarina e abraço-a, tentando de alguma forma confortá-la.

- Eu não quelo mais ficar aqui, mamã. - A pequena diz. - Quelo ir pala nossa casa, po favô, mamã.

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