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~ 𝒞𝒶𝓉𝒶𝓇𝒾𝓃𝒶 ~

- Podemos falar contigo, mamã? - Ouço a voz do Tomás algum tempo depois de desligar a chamada com a Margarida e olho para a porta da sala, de onde o vejo sair com a Beatriz no colo, em direção ao jardim onde me encontro.

- Claro que sim. - Respondo depois de limpar os meus olhos, certificando-me de não parecer que estive a chorar.

- A Beatriz quer pedir desculpa. - Ele explica já ao meu lado e observo a pequena escondida no colo dele, parecendo envergonhada.

- Dicupa, mamã. - Ela diz baixo, com um dos polegares na boca e olha na minha direção.- Não fiques tiste tomigo.

Observo a minha bebé, sentindo o meu peito encher-se de orgulho com aquela atitude, mesmo sabendo que foi induzida pelo pai.

- Claro que desculpo anjinho. - Respondo antes de beijar a mão dela.- A mãe gosta muito de ti. E fica muito feliz por pedires desculpa.

- A Beatriz também tem um pedido a fazer, não é filha? - O Tomás volta a falar e a Bia olha para ele e assente, antes de voltar a olhar para mim.

- E qual é esse pedido?

- Podes dar o leitinho a mim à noite? Como o mano? - Ela pergunta esperançosa e parte-me o coração perceber que ela sente ciúmes.

- No biberão. - O Tomás esclarece.

- No bibão. - Ela repete, menos convencida.

- Posso, meu amor. - Respondo sem pensar duas vezes. - A mãe vai dar-te o biberão à noite. Já não estás triste comigo?

- Não. - Ela diz com o dedo na boca, manhosa e eu abro os braços.

- Onde está o meu abraço? - Pergunto sorridente e gargalho quando ela se atira no meu colo, abraçando-se ao meu pescoço.

Sinto de imediato o Tomás segurar-me e procuro o rosto dele com o olhar.

- Eu consigo segurar na minha filha.

- Tu não devias fazer esforços. - Ele argumenta sem largar a minha anca.

- Eu estou bem, o Diogo já tem dois meses.

- Mesmo assim. - É tudo o que ele diz.

- Poxo ir bincá? - A Beatriz pergunta e eu assinto, baixando-me para a pousar no chão.

Quando faço menção de a seguir para dentro, o Tomás segura-me novamente, agora atrás de mim.

- Deixa-a ir sozinha, não há perigo em ir brincar. - Ele diz calmamente, alisando a minha cintura e eu assinto, controlando a ansiedade que tudo aquilo me causa.

- Não quero que ela se sinta rejeitada, não quero que ela sinta que o Diogo veio ocupar o lugar dela. - Desabafo ainda de costas e depois viro-me, abraçando o tronco do Tomás e escondendo o meu rosto no peito dele.- Não foi assim que eu imaginei tudo isto.

- Ela está a adaptar-se a esta nova realidade, tens de lhe dar tempo. - Ele responde enquanto abraça o meu corpo de volta.- Estava habituada a ser a menina da mamã, todo o teu tempo livre era para ela. Agora as coisas mudaram e ela ainda está a aprender a lidar com isso.

Não respondo, ficando a absorver o que ele diz e a saborear o contacto físico.

- A conversa com a D. Margarida ajudou?

- Ajuda sempre. - Suspiro.- Ela nunca passou por isso, teve só um filho, mas como sempre conseguiu ajudar. Queria que ela pudesse vir cá.

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