~ 𝒞𝒶𝓉𝒶𝓇𝒾𝓃𝒶 ~
"Última hora.
Governo decreta o encerramento das escolas a partir da próxima segunda feira.
Esta medida surge no dia em que o número total de casos confirmados de infeção pela Covid-19 em Portugal sobe para 78.
O primeiro-ministro anunciou esta quinta feira o encerramento de todos os estabelecimentos escolares do país a partir da próxima segunda feira até 9 de abril, data em que a situação será reavaliada."Bloqueeio o telemóvel quando termino de ler.
A situação está mais grave do que eu pensava.
Olho o Diogo preso ao meu peito, alheio a tudo o que acontece à sua volta e suspiro.
Quando o Diogo nasceu, há dois meses, já o Covid-19 era falado, mas não em Portugal. Sabia que a situação na China começava a tomar proporções assustadoras, mas cá a vida decorria normalmente, sem qualquer alarme.
Só no dia 2 de março apareceu o primeiro caso em Portugal. Um senhor de sessenta anos.
Mesmo tendo gerado algum alarme, as pessoas não deram muito valor.
Mas a verdade é que hoje, apenas dez dias depois, já estão confirmados setenta e oito casos e o governo decidiu fechar as escolas.
Volto a olhar o telemóvel e percebo que o grupo das mães da turma da Beatriz está repleto de mensagens. A mais constante é "Amanhã há aulas na mesma?", uma vez que estámos numa quinta feira e a norma só será aplicada na segunda.
Suspiro mais uma vez.
Eu estou em casa por causa da licença de maternidade, por isso a Bia não vai amanhã. De qualquer forma ela tem apenas três anos, não faz sentido colocá-la em perigo por causa de umas horas de brincadeira.
Só não sei como conseguirei cuidar sozinha de duas crianças sem poderem sair de casa por tempo indefinido, mas eu vou conseguir.
Volto a minha atenção novamente para o bebé que mama concentrado.
Mesmo tendo apenas nove semanas, alguns traços já estão definidos como os olhos claros e o nariz arrebitado. Diogo é uma miniatura linda do pai dele.
Pai esse que ele mal reconhece já que ainda está numa fase em que depende totalmente de mim e, por isso, não acompanha a irmã nas visitas e estadias em casa do pai.
Tomás é o nome do pai dos meus filhos. O homem que terminou a nossa relação para "experimentar coisas novas", com a desculpa de que tudo tinha acontecido muito rápido nas nossas vidas e, por isso, não tinha aproveitado a juventude como deveria.
Lembro-me de não ter contestado a decisão dele.
Por mais arrasada que tenha ficado e, secretamente, ainda esteja, eu nunca rastejaria por homem nenhum. Mesmo que ele fosse pai da minha filha e, como viemos a descobrir depois, do meu filho, ele não merecia que eu me humilhasse e implorasse pelo seu amor. Homem nenhum merecia.
E a verdade é que, nos meses que se sucederam ao término, eu pude confirmar que tinha tomado a decisão correta em querer a distância e seguir de cabeça erguida, mesmo quando ele sugeriu que reatassemos ao descobrir que eu estava grávida de novo.
Enquanto ele viajava pelo mundo e vivia a vida de um jovem normal de 25 anos com uma rapariga diferente a cada mês, eu fiquei por casa a lamber as minhas feridas e cuidar dos meus filhos e dos meus negócios, parecendo uma mulher de 40 anos e não uma jovem de 23.
A única coisa que me fez manter o respeito pelo Tomás e odiá-lo menos um pouco foi o amor e dedicação que ele tem pela Beatriz.
Mesmo com toda a agitação da sua vida, ele nunca deixou de visitar a Bia uma semana que fosse, participava sempre nas festinhas da escola dela e desde o oitavo mês da gravidez era ele que a levava e ia buscar à escola todos os dias.
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De Volta A Casa
RomanceCom dois filhos pequenos, Tomás e Catarina estão separados e a viver vidas independentes há um ano, quando uma pandemia se instala no mundo e muda a realidade de todos. Focando no bem estar dos filhos e deixando de lado todos os ressentimentos, o e...