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~ 𝒯𝑜𝓂𝒶́𝓈 ~

Quando volto ao quarto da Catarina, encontro-a deitada na cama, ainda acordada e com o olhar fixo na porta, onde me encontro.

Vejo o meu roupão descartado no chão e percebo que talvez esteja nua, já que a sua vontade de fazer algo nas últimas horas era nula. Isso deixa-me reticente para me deitar com ela, mas o seu olhar fixo em mim e a súplica que eu acredito ver nele acabam por vencer.

Apagando a luz do quarto, caminho até à cama e deito-me ao lado dela.

Para meu alívio, percebo que a Catarina vestiu uma t-shirt larga. Para minha tortura, percebo que essa é a única peça de roupa que ela tem vestida.

- Vamos conversar sobre o que aconteceu? - Tento mais uma vez, mantendo-me deitado de barriga para cima, com o olhar no teto, enquanto ela está ao meu lado, virada para o lado oposto.

- Vais tirar-me os meninos? - Ela sussurra com a voz trémula, como se só verbalizar isso lhe causasse uma dor física.

- Claro que não. - Respondo num tom neutro. Embora queira demonstrar a minha preplexidade, isso só a faria silenciar de novo. - É isso que tu queres, que eu fique com os meninos? - Devolvo.

- Não. - Ela responde triste. - Quero-os aqui. Mas isso não é o melhor para eles.

- Porquê?

- Porque eu não sou boa mãe. - A Catarina sussurra e consigo perceber que está a chorar de novo.

- Eles disseram-te isso? - Pergunto.

- O Diogo não fala.

Mas mesmo assim diz muito, penso.

- Mas a Beatriz disse? - Mudo a pergunta.

- Não, mas... - Ela interrompe a fala por causa do choro e eu decido parar com aquela abordagem.

Mudo de posição, virando-me para o lado em que ela está, para descobrir que agora é ela quem está de barriga para cima.

- Vamos descansar? Deixar os problemas para amanhã? - Sussurro, afastando do seu rosto todos os cabelos que ficaram colados com as lágrimas.

É terrível vê-la tão frágil, principalmente estando limitado no que posso fazer. Se fosse antes, na altura em que eu podia beijá-la e fazê-la esquecer os problemas, era isso que eu faria. Mas agora, mesmo sabendo que se eu a beijasse ela não ofereceria resistência, eu não o posso fazer.

- Não tenho sono. - A Catarina sussurra, virando os seus grandes olhos cheios de lágrimas para mim.

Mesmo depois de separar todos os cabelos, continuo com os carinhos pelo seu rosto.

- Vamos ver um filme? - Sugiro e sem pensar muito baixo os lábios para beijar a sua testa.

Observo-a fechar os olhos ao receber o carinho e num ato preguiçoso, aproximar-se de mim até que eu esteja deitado de costas novamente com ela colada ao meu corpo.

- Vamos só ficar em silêncio. - Sussurra enquanto leva uma mão para o meu abdómen, aproveitando a pele que ficou livre quando nos viramos.

Fecho os olhos e forço a minha mente e o meu corpo a lembrarem-se que aquela era a forma como ela reagia quando ficava mal, procurava carinho, procurava contacto. Não necessariamente procurava sexo, embora isso também resultasse muitas das vezes.

Voltando a abrir os olhos, ajeito as cobertas até que apenas o rosto da Catarina fique descoberto e abraço o seu corpo. Não digo nada, deciso respeitar o seu pedido de silêncio.

De Volta A CasaOnde histórias criam vida. Descubra agora