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~ 𝒞𝒶𝓉𝒶𝓇𝒾𝓃𝒶 ~

Assim que a porta da casa de banho fecha corro para o meu quarto. 

O aperto no meu peito é tanto que eu sinto que nem o ar passa para que eu consiga respirar direito. 

Visto uma roupa limpa e obrigo o meu cérebro a desligar. Está na hora das crianças acordarem e eu não vou chorar na frente delas, tenho de ser mais forte do que isso.

Por sorte toda esta semana vai ser intensa a nível de trabalho e isso, junto com as aulas da Beatriz, mantem-me distraída a manhã toda. 

Não tenho tempo para pensar em tudo o que aquela conversa significou. Tudo o que o Tomás disse, sem pausas ou fingimentos. 

Ouvi-lo dizer com todas as palavras que dormiu com mais mulheres do que pode contar no último ano deixou-me arrasada. Não que eu não soubesse já, mas foi difícil de ouvir da boca dele.

No entanto, não concordo com o que ele disse de ser o culpado por todas as vezes em que demos errado. Não concordo que eu seja melhor do que ele ou que ele não me mereça.

Não concordo e devia tê-lo dito, mas não consegui. 

Enquanto ele falava, eu simplesmente fiquei presa no meu próprio silêncio.

Volto a focar a minha atenção nas fotografias da campanha enquanto a Beatriz assiste atenta a professora contar uma história. 

A menos de uma semana do lançamento não há como colocar a minha vida pessoal em primeiro lugar. 

Primeiro está o lançamento, depois eu penso numa forma de resolver as coisas com o Tomás. Até lá, é até bom que as coisas arrefeçam, ou seria uma distração.

Não vou mandá-lo embora, como ele parecia ter a certeza de que eu faria. Não o quero longe. Não agora que relembrei como é tão bom tê-lo perto.

Acredito realmente que a nossa história pode ter um final feliz, só temos que trabalhar para isso. Em conjunto, não cada um para o seu lado.

Quando a história termina, a Beatriz começa a pintar um desenho com algumas das personagens e eu aproveito para ir buscar o Diogo. 

Com três meses já, o meu bebé já sorri para nós e já começa a querer brincar, consegue agarrar os brinquedos e começa a descobrir o mundo. Já não passa os dias a dormir e adora estar perto da irmã. 

Sento-me na poltrona a amamentá-lo e observo a Beatriz. Quanto mais tento perceber como os ciúmes funcionam menos percebo. 

Deixa-me confusa o facto de a Beatriz amar o irmão mais do que qualquer outra pessoa e mesmo assim ter ciúmes dele. Gostava de conseguir fazê-la entender que o irmão não veio ocupar o lugar dela, que ela pode ficar segura quanto a isso. Mas já me convenci que a melhor forma de ajudá-la será com um psicólogo. Só não marquei ainda porque prefiro que seja presencial.

Assim que o Diogo adormece novamente, levo-o para o quarto, onde não há barulho que possa acordá-lo. Estou a passar no corredor para voltar para junto da Beatriz quando ouço o Tomás chamar-me aos gritos, o que me deixa assustada. 

Passo apenas no escritório para avisar a Beatriz que já volto e corro para o ginásio. 

Encontro o Tomás ajoelhado no chão, agarrado à mão esquerda e com a cabeça encostada no saco de boxe. 

Não sei o que aconteceu, mas a expressão de dor está tão marcada no seu rosto que tudo o que consigo fazer é correr até ele e ajoelhar-me também.

- O que é que se passa? - Pergunto aflita, sem saber o que fazer.

- Acho que parti os dedos. - Ele diz com dificuldade. - Chama uma ambulância.

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