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~ 𝒯𝑜𝓂𝒶́𝓈 ~

Entendo a indireta da minha mãe quanto a ignorar os problemas, mas estou mais preocupado em animar a Catarina do que em responder-lhe, pelo que quando ela me diz que eu sei cuidar da Catarina, sinto que é isso mesmo que eu devo fazer.

Cuidar dela como fiz sempre que consegui e como ela merece agora mesmo, enquanto chora como prova da mãe incrível que é. 

- Falamos depois, mãe. - Digo enquanto pego no telemóvel que até agora estava na mão da Catarina e espero que a minha mãe se despeça também para desligar a chamada. 

Assim que o faço, pouso o telemóvel na mesa de cabeceira e volto a minha atenção para a Catarina. 

Mesmo que os dedos partidos me atrapalhem em quase todas as tarefas do meu dia, não há nenhuma que me incomode tanto como quando tento pegar nos meus filhos ou estar com a Catarina. 

Usando apenas uma mão, seguro o rosto dela para que olhe para mim. Vê-la com o rosto molhado pelas lágrimas silenciosas parte-me o coração.

- A Beatriz está bem. - Digo. - Ela está triste porque tem saudades mas amanhã vai acordar bem, não precisas de estar assim.

- Eu sei. - A Catarina sussurra com o rosto aninhado na minha mão e fecha os olhos. - Eu não a quero triste, por minha causa ainda por cima... E ela está zangada com o Diogo, eu não quero isso também. 

- Vai passar quando ela voltar para casa. - Digo para tranquilizá-la. - E se não passar vamos resolver também. Não chores...

Uso o polegar para limpar as lágrimas que consigo alcançar. 

- Vamos fazer alguma coisa para te distraíres? - Pergunto antes de aproximá-la de mim para lhe beijar a testa. - Podemos ver um filme. 

- Não quero. - A Catarina sussurra e aninha-se contra o meu corpo, facilitando-me o acesso ao seu rosto por onde distribuo vários beijos.

Num determinado momento, a Catarina sobe o rosto e procura os meus lábios com os dela. 

Sinto o meu corpo travar por um nanossegundo, não estando certo de que deva fazê-lo, mas correspondo ao beijo, suave e respeitoso, pouco mais que um encostar de lábios. Sei que a rejeição faria com que ela se sentisse humilhada e não quero isso de forma alguma.

Logo depois, separo os nossos lábios para encostar as nossas testas. 

- Estou a tentar fazer as coisas da forma mais correta, Cati. - Decido abrir o jogo e ser totalmente sincero. - Por mais que eu queira beijar-te e...

- Não digas que só nos conhecemos há uns dias. - Ela interrompe-me falando ao mesmo tempo que eu e eu calo-me. - Não quero ouvir isso agora... Quero que sejas o pai dos meus filhos, alguém que compreende o que eu estou a sentir agora e não me ache louca por isso...

- Eu não ia dizer isso. - Esclareço. - E compreendo melhor do que ninguém o que tu estás a sentir. Só que também me sinto à vontade para dizer que te conheço melhor do que ninguém e sei como tu reages a determinadas situações. 

Volto a beijar-lhe a bochecha quando ela esconde o rosto no meu pescoço e depois encosto a cabeça à cabeceira da cama. 

- Eu sei que tu ficas carente quando estás mal e usas o sexo para disfarçar essa dor, como uma distração bem-vinda, já falamos sobre isso... - Aliso as costas dela com a mão, numa tentativa de amenizar o que estou a dizer. - E isso não me incomoda, não me importo de ser usado para que tu fiques melhor. O que me preocupa é o que vem depois...

Faço uma pausa para organizar as ideias mas a Catarina mantém o silêncio.

- O que vem depois quando tu percebes o que aconteceu e te sentes mal por isso. - Continuo. - Eu quero muito estar contigo, não tenhas qualquer dúvida disso. Mas quero fazê-lo quando estiveres bem e ciente do que está a acontecer, não quero que olhes para trás depois e sintas que me aproveitei de ti.

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