~ 𝒯𝑜𝓂𝒶́𝓈 ~
Ver a Beatriz fazer o teste ontem e chorar do início ao fim foi doloroso e agora, enquanto olho para os resultados no telemóvel, não consigo decidir se me sinto aliviado por ela ter dado negativo ou se me arrependo de tê-la levado.
No fundo sei que não me arrependo, pois iria ficar sempre com a dúvida, mas não gosto da sensação de ser o responsável por tê-la feito passar por aquela experiência nada agradável.
A única coisa que me deixa mais confuso do que os meus sentimentos é o resultado do meu teste.
Inconclusivo.
Eu sabia dessa possibilidade, só não esperava lê-lo no meu resultado.
Não sei o que isso implica e por isso decido ligar para a Saúde 24 antes de dizer os resultados a quem quer que seja.
A enfermeira que me atende é simpática (até demais quando tenho que fornecer os dados e ela percebe com quem está a falar) e explica-me que vou ter que repetir o teste em 4 dias, mas que o melhor é, se eu tiver essa possibilidade, agir como se estivesse infetado.
Agradeço pela ajuda e quando desligo fico mais de meia hora a refletir sobre o assunto e sobre o que devo fazer. A pior parte é tudo o que envolve a Beatriz. Com estes resultados, ela vai ter que ficar com os avós, que estão negativos, já que eu e a mãe estamos infetados (ou devemos agir como tal). Por mais que ela ame os avós e adore ficar em casa deles, sei que duas semanas é muito tempo e não vai ser fácil para ela lidar com tanto tempo longe de casa, da mãe principalmente.
E é só isso que me impede de festejar e correr para o quarto da Catarina neste momento. É errado estar feliz por ter a doença que toda a gente teme neste momento? É. Eu sei que sim. Mas já não aguento ver a Catarina tão doente sem ninguém poder aproximar-se dela e cuidar dela como ela merece. Se para isso eu preciso de ficar infetado, então que seja.
Saio do quarto já com uma máscara no rosto e vou até ao quarto do Diogo. É lá que a minha mãe tem dormido nas últimas noites e decido que quero falar com ela antes de falar com a Catarina.
- Olha o papá. - Ela diz toda animada quando entro no quarto e sou incapaz de repreendê-la por já estar com o Diogo no colo novamente.
Sei que o correto seria ela não estar em contacto com ele, pelo menos quando fosse possível evitar, já que o Diogo tem estado com a Catarina. Mas para a minha mãe, estes são minutos preciosos, já que o contacto que ela teve com o neto até agora foi praticamente nenhum. Não a recrimino por querer aproveitá-los.
- Saíram os resultados, mãe. - Digo enquanto entro e, deixando a porta aberta, sento-me na poltrona da Catarina.
- E então? - Ela pergunta ansiosa e eu suspiro.
- Tu e a Beatriz deram negativo. - Tranquilizo-a. - Já o meu teste deu inconclusivo. Eu liguei para a saúde e explicaram-me que devo agir como se tivesse Covid até repetir o teste, já que a probabilidade de ter é grande.
- E agora? - Ela pergunta assustada e eu logo volto a falar, não a quero em pânico.
- Agora eu preciso de falar com a Catarina ainda, mas acho que o melhor deve ser voltares para casa e levares a Beatriz contigo. - Explico. - Sem alarmismos para ela não ficar assustada, como se fosse uma semana em casa da avó como ela já foi várias vezes.
- E tu? - Ela pergunta.
- Eu fico aqui, com a Catarina e o Diogo, que precisa dela.
- Mas ela está mal e tu tens a mão engessada. - Ela diz inconformada. - O melhor é eu ficar cá e tratar das coisas.
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De Volta A Casa
RomanceCom dois filhos pequenos, Tomás e Catarina estão separados e a viver vidas independentes há um ano, quando uma pandemia se instala no mundo e muda a realidade de todos. Focando no bem estar dos filhos e deixando de lado todos os ressentimentos, o e...