25. Atormentada

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_ Eu estou grávida André. Grávida do homem que me estuprou. - Falo isso em voz alta pela primeira vez e o fato de se tornar real é apavorante. - Eu não quero esse bebê. Não quero um lembrete eterno do que me aconteceu, não quando eu estou tentando a todo custo esquecer e seguir em frente. Mas ao mesmo tempo eu me sinto culpada e egoísta por pensar em abortar. É como se eu estivesse fazendo pagar um inocente para compensar os erros de um culpado. - Falo sem pausa tudo o que está rondando a minha mente e me sufocando. - Eu estou à beira de um surto. A minha vida entrou em um looping onde cada volta só me faz querer vomitar. - Sinto meus estomago revirar novamente, sinto também meu coração acelerar e minha respiração ficar pesada e dolorosa. - Eu me sinto tão perdida, e confusa, e desesperada. Tudo que eu queria é que alguém me acordasse desse pesadelo sem fim que se tornou a minha existência. - puxo meus cabelos em completa frustração e eu já sinto as lagrimas voltarem a brotar dos meus olhos. - Eu não aguento mais! Eu só queria que tudo acabasse de uma vez.

_ Não. Não diga isso. - Sinto as mãos de André sobre as minhas, que ainda estão em meus cabelos, e ele força meus dedos a soltarem, o que faz com que eu abra os olhos e o veja ajoelhado a minha frente, muinto proximo a mim. - Nunca mais diga uma coisa dessas de novo. - Ele guia minhas mão até que elas se repousem em meu colo e em seguida as envolve com as sua, me aquecendo. - Você ainda tem toda uma vida pela frente. Uma vida feliz e cheia de amor. - Seus olhos estão fixos nos meus e eu posso ver que ele realmente acredita nisso. - Sei que tudo parece escuro e sem perspectiva agora, mas isso irá passar. Você vai superar mais essa queda. E independente do que você decida fazer de agora em diante, saiba que eu vou estar ao seu lado.

_ Você já me fez essa promessa uma vez, ainda assim fugiu na primeira oportunidade. - Falo sem esconder o rancor que ainda sinto.

_ Isso não vai mais acontecer. Eu nunca mais vou tirar meus olhos de você. E essa é uma promessa que eu vou cumprir.

_ Você jura de dedinho. - Semicerro meus olhos para ele, porque apesar de todos os pesares, de todo medo, angústia e dor que estou sentindo, a presença de André na minha vida é como um oases de esperança. Sei que provavelmente voltar a confiar nele me trará novas decepções, mas eu estou facilmente disposta a arriscar. A final o que mais pode acontecer.

"Eu posso lhe fazer uma longa lista."

_Eu juro de dedinho. - Ele sorri e em seguida nós unimos nossos dedos, selando nossa promessa.

_ Você sabe que acabou de concordar que eu decepe seu dedinho caso quebre essa promessa, não é.

_ É... Eu tenho consciência disso.

🍎🍎🍎

_ E para onde você quer ir agora. - André me pergunta assim que se senta no banco do motorista, mas sinceramente não sei se tenho uma resposta para isso.

Eu recebi alta logo após voltar para o quarto. De acordo com o médico, a mistura de sedativo, álcool e energéticos fez com que meu corpo entrasse em choque, e o pior só não aconteceu porque André me encontrou antes que eu tivesse uma parada respiratória. Eu precisarei fazer uma checagem em alguns dias, apenas para garantir que minhas tachas continuam normais, além de acompanhamento psicológico, o que eu ja faço, mas como minhas funções motoras e cerebrais estão em ordem, eu fui liberada para voltar para casa, tudo isso antes das oito da manhã.

_ Eu preciso ir até a casa de Érica primeiro. - Lhe respondo. - Tenho que pegar minha coisas e me desculpar por tamanha insensatez da minha parte e por todo o transtorno que causei não só a elas, mas a você tambem.

_ Isa, isso não é necessário. Você está passando por um momento de muito estresse, fazer coisas impensadas é o mínimo, e tenho certeza que Érica e Kate concordarão comigo.

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