8. Bons Amigos

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_ André, é sério, eu estou bem. Eu já causei transtorno de mais por hoje e não quero te prejudicar ainda mais. - Falo enquanto ando ao seu lado e ele olha em minha direção, confuso com minhas palavras. - Sua noiva parecia fora de si, e eu não tiro a razão dela. - Explico e ele parece entender onde quero chegar, mas evidentemente, não concorda comigo.

_ Não se preocupe com isso, eu conheço a Eva e daqui a pouco nós estaremos de bem de novo. Eu não estava brincando quando disse que ela deveria se acalmar antes que nós pudéssemos conversar. - Ele fala calmamente, como se essa fosse uma situação muito comum no cotidiano deles. - Além do mais, eu estou fazendo isso mais por mim do que por você. Eu não ficaria em paz sem saber que você está realmente bem e em segurança, sem falar no fato de que, graças a isso, eu não precisei almoçar com minha mãe e Eva. - Ele sorri e eu sou contagiada a fazer o mesmo.

É estranho saber que uma pessoa é capaz de mudar meu humor tão facilmente.

_ Almoçar com elas seria assim tão ruim? - Pergunto.

_ Almoçar na faixa de Gaza seria mais agradável. Te garanto que os palestinos e os israelenses são mais amistosos do que aquelas duas.

_ Nossa. - Falo chocada. - Então por que você se coloca nessas situações? - Pergunto curiosa.

_ Porque apesar de odiar minha noiva, minha mãe ainda se dispõe a atura-la por minha causa. E eu não posso negar, que gostaria muito que as duas se dessem bem.

_ É compreensível, a final, elas são mulheres importantes na sua vida. - constato.

_ Exatamente. Chegamos. - Ele fala parando em frente a um BMW preto, e assim que eu paro ao seu lado, ele abre a porta do carona para mim. - Senhorita. - Ele é galante e isso me faz sorrir.

_ Obrigada nobre cavalheiro. - Entro na brincadeira enquanto me sento, e o vejo sorrir amplamente para mim.

_ E para onde vamos? - Ele pergunta assim que se senta ao meu lado, já ligando a ignição.

_ Para qualquer lugar que não seja a minha casa. Digamos apenas que meus pais não estão muito satisfeitos com minhas decisões dradticas recentes.

_ Decisões?

_ É complicado.

_ Nesse caso, coloque o sinto e relaxe, nossa viagem será um pouco longa, mas eu garanto que valerá a pena.

"E mais uma vez você está sozinha com esse homem e está depositando toda sua confiança nele. O que pode dar de errado?..."

🍎🍎🍎

Passamos o caminho todo conversando amenidades enquanto uma música suave toca no rádio e eu ainda me impressiono com o quanto eu me sinto confortável perto de André.

_ Fala sério, não é possível que você fosse assim tão esquisito. - Falo depois dele me contar um pouco mais sobre sua infância e adolescência.

_ Eu era tão magro que para esconder meu porte "físico" eu passei todo o colegial usando moletons que eram três vezes o meu tamanho. Isso sem falar nas espinhas, no óculos e no aparelho.... - Ele continua me contando e eu nem posso imaginar que o homem ao meu lado um dia foi motivo de chacota na escola.

_ Não. Eu não consigo imaginar. - Falo finalmente.

_ Vou te dar um ponto de comparação então. - Ele fala desviando seus olhos em minha direção rapidamente, antes de voltar a olhar para a estrada. - Eu era como o Capitão América antes de ser modificado, só que com óculos redondo enormes e aparelho.

_ Nooosa! Agora eu consigo ver, e realmente não é bom. - Falo seriamente e coloco minha mão em seu ombro em forma de apoio, o que faz com que ele gargalhe ruidosamente. - Não tinha ninguém para te dizer que óculos redondo em rosto magro, não é só um atentado a moda, mas ao bom censo também? É sério, nem uma alma bondosa.

_ Eu gostaria de ter conhecido você naquela época, talvez eu tivesse sofrido menos bullying se tivesse alguém para me dar algumas dicas de moda. - Ele fala sorrindo e apesar de saber que ele falou isso só para me provocar, eu posso facilmente nos ver como amigos no passado.

_ Se eu estivesse lá, definitivamente eu faria de você meu projeto pessoal. Eu era fanática em filmes de transformação durante o ensino médio. Pegar um rejeitado e transformá-lo em alguém popular era um sonho secreto meu.

_ Um sonho bastante peculiar.

_ Pensei que já tivesse percebido que eu sou uma pessoa peculiar. - Falo convencida e isso o faz rir de novo.

_ Mas falando sério, entrar para a polícia me fez muito bem.- Ele fala e eu concordo plenamente com ele.- E quanto a você, como era a jovem Isadora Grimald em sua adolescência, além é claro do seu sonho de fazer uma pessoa de projeto.

_ Eu era exatamente como agora. Eu não mudei muito, ao menos não por fora. Graças a criação que tive, eu sempre me esforcei para me dar bem com todo mundo, menos com a Greta Wilcoks e suas minions, essas eu queria ver atropeladas por javalis selvagens. - Faço uma cara de malévola e mais uma vez André está gargalhando e eu me pego pensando que esse, facilmente, poderia ser um dos meus sons favoritos na vida.

"É claro, continue a se iluda com o príncipe encantado. A queda é bem mais dolorosa quando se vem do alto."

🍎🍎🍎

_ Onde estamos? - Pergunto quando o vejo entrar em um caminho de terra e parar em frente a um portão trancado com um cadeado enorme.

_ Vem comigo e descubra por si mesma. - Ele fala de maneira travessa e sai do carro me deixando para trás.

Pondero por um segundo sobre o assunto, mas como dificilmente eu conseguirei voltar para casa sozinha, eu opto por segui-lo. Mesmos que todos os meus instintos me digam para ficar.

_ Vem. - Ele segura minha mão, e eu não posso negar que senti uma ponta de medo quando ele começou a me levar para dentro da mata à nossa volta, mas eu decido deixar esse sentimento de lado e dar um voto de confiança ao homem que tem se mostrado um verdadeiro amigo. - É aqui. - Ele fala depois de um tempo e eu olho para os lados sem entender nada.

_ Aqui, onde? - Pergunto enquanto estendo os braços para a mata a nossa volta.

_ Aqui. - Ele fala, empurrando a grade ao nosso lado e revelando uma passagem "secreta" por onde ele passa facilmente. - Você vem? - Ele pergunta quando percebe que eu estou pasma e sem me mover, e isso me trás de volta do choque.

_ Nós temos permissão para estar aqui? - Pergunto enquanto atravesso a passagem e o sigo por um caminho de cascalho.

_ Não. Mas o que podem fazer, chamar a polícia? - Ele ironiza e eu reviro os olhos, mas minha expressão logo muda quando eu finalmente descubro onde estamos.

_ A placa de Hollywood....- Falo admirada, enquanto aprecio a vista daqui de cima. - Tudo parece tão pequeno daqui.

_ Esse é o meu lugar de paz. - André fala ao meu lado e de soslaio posso vê-lo respirar profundamente o ar puro do campo.- É para cá que eu venho quando quero ficar sozinho. Todos os meus problemas parecem muito menores vistos daqui.

_ Eu finalmente disse. Eu disse em voz alta e com todas as letras que fui estuprada. - Falo depois de um longo tempo de completo silêncio entre nós.

_ E como se sentiu?

_ Eu me senti pulando de cabeça em uma piscina vazia. - Sorrio sem humor.

_ Isso não parece bom. - Ele fala enquanto se senta na grama verde e me convida a fazer o mesmo.

_ É desesperador e ao mesmo tempo me fez perceber que não quero voltar a sentir isso de novo.

_ E o que pretende fazer? - Ele me faz a pergunta que minha consciência tem me feito a dias e eu ainda não tenho uma resposta.

_ Eu não sei. Mas me isolar para sempre em meu quarto, não é a solução.

_ Que bom que pensa assim. - Ele sorri e me empurra de leve com seu ombro, o que também me faz sorrir levemente. - Sabe de uma coisa, eu acho que conheço a pessoa certa para te ajudar. Isso é claro, se você quiser minha ajuda.

TentaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora