Meu corpo se vira automaticamente em sua direção, e talvez seja o fato de que eu não consigo parar de pensar nele nessa última semana, ou talvez seja porque vê-lo de novo me trás lembranças daquela maldita noite que tenho tentado tanto esquecer, mas assim que meus olhos se focam no belo homem distraído com o peso das caixas em suas mãos, eu sinto todo meu corpo congelar.
_ Eu ajudo !- Minha mãe fala se aproximando dele, mas ao pegar a primeira caixa, eu a vejo fazer uma careta. - Fruta que partiu! O que tem nessas caixas, cimento sólido.
_ Deixa comigo. - Vejo um dos jovens que ajudou com nossas caixas ir ajudar minha mãe e é nessa hora que ela parece perceber meu estado, porque seu rosto se franze e ela faz o impensável.
_ Filha você está bem?! - Minha mãe fala mais alto que o necessário e eu vejo todos os olhares serem direcionados a mim. Definitivamente a convivência com a tia Luna não faz bem a ela. - Isa, pelo amor de Deus, fala comigo. - Ela vem em minha direção e eu devo estar péssima, porque não demora para que me coloquem sentada e me entreguem um copo com água e açúcar. - Filha, o que você está sentindo?
_ Eu estou bem. - Falo após tomar a água. - Acho que foi só uma queda de pressão, mas já passou. - Sorrio para tranquilizar minha mãe, mas não parece funcionar porque aquele olhar de preocupação não sai de seu rosto.
"Ótimo, era tudo que nós precisavamos, deixar nossa mãe ainda mais preocupada conosco. Que droga de filha nós somos." - Meu subconsciente que não me dá descanso, me recrimina como de costume, e como sempre faço, eu tento ignorar suas palavras ferinas.
_ Acho melhor levá-la para casa. - Minha mãe fala decidida e eu me sinto péssima por estragar a aula daquelas pessoas.
" Você vem estragado coisas a vinte dois anos, pensei que já estivesse acostumada." - Mais uma vez ele tenta me atingir e mais uma vez eu bloqueio suas palavras me focando no mundo a minha volta, não nas trevas em minha mente.
_ Mãe é sério, - Seguro seu braço e olho de maneira suplicante para ela. - Eu estou bem, não precisa me levar para casa. Na verdade, eu já fiquei tempo de mais presa em casa.
_ Eu posso levá-la para tomar um ar lá fora. - André fala solicito, e mais uma vez meus olhos se focam nele e eu me perco por um segundo.
_ Viu só?! eu vou ficar bem, e você vai dar sua aula. - Me levanto da cadeira, e apesar de me sentir um pouco tonta, eu me forço a parecer bem e ando calmamente até André. - Vamos? - O incentivo a sair, e como um exímio cavalheiro, ele me oferece seu braço.
_ Vamos.
🍎🍎🍎
_ Obrigado por me tirar de lá, tenente. - Falo assim que voltamos ao corredor e estamos longe dos ouvidos de todos.
_ André. - Ele fala enquanto me guia calmamente pelo hall de entrada e nós seguimos para o outro lado. Para a grande sala que vi quando cheguei. - Aqui eu sou só André, ou mestre às vezes. - Ele sorri de lado e eu faço o mesmo, gostando muito desse clima ameno entre nós.
_ Mestre? - Pergunto curiosa.
_ Temos todo tipo de aulas aqui. Eu sou professor de muay tai. - Ele me explica um pouco antes de sairmos por uma porta de vidro.
_ Sinceramente, por que será que não estou surpresa?- Falo como quem não quer nada e ele sorri.
_ Pode não parecer, mas eu sou um homem bastante previsível, já você....- Ele fala, e enquanto seguimos pelo gramado eu vejo um balanço em baixo de uma árvore e a nostalgia me atrai.
_ Eu sou uma mulher bem simples de entender André, você só precisa me conhecer um pouco. - Me afasto dele, soltando seu braço e corro até o balanço onde me sento sem nem um pingo de precaução e começo a me balançar calmamente.
_ Definitivamente você é muitas coisas Isadora, menos uma mulher simples de entender. - Ele segura o balanço e fala próximo ao meu ouvido, o que me faz estremecer e surpreendentemente, não de uma maneira ruim.
André começa a me empurrar no balanço e eu dou um grito de espanto pois minha mente estava distraída, mas logo eu estou gargalhando e o incentivando a me empurrar mais alto, o que ele faz sorrindo também.
Assim que estou na altura que desejo, solto as cordas e deixo que a gravidade faça todo o trabalho me levando para baixo. Me jogo na grama verdinha e deixo que meu corpo rolê por ela, e essa sensação infantil que me cerca me trás uma felicidade que eu não sentia a anos.
_ Isadora, você está bem? - Escuto a voz preocupada de André, então abro meus olhos e sorrio, na verdade gargalho como não faço a muito tempo. Na verdade, se parar para pensar, eu não me lembro qual foi a última vez que gargalhei tanto. - Definitivamente uma mulher nada simples. - Ele se deita ao meu lado na grama e é estranho pensar em quão familiar e ao mesmo tempo única é essa situação.
_ As vezes eu fico me perguntando, por que deixamos esse tipo de felicidade infantil nós abandonar. - Falo depois de um longo tempo em silêncio.
_ Nos tornamos prisioneiros das preocupações e isso nos impede de dar valor às pequenas coisas, como rolar na grama, por exemplo. - Ele sorri enquanto apoia sua cabeça em seu braço flexionado e olha para mim.
_ Somos nossos próprios sabotadores, e isso é o mais triste. - Falo melancólica.
_ Não, o mais triste e saber que existem pessoas que além de se fazer infelizes contribuem para a infelicidade dos outros.
_ É, faz sentido. - Olho para ele que está muito próximo a mim e por incrível que pareça eu não me sinto intimidada, não sinto medo ou receio de que esse estranho poderia facilmente me fazer mal se este fosse o seu desejo. A aura tranquila de André me trás uma confiança que eu não consigo explicar em palavras.
_ Que tal se nós entrarmos agora e eu te mostrar um pouco mais da casa cinza. Você já parece bem melhor. - Ele fala se sentando e eu faço o mesmo e aproveito para tirar a grama que se prendeu ao meu cabelo.
_ Eu adoraria. Esse lugar parece ser incrível e eu não vou negar que estou bastante curiosa para conhecer mais.
_ Nesse caso.... - Ele se levanta e estende as mãos para me ajudar, e assim que eu aceito, ele me puxa para cima e nós ficamos ainda mais próximos um do outro. - Fico feliz em ser o seu guia. - Ele sorri e me dá espaço. - Senhorita. - Mais uma vez ele me estende seu braço e eu enlaço o meu ao dele me deixando ser guiada de volta a mansão.
Tenho que me lembrar de agradecer a minha mãe por me forçar a vir até aqui....
🍎🍎🍎
Nós andamos por toda a mansão e durante todo o trajeto André foi me explicando mais sobre o projeto, o que fez com que eu me interessasse mais por tudo e admirasse ainda mais sua família por criar algo assim para ajudar tantas pessoas.
_ Bom e aqui ficam as salas de aula. Nós temos uma escala de dias para cada atividade, para que uma não atrapalhe a outra. Hoje por exemplo, é dia das aulas artísticas, então nós temos pintura, escultura e teatro agora pela manhã e a tarde temos música e dança.
_ Vocês têm aulas de dança aqui? - Pergunto interessada e ele sorri.
_ Temos três turmas. Sua mãe me disse que você é bailarina.
_ Ela adora contar isso para todo mundo. Quando eu entrei para a golden sneakers eu jurava que ela mandaria fazer um outdoor. - Sorrio.
_ Ela tem muito orgulho de você e dos seus irmãos. - Ele me fala assim que voltamos a andar.
_ Eu sei e é por isso eu me esforço tanto para ser uma boa filha, porque ela é uma mãe excepcional.
_ Algo me diz que você está fazendo isso muito bem. - Ele sorri, mas eu não retribuo.
_ Não acho que isso seja verdade. - Falo pensando na última semana e em todo tempo que estive longe. - As aulas, o internato, os recitais, meu sonho de conhecer o mundo, tudo meio que me afastou da minha família. Eu fiquei deslumbrada pela mundo das artes e tudo o que ele tinha para me oferecer e negligenciei as pessoas que mais amo. O engraçado é que eu só me dei conta disso depois do que aconteceu, quando só quem estava lá por mim eram eles. Minha família.
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Tentação
RomanceA agora adulta, Isadora Banks Grimald vê sua vida virar de cabeça para baixo em uma noite sombria, mas em meio a todo seu turbilhão de emoções, ela conhecerá um anjo que mudará tudo outra vez. André Nogueira se encantou pela moça de pele morena e ol...