6. Escolhas

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Acordo com o som da porta ao lado da minha sendo esmurrada, enquanto meus irmãos gritam para que Grace saia do banheiro. Mas conhecendo minha irmã, tenho certeza que ela enrolará o máximo que puder, apenas para irritar os meninos. Essa é a vantagem de ser o primeiro a levantar, poder implicar com seus irmãos.

Nossa casa possui quatro suítes e dois quartos no andar superior e por algum motivo que desconheço, mas que suspeito que seja apenas para o divertimento dos meus pais, minha mãe obriga Bernardo e Valentim a dividir um quanto e os três a dividirem o mesmo banheiro, mesmo quando Samuel e eu não estamos morando aqui.

Me levanto e enquanto caminho lentamente até meu banheiro, eu penso no quanto sou privilegiada por ter uma suíte, e enquanto eu sorrio, a baderna no corredor só aumenta.

Acho que não vai demorar até que minha mãe venha acabar com a confusão, mas até lá.... É bom saber que algumas coisas não mudam.

🍎🍎🍎

Saio do meu quarto, já de banho tomado e pronta para sair. Eu estou me escondendo em casa há três semanas, saindo apenas para ir até a casa cinza trabalhar como voluntária e também para ad minhas aulas de defesas pessoal com André (sim ele conseguiu me convencer e devo admitir que tem sido bem legal), mas há algo que tenho que fazer e não pode passar de hoje.

O corredor está vazio e como eu tenho certeza que meus irmãos não se entenderam sozinhos, acho que minha mãe veio intervir.

Mal chego a cozinha e eu já posso ouvir as vozes dos meus irmãos reclamando e eu paro por um segundo para ouvir o que Bernardo está dizendo.

_ Mas não é justo mãe, Isa e San, nem moram aqui e o quarto de hospedes está sempre vazio, por que não podemos ficar com eles.- Meu irmão fala indignado.

_ Eu não aguento mais ter que dividir um banheiro com esses dois. Eles são nojentos.- Grace se manifesta.

_ Claro, porque você é a organização em pessoa. - Valentin debocha.

_ Já chega meninos, ninguém vai trocar de quarto e ponto final. Se sua mãe decidiu colocá-los nos quartos em que estão, é lá que vão ficar. - Meu pai os repreende.

_ Quanto ao fato de Isa e San não morarem aqui Bernado, eu quero que se lembre que essa ainda é a casa deles. Então, até que algum dos dois me de o aval definitivo de que vai se mudar, aqueles são os quartos deles. Quanto ao assunto banheiro, vocês sempre tiveram a opção de descer e usar o banheiro aqui de baixo....- Minha mãe fala calmamente.

_ O QUE?! - Escuto os trigêmeos gritarem juntos.

_ Nós poderíamos ter feito isso esse tempo todo. - Valentim fala indignado.

_ Eu nunca disse que não poderiam. Claro, com a condição de que o banheiro seja limpo e organizado logo depois. E falando em organizar, assim que voltarem vocês arrumarão seus quartos e o banheiro lá de cima também. Aysha está aqui para auxiliar a Rosa e a mim na organização da casa, não para fazer o serviço de vocês...

_ Bom dia família. - Entro na cozinha e sou cumprimentada de volta por todos.

_ Bom dia filha, ande, venha tomar café conosco. - Minha mãe fala, já começando a encher um prato com guloseimas, antes mesmo que eu me sente a mesa.

_ Obrigada mãe. - Falo pegando o prato de sua mão antes que ela coloque ainda mais comida, e me sentando ao seu lado.

_ Você parece mais bem disposta hoje Isa. - Meu pai fala enquanto pega mais um pedaço de bolo e eu sorrio, porque sei que ele já deve ter comido um seis pedaços.

_ Eu estou mesmo pai, já passou da hora de parar de me lamuriar e voltar a viver, a começar por ir falar com madame Olímpia sobre minha saída da companhia de balé.

_ O QUE?! - Meus pais gritam juntos, em espanto.

_ Filha você não pode estar falando sério. - Minha mãe continua. - Entrar para a companhia sempre foi seu maior sonho, por que desistir de tudo agora.

_ Porque os sonhos mudam e as prioridades também. - Falo decidida. - Eu fui muito feliz durante esses últimos anos, conheci lugares incríveis, culturas esplêndidas e pessoas maravilhosas, não nego. Mas esse tempo que passei com vocês me fez perceber o quanto eu perdi também.

_ Filha, nós sempre apoiamos você em tudo e desde pequena você sempre deixou claro que seria uma grande bailarina. É muito difícil acreditar que você queira desistir de tudo logo agora que seu sonho está se realizando. - Meu pai fala. - Nós temos evitado tocar no assunto e temos te dado o espaço que precisa, mas já passou da hora de conversarmos sobre o que aconteceu naquela noite.

Olho de soslaio pela mesa e eu vejo meus irmãos assistirem a toda essa conversa em silêncio e curiosidade.

_ Crianças, vocês já podem ir, o Alfred irá levá-los. - Minha mãe fala calmamente e eu vejo meus irmãos se levantarem contrariados por não poder ouvir o resto da conversa. - Tenham um bom dia na escola. - Minha mãe se despede.

_ Juízo. - Meu pai complementa e assim que temos certeza que eles se foram, todos os olhares são direcionados a mim.

_ Eu agradeço muito por esse espaço que vocês tem me dado, mas minha decisão nada tem haver com o que aconteceu naquele dia.

"Uma mentira deslavada" - Meu subconsciente me acusa.

_ Eu duvido muito disso. - Meu pai fala desconfiado.

_ Filha você sabe que pode nos contar tudo, não sabe? - Minha mãe segura minha mão e apesar de saber que posso confiar neles para contar toda a verdade, eu ainda não me sinto pronta para isso.

_ Eu sei. Mas não há nada para dizer. - Minto novamente.

_ Você tentou jogar seu carro em um trem em movimento e se não fosse André para intervir, você estaria morta. Isso não parece nada para mim Isadora. - Meu pai fala de maneira firme e bastante irritada. - Você estava disposta a tirar sua própria vida sem pensar nos seus amigos, na sua família e principalmente em si mesma.

" Acho que seu segredinho foi descoberto. Por que não jogar toda a bomba de uma vez, assim você terá mais pessoas para te vitimizar. Se bem que você ja tem feito este papel muito bem sozinha. A pobre menina rica." - Meu subconsciente é ainda mais cruel e eu engulo em seco com suas palavras.

_ Nós só queremos te ajudar meu amor, mas sinceramente não sabemos como. - Minha mãe fala, segurando a mão do meu pai, provavelmente para acalma-lo e mais uma vez eu me vejo em um impasse entre contar para eles ou carregar essa dor sozinha.

_ Vocês não precisam fazer nada. - Falo me decidindo. - Ter o apoio de vocês nesse momento é mais do que suficiente. O que me aconteceu foi dolorosos, mas é o tipo de dor que eu preciso sentir sozinha.

_ Você não precisa. - Meu pai fala se levantando e indo me abraçar bem como a minha mãe.

_ Sim eu preciso, ou nunca serei capaz de superar.

TentaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora