10. Sentimentos Controversos

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_ Espero que não esteja cansada. - André fala após me jogar no chão pela milésima vez.

_ Cansada, não. Quebrada, aí já é outra história. - Falo aceitando sua ajuda para me levantar. - Eu estou cada vez mais convencida que você está usando essas aulas como forma de punição pelo carro blindado que eu destruí. Já disse que vou pagar, você não precisa tentar quebrar meu ossos por isso. - Faço graça e ele gargalha se distraindo, o que me dá a oportunidade perfeita para ataca-lo com uma joelhada na coxa, que o desequilibra o suficiente para que eu possa atingi-lo com um chute que o leva ao chão, finalmente conseguindo derruba-lo pela primeira vez em sete semanas.

_ Ei, isso foi trapaça. - Ele fala do chão.

_ Não, isso foi astúcia. Você tem o dobro do meu tamanho e força, tudo o que me resta é ser mais esperta. - Falo lhe estendendo a mão, assim como ele sempre faz para mim. O que eu percebo ser uma tolice no exato momento em que, ao invés de se levantar, ele me puxa para o chão, na verdade para cima dele, e em seguida me vira, ficando por cima de mim, enquanto se apoia em seus e joelhos e segura meus braços a cima da minha cabeça.

_ Achei que no muay tay não fosse permitido imobilizar as mãos do oponente. - Falo de maneira descontraída, mesmo que o meu coração esteja batendo a mil por hora como nossa aproximação, e não de um jeito ruim.

Por alguma razão que desconheço, eu não sinto medo de André, ao menos não depois daquele dia na estrada. O que é estranho porque até mesmo os abraços do meu pai e irmãos, tendem a me deixar ancionsa e desconfortável.

_ Você está certa, mas estamos dando uma pausa agora. - Ele fala com um sorriso diferente em seu rosto e em seguida seus olhos não estão mais fixos nos meus e sim em minha boca, que por razões desconhecidas, está levemente aberta.

_ N-não? - Gaguejo um pouco, e se meu coração estava acelerado antes, agora tenho certeza que ele está visível por sob minhas roupas.

_ André, nós.... - Escuto uma voz vinda da porta  e um impulso, eu empurro André para longe com meus joelhos e me sento, a tempo de ver sua noiva entrar e nos olhar com estranheza. Na verdade, seu olhar em minha direção está mais para ódio mortal. -  Meu amor, você pode me explicar.... Que Merda Está Acontecendo Aqui?!

_ Nós estavamos no meio de uma aula de muay tay. Era exatamente isso que estava acontecendo aqui. - André fala calmamente enquanto se levanta, e eu fico pasma com sua naturalidade, principalmente porque o que aconteceu aqui não tinha nada a ver com muay tay, ou será que fui só eu a sentir aqulilo.

"Claro, por que não colocar, cobiçar o noivo de outra em sua lista de pecados. Ela está tão pequena". - meu subconsciente é sarcastico mas dessa vez eu não posso ignorar, simplesmente porque eu estou fazendo isso. Estou cobiçando o noivo de Eva. O pior é que não sei se sou capaz de parar.

_ Uma aula. - Eva fala em descrença.- Só vocês dois... Sozinhos. E magicamente você foi parar em cima dela, não é mesmo? - Seu tom de insinuação não me passa despercebido, e seu olhar em minha direção me garante que já está na minha hora de ir. - Eu não sabia que você tinha tempo de sair por ai dando aulas particulares André. Habito novo?

_ Eva por favor.

_ O que?! Eu não disse nada de mais, ou disse? - Seu olhar mais uma vez é direcionado a mim e o sorriso mortal e falso em seu rosto está me deixando bem desconfortável.

Me levanto, vou até o canto da sala para pegar minha bolsa e minha garrafa, e depois de garantir que estou com todas as minhas coisa, eu me direciono ao casal que parece estar em uma discussão silenciosa mas mortal.

_ Eu já vou indo. - Falo com eles enquanto sigo para a porta, mas paro quando escuto a voz de André.

_ Não se esqueça de tomar o relaxante muscular que lhe falei e bastante líquido.

_ Eu vou me lembrar. - Falo com ele e sorrio levemente antes de me virar e voltar a andar.

_ E Isa. - Ele me chama e eu paro mais uma vez. - Boa sorte amanhã. Tenho certeza que irá se sair bem.

🍎🍎🍎

ANDRÉ

Ela acena com a cabeça antes de sorrir amplamente para mim, e o meu coração acelerado não me passa despercebido, isso e o que aconteceu a minutos atrás.

Eu iria beijá-la...

Seus lábios estavam a centimetros dos meus, sua respiração estava irregular e seus olhos me emploravam para beijá-la....

Eu queria beija-la....

Mesmo que eu não devesse deseja-la. Mesmo que eu não possa vê-la como estava fazendo hoje.

Eu a desejei...

Desejei o gosto dos seus lábios nos meus, e ter essa certeza só faz com que eu me sinta ainda pior....

_ ANDRÉ! - O grito de Eva me trás de volta a realidade e eu me vejo mascarando minha culpa antes de me virar em sua direção. - Você é inacreditável.

_ Não sei do que você está falando. - Minto com naturalidade, abilidade essa que adquiri na polícia.

_ Não se faça de bobo comigo. Eu sei o que eu vi, e não vou admitir que você me desrespeite dessa maneira.

_ Eu disse a você, nada aconteceu. Foi apenas uma aula particular para uma amiga da família. Nada além disso.

_ Amiga da família. - Ela afirma com descrença.

_ A senhorita Isadora, é a segunda filha da família Grimald, que como você mesma sabe, é intima da minha família. Ela esteve fora do país nos últimos anos e o nosso reencontro depois de tanto tempo, foi sim uma grata surpresa e reacendeu uma velha amizade. - Falo com naturalidade, o que não é de tudo mentira. Isadora e eu nos conhecemos na juventude, foi uma interação breve, mas gosto de pensar que fiz uma amiga naquele dia, e reencontrá-la depois de tantos anos, foi sim algo que me trouxe alegria genuína, isso é claro, depois de descobrir quem ela era. Nosso primeiro contato foi meio conturbado, devo admitir.

_  Amigos!? - A irônia na voz de Eva não me passa despercebida.

_ Sim, Amigos.

_ Você deve achar que eu sou idiota, não é André....

_ Eva por favor, não começa.

_ Começar não, eu vou acabar.

_ O que quer dizer com isso. Você não vai cancelar nosso noivado mais uma vez por uma bobagem dessas, não é? - Pergunto realmente preocupado com essa possibilidade.

_ E entregar você de mão beijada para aquela, aquela...

_ Eva, muito cuidado com suas palavras. - Falo seriamente com ela e a vejo engulir seus sentimentos antes de continuar.

_ Como eu estava dizendo, eu não vou entregar você de mão beijada para aquelazinha. Não depois de todo o esforço que tive para fazer de você um noivo exemplar. - Suas palavras são frias e comedidas.

_ Noivo exemplar? - Pergunto, mesmo repensando se quero saber que tipo de absurdo passa pela cabeça da minha noiva.

_ Não se faça de desentendido, porque você é muitas coisas, mas bobo não é uma delas. Você não era ninguém antes de me conhecer, não tinha o menor senso de moda. Não tinha auto-estima e nem se achava bom o suficiente para ser promovido a Tenente. Você nem mesmo tentava. Se não fosse por mim, você ainda estaria como policial de rua até hoje. Eu fiz você. Se você é mais do que o filho mais novo mal sucedido dos Nogueira, é por minha causa. Você me deve André, e pode ter certeza que eu vou cobrar.

_ Você realmente acredita nisso? - Pergunto ainda desacreditado com suas palavras. - Acredita mesmo que eu só mudei por sua causa?

_ Eu não quero você perto daquela garota de novo, e principalmente não quero voltar a ver cenas como a de hoje nunca mais. - Seu olhar é cortante em minha direção. - O baile beneficente dos Hokifords começa às 21:00h, não se atrase.

TentaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora