32. Conversa

135 34 4
                                    

_ Então é isso meus amores, repassem a coreografia durante a semana e tentem focar em aperfeiçoar seus pontos fracos para a próxima aula. Vocês foram muito bem. - Sorrio para os meus alunos e fico feliz ao receber o sorriso deles de volta. - Por hoje, estão dispensados.

Observo enquanto eles se vão e devo admitir que me sinto realizada aqui.

_ Você parece feliz. - Meu irmão fala ao meu lado e eu estava tão longe em meus pensamentos que nem percebi ele chegando.

_ Eu amo dançar San, e nesses meses eu acabei percebendo que amo ensinar também. Ver a felicidade deles por conseguir fazer um passo complicado, ou simplesmente por aprender algo novo é uma grande satisfação. - Conto a ele, enquanto me sento no chão de madeira e o vejo fazer o mesmo.

_ Então por que não abre uma escola, tenho certeza que nossos pais te apoiariam.

_ Eu sei que sim, mas eu ainda não me sinto pronta para tamanha responsabilidade. Eu estou feliz trabalhando como voluntária aqui em tempo integral.

_ Nossos pais me contaram sobre sua decisão de sair da companhia. Mas o que me deixou surpreso, foi você não ter me contado. - Ele fala.

_ Sinceramente, eu queria fugir dessa conversa o máximo possível.

_ Entrar para Golden sneakers sempre foi seu sonho, sabemos o quanto você lutou para conquistar seu lugar. Nós só estamos preocupados com você Isa e com o quanto abrir mão desta parte da sua vida pode te custar.

_ Você está certo, eu lutei muito para chegar onde cheguei. Conheci lugares e pessoas que jamais pensei conhecer mesmo sendo quem somos, mas eu também perdi muito Sam. Eu não vi nossos irmãos crescerem, eu me distanciei dos nossos pais, abandonei meus amigos e em determinado momento, eu me perdi de mim mesma. - Falo me lembrar do momento mais sombrio e solitário que já vivi, momento que nem mesmo minha situação atual pode superar. - Sair da companhia foi uma das decisões mais difíceis que já tomei na vida, porém não me arrependo nem por um segundo.

_ Mas não é só isso... Ou é? - Ele me pergunta e nem me assusta mais o fato dele me conhecer tão bem.

_ Sam, eu... - Hesito em falar, exatamente como tenho feito a meses, e toda essa pressão emocional mareja os meus olhos.

_ Você não precisa me contar, se ainda não se sente pronta Isa. - Meu irmão me corta, segurado minhas mãos. - Mas eu quero que saiba que sempre pode contar comigo para o que precisar. Eu sempre vou estar aqui por você.

_ Eu sei que sim, e sou eternamente grata por isso. Não sei o que seria de mim sem você Sam. Não conta para os meninos, mas você é o meu irmão favorito. - Faço graça e ele gargalha e em seguida me dá um abraço apertado, mesmo ainda estando "sentados" no chão. (No caso ele, me puxou em sua direção e agora eu estou de joelhos.)

_ Você é o que eu tenho de mais precioso nessa vida, minha menina. - Ele me diz ainda me abraçando e eu não consigo conter as lágrimas. - Só me prometa, que o que quer que tenha acontecido, seja por sua culpa, ou de outra pessoa, você não irá se punir por isso.

_ San eu não.... - Começo a falar em meio as lágrimas, mas ele me corta e pela primeira vez eu realmente me pego pensando sobre isso. Será que eu estou realmente me punindo por ter sido violentada??

E não deveria estar? Se a culpa não é sua por ser tão ingênua, de quem é? - Ela voltou, depois de dias em completo silêncio, a maldita voz voltou.

_ Eu conheço você pequena, - Meu irmão fala, me soltando de seu abraço e secando minhas lágrimas. - Eu sei que há muitas coisas aqui dentro. - Ele fala dando leves batidinhas em minha cabeça. - Não dê ouvidos a elas.

TentaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora