31. Um dia Feliz

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Acordo com a ânsia de vômito tentando me sufocar e corro para o banheiro para colocar o sorvete clandestino que comi de madrugada para fora do meu corpo.

Assim que minha tortura matinal termina, eu me arrasto até a pia, onde a figura sombria, com olheiras fundas por mais uma noite em claro, cabelos revoltos e cara de sono me encara de volta nada feliz.

Ainda é difícil encarar minha própria imagem no espelho, principalmente agora que a marca roxa em volta do meu pescoço, onde Cristian pressionou meu colar contra minha pele, me parece a cada dia mais evidente, mais real, e um lembrete constante do meu mais novo problema.

Toco em meu ventre, agora já bem evidente, ao menos para mim, e mais uma vez me pego pensando no que fazer, assim como fiz durante toda essa semana. Sei que preciso tomar uma decisão, sei que meu tempo está se esgotando, mas é tão difícil. Eu não consigo parar de pensar que está em minhas mãos decidir sobre a vida ou a morte de um ser vivo inocente e totalmente alheio aos meus traumas e medos. Ele não tem culpa.... Eu não tenho culpa.

_ Você precisa parar de se vitimizar. - Falo para mim mesma decidida a não me deixar abater pela melancolia. - Você passou por uma situação difícil, está vivendo em seu inferno pessoal, mas nem por isso precisa sofrer eternamente. Levante a cabeça, ponha um sorriso nesse rosto e seja forte.

Respiro fundo, e forço um sorriso e sigo para o chuveiro, decidida a não me deixar abater.

Tomo um banho quente, lavo e hidrato meu cabelo e em seguida dedico um tempo para cuidar de mim. Hidrato todo o meu corpo, desembaraço e finalizo meus cabelos, os deixando soltos para que sequem naturalmente. Passo uma maquiagem leve no rosto, me dedicando principalmente a cobrir as olheiras e a marca roxa esverdeada ao redor do meu pescoço. Visto uma legue preta, com uma camisa mais larga xadrez por cima, calço uma rasteirinha e depois de me sentir satisfeita com o resultado, eu finalmente me sinto pronta para encontrar toda a minha família.

Pego meu celular, que está em minha cama e assim que abro a tela, um sorriso genuino se espalha pelo meu rosto ao ver as duas ultimas mensagens de André.

"Você já dormiu?"
"Boa noite Isa. Espero que tenha bons sonhos."

Eu dormi enquanto conversávamos, provavelmente exalta pelo dia corrido e pelas preocupações. É uma pena que meu sono não dure muito.

Nós temos conversado com frequência essa semana, e apesar de saber que toda essa atenção que estou recebendo dele é apenas preocupação pelo meu estado emocional depois do meu quase suicídio acidental. Eu fico feliz por te-lo em minha vida, principalmente sabendo que a vida dele também não está nada fácil. Mel me contou que a noiva dele cortou os próprios pulsos em seu apartamento.

Saio do quarto, sigo pelo corredor e assim que desço as escadas,  já posso ouvir as vozes animadas vindas do lado de fora onde eu encontro meus pais e ....

_ San, Lili, o que fazem aqui?- Abraço meu irmão e a minha cunhada/tia sorrindo e sou recebida calorosamente pelos dois. - Quando chegaram?

_ Nós pousamos a cerca de uma hora. - Lili fala voltando a se sentar na espreguiçadeira em que estava antes e eu me sento na outra ao lado dela.

_ O técnico me ligou, parece que um dos novatos entrou em uma briga e está debilitado, isso quer dizer que eu terei que dar uma pausa em minha férias pelas próximas duas semanas.

_ E como eu também estou de férias, não vi motivos para não acompanhar meu namorado. - Lili fala, dando um selinho em meu irmão e eu faço uma careta de nojo, o que é motivo de riso para os dois.

_ E como está o hospital? - Pergunto. - Eu nem sabia que administradores chefe tiravam férias. - Implico, porque eu sei o quanto Lili é apaixonada por seu trabalho e principalmente por ajudar as pessoas.

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