Tentação

3. A Casa Cinza

_ E aonde vamos? - Pergunto assim que minha mãe sai com o carro da garagem.

_ Eu fui convidada para dar aulas de culinária e você será minha ajudante hoje. - Ela fala e eu paro de procurar uma música em meu celular, para olhar para ela.

_ Eu?! Ajudante de cozinha? - Pergunto só para ter certeza de que ouvi corretamente.

_ Exatamente.

_ Você sabe que eu não sei ferver nem água, não é? - Pergunto ainda incrédula e a vejo gargalhar, provavelmente se lembrando de algumas das minha "aventuras" na cozinha.

_ Essa será uma aula simples. Talvez você aprenda alguma coisa no processo. - Ela fala sorrindo, mas sua atenção está totalmente focada na estrada.

_ Mãe eu já queimei pipoca de microondas. Sabe o quão fácil teria que ser essa aula para que eu aprenda algo? - Pergunto retóricamente e mais uma vez ela está gargalhando as minhas custas.

_ É, os bombeiros vieram bem rápido aquele dia. - Ela fala tentando conter o riso ao lembrar do dia em que eu não só coloquei fogo no microondas, como consegui inundar a cozinha e quase causei um curto circuito em toda a rede elétrica da casa.

_ Aquilo não foi nada legal.

_ Vai ser divertido.... Ao menos para mim.

🍎🍎🍎

Estou distraída pela música baixa e pela paisagem verde lá fora, quando minha mãe diminuir a velocidade do carro e assim que olho para frente e vejo onde estamos, um calafrio passa por minha espinha.

_ Mãe, o que fazemos aqui? - Pergunto quando a vejo parar o carro no acostamento, um pouco antes do trilho do trem.

_ Eu só preciso esticar um pouco as pernas.

Observo pasma, enquanto minha mãe sai do carro e começa a alongar as costas antes de andar até a catraca que nos afasta do trem de carga que passa rapidamente por nós. Vejo ela se debruçar por sobre a placa amarela e preta e respirar bem fundo o ar tranquilo do dia e só quando o último vagão do trem se vai é que ela volta calmamente para o carro.

Sem dizer uma só palavra, minha mãe liga a ignição e nós seguimos viagem em completo silêncio, apenas ouvindo a voz suave de Mandy Moore em "Only Hope" e perdida em meu pensamento eu me pergunto, o quanto ela sabe daquela noite e por quanto tempo mais eu conseguirei fingir que nada aconteceu.

"Tudo irá se resolver" - As palavras de um certo tenente me vem a mente mais uma vez e eu me pego rezando para que ele esteja certo.

🍎🍎🍎

O carro entra em um portão de ferro enorme e segue por uma vasta dimensão de verde até uma mansão, que em uma palavra, eu descreveria como Incrível.

A parte externa que se estende por muitos metros tem aquele ar clássico de casa americana em tons de cinza e branco que se contrastam com todo o verde a sua volta, e eu me pergunto quem mora aqui.

Minha mãe para o carro e eu posso ver vários jovens e crianças passarem por nós e seguirem pela calçada de pedras até sumir de vista.

_ Você chegou. - Vejo uma senhora muito elegante sair da "casa" e seguir até minha mãe sorrindo. Olhando para ela, eu tenho a sensação de que a conheço de algum lugar, mas onde.

_ Angel, que bom vê-la novamente. - Minha mãe abraça a mulher calorosamente. - Lembra da minha filha Isadora?

_ Minha nossa, como você cresceu. - A mulher me abraça repentinamente e eu fico em estado de choque até que ela me solte. - Você não deve se lembrar de mim, também como poderia, da última vez que nos vimos você devia ter uns seis anos. - Ela sorri mais uma vez. - Mas agora você já é uma mulher, e como está linda.