Selvático

Vinte e oito

Alana

De vez em quando um peixe vinha até a superfície e fazia algumas bolhas. E eu xingava os coitados por me darem falsas esperanças. Tinha que continuar tentando, mas não sei se conseguiria depois do que houve. Fico na beirada e coloco um pé na água.

Ai droga. Era gelada. Era escura. Eu podia me afogar.

Desisto.

- Por favor sai daí... Por favor... - choramingo novamente.

Killian já estava embaixo d'água há horas. Vamos lá... Eu consigo.

- Eu consigo - digo pra mim mesma enquanto fechava os olhos.

Não era tão difícil. Killian fazia isso o tempo todo. Eu não devia ter tanto medo assim da água.

- Eu consigo... - repito baixinho uma última vez.

- Não precisa fazer isso.

Abro os olhos na mesma hora. Não tenho reação para responder de imediato.Ele estava parado bem ao meu lado e eu nem havia escutado ele chegar. Vestia roupas escuras, os cabelos curtos bagunçados que o deixavam ainda mais bonito, a fraca luz do poste há alguns metros marcava seu rosto delineado. Killian também tinha uma mochila nas costas. Já devia ser tarde... Até onde eu sei ele não tem aula esse horário.

- Você não estava... - aponto tristonha para o lago. Ele não estava lá? Como de repente foi parar ali?

- Eu saí depois que você foi embora - ele admite.

- Você não queria me ver. - eu finalmente entendo.

- Desculpe - ele diz simplesmente.

O clima era estranho. Queria tanto abraça-lo somente pelo fato dele estar aqui e bem. Mas não sei se devo... Talvez ele não quisesse.

- Você vai embora? - pergunto sentindo os olhos marejados. Minha voz já estava alterada.

- Não - ele se aproxima alguns passos. Estávamos cara a cara.

- Vai me rejeitar?

- É claro que não - Killian parecia ofendido com a pergunta, mas era eu quem devia estar. Por que ele havia feito aquilo?

- Eu fiquei horas te esperando... - mal termino de falar, inesperadamente ele me interrompe com um abraço.

- Me desculpa... - ele me aperta forte sinto um beijo no topo da cabeça.

Lágrimas escorrem pelo meu rosto como uma cachoeira incontrolável. Era impossível não ficar confusa. Minutos atrás eu estava falando sozinha, implorando pra que ele saísse da água e falasse comigo. Agora que ele está aqui eu não sei o que dizer. Demoro um pouco, mas retribuo o abraço. Ele é tão grande que meus braços demoram um pouco para se encontrarem.

- Você ao menos pensou na possibilidade? - tinha que saber.

Ele desfaz o abraço com cuidado e olha nos meus olhos.

- Eu estava indo embora, eu só trouxe problemas pra você. Por mais difícil que seja admitir, você merecia um companheiro melhor, um que não pensasse em te abandonar depois do que você passou. - Killian diz.